Nos últimos 50 anos, os ambientes de trabalho nas grandes empresas tornaram-se lugares muito mais interessantes, criativos, abertos. Entretanto, uma boa parte dos profissionais odeia seu emprego. Quem tiver curiosidade de digitar “Meu emprego é” na busca do Google, vai perceber que os resultados que aparecem são “um saco”, "uma droga" e assim por diante.
Em uma coluna para o Financial Times, Lucy Kellaway obteve respostas como “muito chato” e “me faz sentir infeliz”. Ela tentou então “Meu chefe” e aí vieram respostas como “preguiçoso”, "está fazendo bullying comigo” ou, como Lucy notou, “uma vaca” (seu favorito, disse). Em português, o resultado não foge muito disso: "me ignora", “não gosta de mim”, “é um idiota” etc. Até mesmo ao digitar “Meu emprego me estimula”, a ferramenta do Google “pensa” que o usuário cometeu um erro e oferece em resposta “Meu emprego não me estimula”.
A maioria das pesquisas aponta que, embora os ambientes de trabalho tenham evoluído bastante e os locais de trabalho tenham passado por uma revolução, menos de um terço dos profissionais realmente se importa com seus empregos. E só está piorando. No Reino Unido, a indicação é que as pessoas hoje gostam menos de seus empregos do que nos anos 1960.
Ao relembrar seu início de carreira nos anos 1980, Lucy Kellaway diz que no centro financeiro britânico, bullying era algo normal. A maioria dos cargos altos era ocupada por homens em terno risca-de-giz, muitos deles sem ideia do que deveriam fazer. As promoções, em muitos casos, estavam ligadas a quem jogava golfe com a chefia ou grandes empresários. Os escritórios eram locais pouco confortáveis e sujos. Cadeiras ergonômicas? Nem pensar. Sem falar que fumar era permitido no escritório.
Hoje em dia, os escritórios são bem iluminados, alguns desenhados por nomes importantes da arquitetura. Algumas empresas permitem que os funcionários trabalhem de casa. A maioria dos chefes não grita mais com as pessoas. Em muitas companhias, há espaços para convivência, comida grátis e academias de esportes.
Ainda assim, ela levanta a questão: por que nos sentimos tão infelizes no trabalho?
A resposta mais óbvia estaria ligada a ter um chefe ruim. Mas esse não é o caso para todos os lugares. Com MBAs, coaching e treinamento, há profissionais muito qualificados.
A maior razão, segundo Lucy Kellaway, é que os profissionais passaram a esperar demais das empresas e de seus empregos. Aqueles com diploma universitário ou com uma formação superior tendem a gostar menos de seus empregos. E com mais diplomas na área, mas gente se sente infeliz.
E as empresas? Diante dessa insatisfação, elas insistem que é essencial que seus funcionários sejam felizes. As companhias alardeiam seus valores, tentam mostrar que estão mudando o mundo e exigem comprometimento com suas causas e paixão. Tudo em nome de fazer algo que tenha um significado.
O resultado, diz a jornalista, não é felicidade. De acordo com uma pesquisa recente da Universidade de Sussex, quando esse tipo de ação não é bem orientado, o resultado é um contingente ainda maior de gente insatisfeita e desencantada.
A obsessão corporativa com a felicidade é parte da razão que leva à infelicidade, diz. Quando todos ao seu redor afirmam que são apaixonados pelo que fazem ou tentam encontrar um significado para o que fazem, ou mesmo quando seu chefe diz que você precisa amar o que faz, é natural concluir que seu emprego está te deixando infeliz ou mesmo que “seu chefe é um idiota”.
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