“Querida Anne, você não acreditaria que até nas escolas existe preconceito, mas ele vem disfarçado, e o seu nome é diferente. Não é racismo, ele se chama bullying. O pior, Anne, é que já existem leis para se combater tanta crueldade. Mas não existe lei que possa colocar amor dentro do ser humano”. Com 13 anos de idade, Lívia Fernanda Mendes escreveu essa carta para a menina judia Anne Frank, que, também aos 13 anos, começou a escrever um diário enquanto esteve escondida por um ano num anexo secreto de um edifício comercial, em Amsterdã, na Holanda, para fugir da perseguição nazista, na década de 40.
O simbolismo da carta está apenas na figura de Anne, mas a intensidade das palavras traz à tona problemas reais que as escolas precisam superar. Do total de excluídos do ensino médio, a maioria é negra, que também é a população mais afetada pela repetência e pelo abandono. A diversidade de alunos, a violência, a discriminação e o bullying são o cenário do terceiro dia da série “Desafios para uma Nova Escola” que O TEMPO traz nesta semana.
“Aconteceu comigo”
A carta de Lívia Mendes, que hoje tem 15 anos, fez parte de um projeto de Cultura de Paz na escola e foi vencedora de um concurso nacional de redação. Como prêmio, ela, a mãe e o professor Eduardo Ezequiel viajaram à Holanda para conhecer a casa de Anne Frank. “Foi a primeira vez que pude ficar sozinha com minha mãe, porque tenho cinco irmãos”, contou Lívia. A parte triste dessa história que deveria ter um final feliz foi que Lívia também foi alvo de bullying entre os colegas mesmo depois de escrever uma carta contra isso. “As pessoas me julgaram e o que escrevi acabou fazendo ainda mais sentido”, conta a estudante. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), de 2012, revelam que 7,2% dos estudantes entrevistados sofriam bullying dos colegas, que afirmaram ter se sentido humilhados por provocações “sempre” ou “quase sempre”.
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