Os efeitos a longo prazo numa criança alvo de intimidação ou violência física por parte dos colegas são piores que os que são provocados pelos maus-tratos por adultos, revela um estudo científico realizado no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Os resultados da investigação, publicados esta semana na revista científica Lancet Psychiatry, sublinham a necessidade de o bullying ser encarado de forma mais séria, como um problema de saúde pública.
"Ser vítima de bullying provoca efeitos semelhantes - e por vezes piores - aos que são infligidos por adultos na saúde mental de jovens adultos", escrevem os autores do estudo.
Investigações anteriores têm revelado que as crianças que são maltratadas por adultos ou são alvo de violência por parte dos colegas de escola têm altas taxas de depressão, ansiedade e tendências suicidas, entre outros problemas. Assim, ambas as situações de violência são más, mas estes investigadores quiseram ir mais longe e perceber qual delas é pior.
Analisaram os dados de dois grandes estudos feitos a longo prazo com milhares de crianças, britânicas e norte-americanas, ambos com informação sobre maus-tratos a crianças tanto por adultos como na escola, bem como informação sobre a saúde mental dessas crianças já adolescentes ou adultas.
Entre as 4026 crianças que participaram no estudo Avon Longitudinal Study of Parents and Children no Reino Unido, 8% tinham sido vítimas de abuso por adultos, 30% de bullying e 7% tinham sido expostos a ambos os tipos de violência.
Entre as 1273 crianças que participaram no estudo Great Smoky Mountains Study na Carolina do Norte, EUA, 15% tinham sido vítimas de abuso por adultos, 16% de bullying e 10% tinham sido vítimas de ambas as formas de violência.
As crianças de ambos os países tinham desenvolvido problemas de saúde mental por terem sido vítimas de bullying, numa percentagem maior que as que tinham sido maltratadas por adultos.
As crianças britânicas alvo de bullying tinham 70% mais probabilidades de sofrer de depressão ou de praticar algum tipo de violência sobre si próprias do que as crianças vítimas de abusos por adultos. As norte-americanas tinham cinco vezes maiores probabilidades de desenvolverem ansiedade se tivessem sido agredidas na escola do que por adultos.
Os investigadores descobriram ainda que em ambos os grupos de crianças, cerca de 40% que tinham sido maltratadas por adultos eram também vítimas de agressões pelos colegas. As razões para que tal aconteça não são muito claras, confessam os autores do estudo, embora o mais provável seja que um historial de abusos torna muito mais difícil para a criança regular as suas emoções "o que as pode tornar mais susceptíveis a ser alvo de bullying", explicam.
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