segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ex-vítima cria cartilha de combate ao bullying

Mariana enfrentou apelidos e rejeição por causa da fissura no lábio e agora tenta conscientizar professores sobre situação

Cristina Camargo
Agência BOM DIA

Na infância, a professora Mariana de Oliveira Picelli, 22, viveu anos de sofrimento. Ela nasceu com fissura no lábio, abertura bilateral e no palato. Precisou se adaptar aos olhares curiosos e enfrentar os apelidos.

“Quando entrei na escola tinha poucos amigos, poucas crianças se aproximavam. Quando isso acontecia era para me apelidar de nariz amassado, nariz de porco, boca torta”.

Mariana, que faz tratamento no Centrinho-Bauru desde os 13 dias, cresceu, virou moça bonita e decidiu contribuir para o combate ao bullying. No último ano de pedagogia, na Unesp de Rio Claro, elabora material de orientação.

A ideia é criar uma cartilha para profissionais da educação e ajudar na integração e aprendizagem de alunos com a deformidade facial.

A jovem professora é uma das educadoras brasileiras que se esforça para combater uma prática que sempre existiu, mas só recentemente ganhou nome e programas de conscientização e prevenção.

Mariana teve o apoio dos pais, que não se calaram.

“Consegui superar os apelidos e provocações, me aceitar como sou”, diz. “Mas até há pouco tempo sorrir era um sofrimento, olhar nos olhos de qualquer pessoa não conseguia, para falar com alguém desconhecido só com as mãos tapando a boca”.

Ela conta que a vergonha veio desde os momentos complicados na escola.

“Através da minha face 'anormal', era julgada com conceitos errados do que realmente sou”.

O bullying pode causar problemas sérios a suas vítimas, que variam de acordo com as características individuais dos atingidos.

A psicóloga Marlene Menconi, que trabalha no Centrinho, afirma que a prática pode alterar a autoestima. Gera agressividade ou retraimento. Tem crianças que começam até a recusar a ida à escola.

Por isso iniciativas como a de Mariana são bem vindas. Especialistas pregam que as escolas trabalhem a aceitação de todos no grupo, o respeito dentro e fora da sala de aula.

“Cabe a escola transmitir isso. Conhecimento não é só português e matemática”, defende a psicóloga.

Além da força dos pais, o namorado ajuda bastante Mariana.

“Ele me aceita do jeito que sou, sem se preocupar com os outros”.

Pastoral católica dissemina a cultura pela paz
A prevenção é apontada pela pesquisadora Cleo Fante como melhor forma para reduzir a violência entre estudantes. Pioneira no estudo do bullying escolar, ela criou o programa “Educar para a Paz”, conjunto de estratégias psicopedagógicas baseadas em princípios de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças.

O combate aos insultos mobiliza um grupo de católicos de Bauru, ligados à Pastoral da Educação.

No final de junho, o grupo escolheu o tema “bullying ou educação para a paz” para uma manhã de reflexão na escola Guia Lopes, na Vila Dutra.

Alunos do sexto ano do ensino fundamental, do ensino médio e do grêmio foram divididos para assistir uma apresentação, refletir e participar de dinâmica.

Rosimeire de Freitas Roveda, coordenadora da Pastoral da Educação, afirma que os alunos interagiram e mostraram que o tema desperta interesse.

O grupo está disponível para promover a reflexão em outras escolas, desde que seja procurado para agendamento. O trabalho é ecumênico e interreligioso. “Se houver a participação da família haverá uma conscientização maior e as chances de ocorrer o bullying será menor”, diz Rosimeire.


Escolas não devem ignorar o problema
A palavra bullying vem do inglês bully - valentão, brigão. Segundo a definição da pesquisadora Cleo Fante, o bullying escolar ocorre quando um estudante (ou mais) elege como alvo outro (ou outros) e pratica maus-tratos repetitivos e sem defesa.

As perseguições no ambiente escolar não são novidade, mas somente a partir da década de 1970 começaram a ser estudadas como fenômeno.

No Brasil os estudos são ainda mais recentes. Prova disso é que a palavra sequer tem tradução.

Especialistas pedem que as escolas não ignorem o problema e não adotem a postura de fingir que a prática não existe.

O ideal é que medidas de combate sejam incluídas nos projetos pedagógicos das escolas.

Fonte: Rede Bom Dia


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