quarta-feira, 7 de julho de 2010

A ameaça do bullying na escola

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Há duas semanas uma professora de uma escola de Brasília foi presa acusada de amarrar e amordaçar um estudante hiperativo de 5 anos para “acalmá-lo”. Em março, um caso semelhante ocorreu em Curitiba, mas não ganhou as páginas dos jornais. Um garoto adotado aos 6 anos foi diagnosticado como hiperativo aos 12 e por isso ele se cansa de ficar em sala de aula durante muito tempo. Na ocasião, começou a dizer à mãe que não queria ir mais para a escola. Quando ela conseguia convencê-lo, o menino chegava atrasado. Um dia a professora o levou para a direção devido ao atraso. Ameaçaram chamar o Conselho Tutelar e disseram que eles iriam tirá-lo da mãe dele. Ele ficou apavorado com a iminente ameaça. “Meu filho foi adotado aos 6 anos, antes disso, viveu em abrigos, sabe muito bem como funciona o Conselho Tutelar. Foi uma ameaça muito pesada”, conta a mãe. Depois de sofrer bullying (intimidação em inglês), o aluno se recusou a voltar à escola. Hoje ele estuda em outra instituição e recebe assistência psicológica.

Ambas histórias retratam um novo tipo de bullying, o dos professores em relação aos estudantes “problemáticos”, que sofrem de algum tipo de distúrbio. “O aluno com hiperatividade, por exemplo, é colocado dentro da sala de aula, começa a tumultuar e o professor não sabe como lidar. Ele não está capacitado para conduzir essa situação e acaba entrando numa competição para medir forças”, explica a psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto.

Segundo ela, tanto o aluno como o professor são vítimas dessa situação. “Na escola pública o aluno não valoriza o professor. Chegamos ao ponto de que é necessário, muitas vezes, ter a interferência mesmo do Conselho Tutelar e da Ronda (polícia escolar).”

O psiquiatra Bruno Mendonça Coêlho afirma que muitos professores têm dificuldade em identificar crianças com distúrbios e isso acontece, principalmente, pelo excesso de alunos em sala de aula e pela falta de formação do professor. “Além da dificuldade em identificar uma criança com problema, existe o preconceito dos próprios pais, que se negam a aceitar que seu filho tem uma doença”, explica Coelho.

E os casos não são poucos. Segundo o psiquiatra, cerca de 40% das crianças que buscam tratamento são diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). “A dica é ficar atento a qualquer mudança no comportamento das crianças, o que pode indicar que existe algum problema”.

A professora Maria Lúcia Pinto Benites Chaves ministra aulas em uma escola municipal de Pompeia, interior de São Paulo, e sabe muito bem o que é viver essa situação. “Tenho um aluno de 8 anos de idade hiperativo e extremamente agressivo. Ele agride verbalmente tanto eu como os colegas. Fico de mãos atadas, sem saber o que fazer. Não estamos preparados para lidar com uma situação como essa”, conta Maria Lúcia.

A professora afirma que nunca revidou as grosserias do aluno e que sempre tenta tratá-lo com carinho, o que não adianta, já que ele não permite a aproximação. “O ideal seria desenvolver um trabalho individual com essa criança. Gostaria muito de poder voltar a estudar e saber lidar com essa situação, mas por falta de recursos financeiros isso não é possível”, fala Maria Lúcia.

Uma situação completamente diferente acontece com a professora Karina Esteves, que dá aulas em uma escola particular de São Paulo. Na sala de aula, o número de alunos é reduzido o que acaba facilitando a identificação de algum aluno com distúrbios psicológicos. “A gente percebe quando existe algum problema e aí o seguinte passo é conversar com os pais dessa criança e solicitar apoio médico e da própria escola, o que sempre funcionou”, conta.

MEDIDAS – Em meio a esse turbilhão de emoções vividas por alunos e professores, medidas simples podem ajudar a resolver a situação durante as aulas. A psicóloga Rafaela Gualdi explica que a participação dos pais é fundamental. “Eles devem estimular a criança a contar como foi o seu dia na escola e buscar serem parceiros da instituição”. Para ela, o papel do professor também é de extrema importância, já que é ele quem passa boa parte do tempo com a criança. “Ele precisa buscar estreitar os laços com o aluno e respeitá-lo para ser respeitado, sempre com muito carinho”, diz.

O norte-americano especialista em prevenção e repressão ao bullying e autor do livro “Proteja seu filho do Bullying” (Editora BestSeller), Allan L. Beane concorda com a psicóloga. “Professores e todos os funcionários das escolas devem se basear na seguinte regra de ouro: tratem os outros da maneira como gostariam de ser tratados.”

Fonte: A Tribuna, Mato Grosso

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