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Professor Aloizio Pedersen passou a utilizar a arte para lidar com bullying Crédito: Arthur Puls / CP Memória |
A falta de punição às humilhações e agressões repetitivas e o medo fazem com que o bullying desafie a sociedade e que o seu combate passe por um caminho tortuoso e difícil. Como consequência, a maioria das vítimas segue escondida na escuridão criada pelo medo, sofrimento e pela vergonha. Essas marcas podem deixar sequelas permanentes na vida de quem sofre as agressões.
A principal dificuldade para o enfrentamento do bullying é a diferença entre a teoria e a realidade. E o assunto torna-se mais delicado e complexo nas escolas, onde essa violência tem maior incidência. Segundo Marcos Rolim, sociólogo e autor do livro "Bullying: O Pesadelo da Escola", para trazer à tona os casos de agressão é necessário atuar no anonimato e acompanhar o dia a dia da vida dos estudantes, estabelecendo relações de confiança.
O professor ressalta que muitas vítimas não expõem a situação por temor que a violência aumente, criando uma barreira. E explica que além de prejudicar o desempenho na escola, a agressão afeta a vida social e familiar. "O bullying, por vezes, se mantém porque a vítima não acredita que a violência vai acabar. Tem receio de contar a familiares e desapontá-los", afirma.
Uma forma de confirmar a presença do bullying nas escolas é o anonimato. Quando coletou os dados para o livro em uma escola pública na Capital, Marcos lembra que, no início, ninguém admitia as agressões e tudo o que ocorria era "normal". Quando começou a fazer o estudo anônimo, outra realidade se apresentou. "De repente, apareceram declarações e relatos surpreendentes e tristes", revela.
Ciente da dificuldade em abordar o tema com os alunos, o professor Aloizio Pedersen passou a utilizar a arte para lidar com esse assunto tão complexo em sala de aula. Assim, o projeto desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Padre Reus, na zona Sul de Porto Alegre, tem como foco desconstruir o valor e o poder da agressão. "O bullying ocorre porque a vítima é frágil e o agressor está acostumado - muitas vezes, também por sofrer violência - com o uso da força excessiva", diz o docente. E é neste contexto que a arte ajuda a expor a complexidade de sentimentos.
Os trabalhos em sala de aula e as encenações artísticas permitem ainda que os alunos possam vivenciar diferentes realidades, como simular uma situação de violência, se colocando no lugar da vítima e do agressor. Para o professor Aloizio, a escola deve assumir a responsabilidade de enfrentar o bullying, em especial, para tentar frear o sentimento crescente de violência que o agressor carrega consigo.
Violência virtual aumenta
Redes sociais e aparelhos tecnológicos têm sido utilizados, cada vez mais, como ferramentas de agressão. Denominado como cyberbullying ou bullying virtual, os ataques são feitos, basicamente, por meio da propagação de difamações na rede.
Com potencial bombástico e avassalador, rapidamente o material é disseminado, fazendo com que o sofrimento das vítimas seja ainda maior. Essas mesmas características fazem com que seja difícil a identificação dos reais responsáveis pela agressão. Normalmente, elas são feitas através de e-mail, postagens nas redes sociais e vídeos.
Agora engana-se quem pensa que esse tipo de violência fica restrita às escolas. Ao contrário, tem crescido no ambiente de trabalho. Recentemente, uma pesquisa da AVG Technologies, que atua na área de segurança de computadores, mostrou que aproximadamente 30% dos brasileiros acredita já ter sofrido algum tipo de cyberbullying no trabalho. Normalmente, as agressões visam difamar colegas.
A pesquisa também mostrou a preocupação com o efeito das mídias sociais em expor a privacidade dos funcionários. De acordo com o estudo, 58% dos entrevistados disseram que entrariam em contato com algum superior para informar o ocorrido.
Superação vira exemplo
O bullying provoca sequelas, muitas vezes permanentes, em suas vítimas. Elas variam muito em cada indivíduo, a partir da estrutura emocional e do grau das agressões. Em vários casos, as vítimas buscam caminhos próprios para lidar com a situação difícil. O estudante de Jornalismo Dieison Groff, de 26 anos, encontrou um destes rumos.
Morador de Humaitá, município no interior gaúcho, transformou o bullying em uma forma de auxiliar outros jovens a enfrentarem a violência. A triste fase começou quando ingressou no Ensino Médio. Segundo ele, porque não sabia jogar futebol, era chamado de "perna de pau", e também sofria por ter 'sotaque caipira'. Ao lembrar do passado, ele acredita que foi a força de vontade que o fez resistir.
Dieison escreveu dois livros infantis e faz palestras sobre o tema em escolas da região Noroeste do Estado. "As escolas não podem mais falar só sobre conteúdos, como Português e Matemática. É preciso trabalhar as relações interpessoais", alerta.
Fonte: Correio do Povo
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