quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Bullying - opinião

José Wilson Santos

zewilsonsantos@hotmail.com

O termo é novo, mas o bullying, expressão inglesa que define atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou mais, principalmente em escolas, é tão antigo quanto Severino de cócoras atrás da moita.

O Degas aqui, paraibano da gema, já sentiu o problema na pele, nos bons e velhos tempos da Escola Normal. Dono de dois itens corporais acima da média, um deles situado bem em cima do pescoço, fui, por algum tempo, alvo preferido de brincadeira de mau gosto por parte de um colega mauricinho.

O mané me pegou pra Cristo e virei cabeção. Era cabeção pra cá, cocão pra lá, com o coro de meia dúzia de puxa-sacos do mauricinho aumentando na exata medida da minha aporrinhação.

Quanto mais esperneava, mas o termo grudava em mim. O trem caminhava para o insuportável, quando resolvi que precisava fazer alguma coisa, de preferência inteligente.

Mirei o pé da orelha do cara várias vezes, mas como precisava de um banquinho para atingir a altura ideal para o murro, desisti. Melhor procurar uma fraqueza no mauricinho, para ir à forra usando a chatice dele.

E achei.

Abençoado financeiramente, o mané reunia nossas colegas na hora do recreio para pagar o lanche, fazenda a alegria de Seu Mário, o cantineiro. Mas o cara era igual Seu Caceta: pagava, mas não pegava ninguém.

Ao contrário do Degas aqui, que não só levava algumas minas pro cantinho do muro, como ainda meletava parte do lanchinho delas. Acho que era por isso que o mauricinho não ia com minha cara.

Achei que o caminho era por aí e fiquei na moita.

Quedou-se (affe Maria!) que num belo dia ele chegou com a novidade do boné:

— Zé, tô precisando comprar umas melancias na feira e não tenho como carregar. Cê me empresta o bonezinho?

A claque de meia dúzia de puxa-sacos bateu palminhas para a tirada, as minas ficaram meio sem graça e o Degas aqui aproveitou a deixa pra ir à forra:

— Chega mais, véio! — exclamei com uma alegria afetuosa, passando o braço carinhosamente sobre o ombro dele. Achei que você não viria à aula hoje. Mas é bom ver que já está agüentando sentar, depois de ontem à noite!

Pronto. Acertei o cara na veia. O tempo fechou com a insinuação de que ele tinha mordido a fronha. A mala bufou e os bombeiros entraram em cena, evitando o pega pra capar. Daquele dia em diante voltei a ser somente Zé.

E o mauricinho cuspia marimbondo sempre que alguém o chamava de ‘da fronha’.

Desmoralizar o oponente, no território dele, era, no meu tempo, a melhor maneira de escapar do bullying.

Porém, contudo e todavia, é bom lembrar que naquela época a educação de berço ainda funcionava. Por isso, não havia tantas crianças e jovens abestaiados como hoje em dia. Não formavam turma para espancar, nem dentro nem fora da escola; não esfaqueavam nem atiravam em ninguém. Era dificílimo pendengas acabarem em vias de fato. Mas, se resultassem, limitavam-se à troca de sopapos entre as partes e boas.

Por trás do bullying, via de regra tem alguém com tudo para ser bem sucedido. Normalmente é gente bonita, com boa situação financeira, mas com baixa autoestima. Gente que necessita de escada para chamar atenção, que busca se destacar à custa de defeitos e mazelas alheias.

Parafraseando Dadá Maravilha, diríamos que tem toda uma problemática lá atrás, a começar pelo quase abandono imposto às crias por pais e mães que trabalham. Daí para tentarem compensar dando tudo na mão e de mão beijada, é um pulo. E pronto, aperfeiçoamos mais um monstrinho para o mundo.

Falei e disse?

Fonte: Norte de Minas


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