Fonte: Dinheiro Vivo de Portugal
Na minha infância e adolescência fui vítima de bullying. O motivo: os meus sapatos. Nunca tive uns sapatos de marca. Sobrevivi às piadas sobre os meus sapatos baratos, comprados numa sapataria barata de Almada. Ultrapassei o problema de tal forma que ainda hoje só compro sapatos baratos.
Na infância ignorei. Se conseguia usar os vestidos de lã que a minha mãe fazia, conseguia tudo.
Mas aos 13 anos, adolescente e carente de aceitação entre as minhas amigas sempre mais giras e sempre vestidas com roupas de marca, pedi uns ténis caros aos meus pais.
O meu pai, que faria qualquer coisa pela sua menina, trouxe-me, no dia seguinte, uns ténis igualzinhos, comprados no Martim Moniz. Uma imitação, entenda-se. Eu só me consigo lembrar do sorriso enorme e raro do meu pai porque tinha encontrado aquilo que eu tinha pedido.
Calcei os meus novos ténis pretos com uma estrela com o mesmo orgulho com que teria calçado os originais, e com que sempre calcei os meus sapatos baratos comprados na Porticlasse, na Rua Bernardo Francisco da Costa.
Nunca mais pedi coisas de marcas. Na verdade nunca mais me passou pela cabeça comprar roupa ou calçado caro. Percebi que os meus pais, na roupa como no resto, compravam aquilo que seus rendimentos permitiam.
Desejo todos os dias em que os meus filhos nunca tenham vergonha dos sapatos que usam. Sem metáforas, desejo todos os dias que os meus filhos percebam que aquilo que somos passa por muitas coisas que não têm marcas, nem custam muito dinheiro.
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