DIÁRIO DA MANHÃ
DR. JOSÉ GERALDO RABELO
Poderíamos dizer que a violência humana não é nada senão reações do comportamento as frustrações do meio, que podem ser psicológicas ou sociais, bem como diversas heranças de uma sociedade em falência efetivada por diversos fatores, principalmente políticos. É a dificuldade adaptativa que pode tanto ser provocada por circunstâncias cognitivas de origens patológicas, como principalmente pelas condições sociais que o indivíduo se encontra, ou sofre! Desse modo as características da violência se manifestam oportunamente, isto é, a violência enquanto forma de adaptação/expressão positiva ou negativa, depende do ser-no-mundo para tomar parte do sujeito.
No livro Sermão da Montanha, Humberto Rohden nos fala que toda violência externa é fruto de um conflito interno entre o ego de nossa humana personalidade e o “eu” (self) de nossa divina espiritualidade e, com isso, as guerras entre famílias, povos e nações nada mais é do que a externalização desses conflitos; e acrescenta que, pouco irá adiantar tentar eliminar essas guerras externas antes de apaziguarmos esses conflitos internos.
O adolescente é vítima/ativa de uma postura social, onde apenas manifesta as consequências de uma política humana moderna em que os valores familiares e do próprio ser humano são cada vez mais conflituosos, distantes de conduzir ao humano a compreensão de “ser-no-mundo” e não “ser-para-o-mundo”.
Envolvido com numa mídia invasora da privacidade de todos nós, forçando de forma abrupta ao consumismo, ao modismo, ao liberalismo desenfreado – ao tudo-pode – dá e abre espaço às lacunas da personalidade em formação, para que a criança e o adolescente se portem diante do mundo sem limites, sem “medo”, sem barreiras; justamente rogando aos “adultos”: limites, barreiras e pedidos de socorro que vai desde uma enfermidade corriqueira a um estado de violência projetada na sociedade (noutros jovens) até contra si mesma (suicídio). Da alienação por uma felicidade atada ao poder do ter, poder, ser – para quem? E da erotização como fim último do prazer humano de forma tal, que é impensável desvincular a formação humana sem a educação do sexo-objeto (ou seria objeto-do-sexo?), estes que são ensinados nos manuais chamados TV & Cia, telenovelas, “bigs brother’s”, e todo esse “maquinário eletrônico” na mão de cada criança e cada jovem escravos da tecnologia onde, seres humanos vem se perdendo ao não contato físico do beijo no rosto, na mão, do abraço, do carinho, do olhar e, quando esses desejos são desviados e impedidos como desejos necessários ao crescimento psicológico e espiritual de cada um de nós; surgem os desejos primitivos herdados dos tempos das cavernas, nas brigas pela fêmea, pela comida (caça), pela caverna, etc.
Podemos observar que a violência entre os jovens não está contida somente naquele que a pratica ativamente na agressividade direta – violência física; mas também naqueles que embora não a promovam diretamente, agem de forma passiva através das vaias, dos gritos de: “bate-mais”, “isso-mesmo”, “faça-isso-por-mim”, “bem-feito”, “ela-merece” etc., portanto, alguns jovens são escolhidos para cumprir o que aqueles não conseguem externalizar ou praticar literalmente. Todos estão envolvidos e “tem sede de violência”, não importando quem apanha ou quem morre; quem bate ou mata, o importante é saciar o desejo contido na revolta consigo mesmo e com o mundo que o cerca. Pela falta de expectativa do amanhã, de amor a Deus e a si mesmo, embora muitos se dizem Cristãos e carregam um livro de capa preta debaixo do braço – pura hipocrisia – “falsos cristos e falsos profetas”.
“Certamente, se pegarmos como exemplo a Grécia antiga veremos que a fase do adolescente não se compunha dos caracteres que hoje se compõe e pelos quais enxergamos adolescência, (rebeldia, agressividade, liberalismo, conflitos, sexualismo, consumo de álcool e drogas), pois a juventude grega era sinônimo de aprendizado. Eram privilegiados os jovens que podiam estar ao lado de grandes mestres. Isto, porque sabiam os gregos que tal fase deve (era) ser marcada pela ânsia do jovem em se firmar enquanto agente potencializador de suas ideias, sendo por isso valorizado o virtuosismo, criativismo, o intelecto e o vigor dos “da puberdade”. Não é por menos que a Grécia tornou-se o berço da filosofia e da política e é modelo até os dias atuais”.
Assim, quando incentivamos a precocidade (veja texto mesmo autor: Precocidade e suas consequências), queimando etapas da infância ou saltando da infância para o “adulto” e, na fase em que se firma o virtuosismo, se incentiva o intelecto e busca-se conhecimento o adolescente obtém em troca a nossa nova realidade cultural, nada mais “natural” se produzir uma geração de jovens conflituosos: "cheios de vazios” para expressarem aquilo que não lhes é natural, enquanto seres humanos. Ao invés de incentivarmos a expressão de um auto-conhecimento, de valor e amor a si mesmo, observamos lamúrias de quem luta para ser “alguém”, ter posição econômica e social de destaque com as armas que dispõe, estamos criando jovens cheios de conflitos, com medo de viver e até mesmo de estarem vivos.
Percebo em meu consultório crianças e adolescentes (privilegiados por terem pais adultos que buscam ajuda profissional, enquanto outros, ainda acham isso besteira e é “jogar dinheiro fora”, “alimentando” seus filhos com presentes caros e todo tipo de “máquinas” eletrônicas) assustados e dizendo que tem medo do mundo e de se tornar adultas. Perguntamos: porque o medo de se tornar adultos? São crianças me pedindo socorro, atenção, carinho e, seu olhar me suplica: “Por favor me compreenda e não repreenda minha linguagem e minha dor: me mostre os limites” e me ensine a amar.
Com certeza o Pai da Psicanálise Freud viu isso e chamou de Instintos de Morte, não o poder de uma energia humana originalmente – de morte - mas a reação de uma única energia humana sendo canalizada por um conjunto de ações humanas que – e ai sim – caminham para morte (veja texto meu: sobre suicídio). Freud internalizou o prisma social que é capaz de transformar o humano em bem ou mal, quando este dispõe de capacidade compreensiva para só então executar tarefas com base em sua escolha (diferente de ações básicas de reflexos para manutenção à vida).
Todo o jovem é por natureza detentor de potencialidades boas e frutíferas. Ao tomar capacidade de firmá-las apenas necessita de um meio que lhe dê a direção e o exemplo correto para o desenvolvimento de tal potencialidade. Educação começa no lar. Diz o ‘colega’ - Içami Tiba - em seu livro: “Quem Ama: Educa”. Quando não recebe educação, carinho, atenção, limites e amor, “internaliza” as frustrações e necessidades básicas não recebidas, converte sua potencia em múltiplos efeitos, dentre eles a violência. Toda energia segue um curso e quando não bem canalizada vai para qualquer lugar ou qualquer direção, ou a que está mais na moda: “A violência” mostrada novamente nas TV & CIA (lutas corporais – MMA, UFC..., sem limites, chamadas de “esporte”). Portanto, se considerarmos que a violência assume formas diferentes em diferentes fases, podemos atribuir as mesmas características do adolescente aos adultos, pois de onde vem o – não suprimento – as necessidades do adolescente senão das frustrações do adulto em decorrência do modo como vive? É justo então afirmar que o adolescente é violento? Melhor e mais correto é dizer, com um algum pesar, que o ser humano se tornou violento.
(Dr. José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante, emails.: rabelojosegeraldo@yahoo.com.br e/ou rabelosterapeuta@hotmail.com)
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