“Baixinha”, “gorducha” e “dentuça”, esses são os adjetivos usados nos planos infalíveis do Cebolinha e Cascão como forma de afrontar a Mônica nas historinhas em quadrinhos que divertem gerações há mais de meio século. As famosas ‘coelhadas’, conhecidas no mundo todo, até hoje funcionam como forma de defesa para a personagem criada pelo cartunista Mauricio de Souza. Mas, quando crianças e adolescentes na vida real utilizam gestos e palavras com o objetivo de desestabilizar o emocional de seus colegas, apenas porque eles têm características físicas ou psicológicas diferentes das que são valorizadas por seu grupo social, o assunto deixa de ser engraçado, como os contados nos gibis, e passa a ser mote para pesquisas e debates na sociedade.
Um estudo feito nos Estados Unidos e publicado no início do mês pela revista “American Sociological Review” (ler quadro sobre o estudo) revelou que o perfil das vítimas de bullying nas escolas pode não ser tão homogêneo quanto se pensava, o estudo disse que, quanto maior a popularidade do adolescente, maior o risco dele se tornar o alvo desse tipo de comportamento. O risco de assédio e perseguições diminui somente entre aqueles que estão bem no topo da “pirâmide de popularidade” desenhada pelos pesquisadores: entre os 5% mais “pop”.
Segundo os autores desse estudo, pesquisas feitas anteriormente disseram que a pratica de agredir colegas é usada como instrumento de ascensão social e aumento de status. Os jovens mais vulneráveis são alvos fáceis para os colegas, pois oferecem poucos riscos aos que praticam bullying. Mas, na medida em que a agressão tem o objetivo de promover um aumento do status, mirar esses alvos fáceis não resultaria em grandes benefícios aos algozes. Nessa lógica, para ascender socialmente, seria preciso mirar alvos mais populares.
Os resultados da pesquisa mostram que garotos e garotas que estão na metade (50%) da hierarquia social da escola e sobem essa escada para 95% veem seu risco de ser vitimizados por seus colegas aumentar mais de 25%. Já aqueles que ficam no topo da hierarquia, acima dos 95%, têm menor risco de sofrer bullying. “Eles não precisam atormentar seus colegas em um esforço para subir na escada social – tática comumente usada entre aqueles que lutam por uma posição –, porque já estão no topo. Eles não são vitimizados porque estão fora de alcance e não têm rivais”, diz o principal autor do estudo, Robert Faris.
Mas, nas raras ocasiões em que os alunos superpopulares são vítimas de bullying, eles apresentam reações mais graves, como quadros acentuados de depressão, ansiedade e raiva. “Isso deve ser porque estudantes populares sentem que têm mais a perder, já que podem ter trabalhado duro para atingir sua posição social”, explica Faris. Outra possibilidade, segundo o autor, é que os alunos mais populares ficariam mais surpresos com o bullying que os demais, por isso reagiriam de forma mais intensa.
O que fazer para reduzir o bullying?
Em São Luís, de acordo com a psicóloga da escola Universidade Infantil Rivanda Berenice (UIRB), Roseana Freitas, independente do país ou região que a prática aconteça, as instituições educacionais devem dedicar atenção e recursos, ao longo do ano letivo, que minimizam as hierarquias de status social com atividades que promovam uma variedade entre os grupos de amizade. “O importante é combater o bullying com prevenção e reflexão, tanto que lançamos a proposta para nossos alunos confeccionarem uma cartilha sobre o tema e, dentro das ações que estamos promovendo, convidamos para uma palestra um Advogado, que é professor universitário e mestre em políticas publicas para explicar para mais de 150 alunos sobre as consequências graves que o bullying pode deixar na vida de um adulto”, concluiu a psicóloga.
Sobre a pesquisa
Com o objetivo de determinar o perfil das vítimas de bullying, pesquisadores das universidades da Califórnia em Davis e do Estado da Pensilvânia levaram em conta informações fornecidas por mais de 4.200 estudantes dos 8°, 9° e 10° anos do estado da Carolina do Norte. Os dados são provenientes do levantamento “Contexto do uso de substâncias por adolescentes”, que entrevistou adolescentes de 19 escolas públicas de três distritos diferentes do estado.
Para medir a popularidade dos jovens, cada participante informou o nome de seus cinco melhores amigos. Levando em conta o número de vezes que cada jovem foi citado por um de seus colegas, foi possível chegar a uma “escala de popularidade” de cada colégio.
Já para identificar quais dos jovens eram as vítimas mais frequentes de bullying, os pesquisadores pediram para cada estudante que citasse cinco colegas que implicavam com ele e cinco com quem eles implicassem.
Fonte: Jornal Pequeno
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