Grupo Salto Fino faz espetáculo morno e pouco aprofundado sobre bullying
Por Dib Carneiro Neto
Volta e meia me deparo com um espetáculo muito bem-intencionado, mas que ‘não chega lá’ como resultado final artístico satisfatório. Tudo é tentativa de acerto, mas não chega a ser realmente um acerto. Constatei isso na semana passada ao ver Pés Pequenos Contra Bullying, do Grupo Salto Fino (nome ótimo para uma companhia integrada só por mulheres).
Começo já implicando com o título. Não é bom, não é sonoro, não atrai, enfim, acho que não ficou atraente incluir a palavra bullying logo no nome da peça. Em seguida, lendo o material de divulgação, percebe-se que o grupo é batalhador, sério, fez muita pesquisa sobre o tema com psicólogos e educadores infantis e ‘testou’ o espetáculo em mais de 20 casas de acolhimento, em regiões “de vulnerabilidade social” de São Paulo. Como não aplaudir essas iniciativas? É realmente fundamental levar teatro a quem não tem acesso fácil a ele, a quem precisa de ajuda para aprender a se aceitar como é.
Começo já implicando com o título. Não é bom, não é sonoro, não atrai, enfim, acho que não ficou atraente incluir a palavra bullying logo no nome da peça. Em seguida, lendo o material de divulgação, percebe-se que o grupo é batalhador, sério, fez muita pesquisa sobre o tema com psicólogos e educadores infantis e ‘testou’ o espetáculo em mais de 20 casas de acolhimento, em regiões “de vulnerabilidade social” de São Paulo. Como não aplaudir essas iniciativas? É realmente fundamental levar teatro a quem não tem acesso fácil a ele, a quem precisa de ajuda para aprender a se aceitar como é.
Mas como resultado artístico a questão fica mais complexa. Não basta, por exemplo, chamar uma premiada equipe de bonequeiros e aderecistas (Sidnei Caria e sua cia. Maracujá Laboratório de Artes) e encher o palco de lindos bonecos mal aproveitados. Cito uma passagem que ilustra essa deficiência do grupo em contracenar com os bonecos: Olegário, personagem que é o tempo todo apresentado como “um menino paraplégico que é muito rápido” (ótima ideia para mostrar que o garoto venceu suas limitações), é justamente o boneco ‘esquecido’ no palco em uma cena de correria e perseguição. Boneco inerte é boneco morto. O erro é primário.
O espetáculo ganhou releitura para sair de dentro das instituições e passar para um palco com sessões abertas ao público. A impressão que fica é que, nessa ‘mexida’ para encarar o espaço convencional de apresentação, as diretoras (Daniela Stribulov e Melina Menghini) perderam a mão, o controle. Não há ritmo, a trama fica ralentada, sem surpresas. Culpa também da dramaturgia rasa (Melina Menghini), convencional, sem inovação, sem conflitos muito convincentes, sem nos fisgar pela emoção em nada.
Os personagens são diversos, mas mal desenvolvidos. Um certo maniqueísmo na solução do único conflito que se apresenta é simplista demais, além de reforçar o preconceito, em vez de combatê-lo: o garoto-vilão faz bullying com todos os colegas da escola (lar, internato) pelo fato de ter pai rico. Como assim? Para ter boa índole tem de nascer nas classes menos favorecidas? Menino rico é necessariamente cruel e mimado?
O trio de atrizes (Jessica Monte, Melina Menghini e Vanessa Rosseto) não empolga, não consegue demonstrar carisma, não tem cenas cativantes. Por causa disso, por exemplo, o personagem do pássaro Marlon Lu fica chato, cansativo, pesado. O recurso de cortar a ação para um programa de televisão é muito batido e, aqui, nada acrescenta. As cenas filmadas em vídeo com os bonecos não têm a menor criatividade, são mal executadas, quebram ainda mais o ritmo do espetáculo. Desnecessário. E, para complicar ainda mais, há trechos com lições de moral muito explícitas, muito ‘recitadas’ pelas atrizes. Se a dramaturgia fosse forte, o enredo menos linear, essas lições estariam já embutidas nas ações, sem necessidade de pregação.
Pena. Ficarei esperando o próximo espetáculo do Grupo Salto Fino – e que venha com maior amadurecimento. Menos intenções que não se cumprem e mais talento.
SERVIÇO
Local: Teatro Décio Almeida Prado. Endereço: Rua Cojuba, 45 - Itaim Bibi, São Paulo. Telefone: (11) 3079-3438. Capacidade: 186 pessoas. Duração: 50 minutos. Quando: Sábados e domingos, às 16h. Classificação etária: Livre. Ingressos: R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia). Temporada: De 5 a 27 de agosto de 2017.
Local: Teatro Décio Almeida Prado. Endereço: Rua Cojuba, 45 - Itaim Bibi, São Paulo. Telefone: (11) 3079-3438. Capacidade: 186 pessoas. Duração: 50 minutos. Quando: Sábados e domingos, às 16h. Classificação etária: Livre. Ingressos: R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia). Temporada: De 5 a 27 de agosto de 2017.
DIB CARNEIRO NETO é jornalista, dramaturgo (Prêmio Shell 2008 por Salmo 91), crítico de teatro infantil e autor dos livros Pecinha É a Vovozinha e Já Somos Grandes, entre outros. Escreva para ele: redacaocrescer@gmail.com ou acesse Pecinha É a Vovozinha.
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