LAURA COUTINHO
Criado para dar e e receber feedbacks anônimos e honestos, o app virou febre mundial
Se você circulou pelas redes sociais nos últimos dias já deve ter lido algo sobre o app Sarahah, se é que já não abriu uma conta por lá. O aplicativo do momento, cujo nome significa franqueza em árabe, foi criado por Zain al-Abidin Tawfiq, desenvolvedor da Arábia Saudita que acreditava que as pessoas podiam se comunicar de forma mais franca no local de trabalho. Sucesso em diversos países, o Sarahah ocupa aposição numero 1 da App Store no Brasil, Estados Unidos e outros países.
Funciona assim: o usuário cria uma conta no aplicativo ou no site, gerando assim um endereço como fulanodetal.Sarahah.com, que é divulgado pelo usuário nas suas redes sociais. Quem quiser deixar uma mensagem pode o fazer de forma anônima, sem deixar rastros (a não ser que deseje assinar a crítica ou o elogio). A interface é super simples e os recados são vistos apenas pelo donos da conta, mas sem possibilidade de resposta.
No site, o valor da ideia é justificado pela possibilidade de desenvolver seus pontos fracos através de feedbacks construtivos de colegas de trabalho ou permitir que seus amigos sejam sinceros sobre seus pontos fracos ou fortes.
É sintomático que em tempos de farta distribuição de elogios (muitos, aliás, soam falsos) via rede social, faça tanto sucesso um app onde a ideia é ser honesto e verdadeiro, desde que protegido pelo anonimato. Nesse ponto, o aplicativo poderia suprir uma falta de coragem e até mesmo abrandar a timidez ou aquele medo de que a relação azede depois de apontado aquele defeitinho ingrato na amiga ou no colega. A ilusão de proximidade que a internet gera também está incluida no estranho caldo que alavancou o "aplicativo honesto".
- No Brasil, não temos hábito de dizer às pessoas o que pensamos. Somos ensinados a agradar. Quando recebemos um feedback objetivo, muitas vezes levamos para o lado pessoal. Se conversando e trocando já é assim, imagina quando o recado é escrito e sem possibilidade de troca ou esclarecimento. Há ainda mais chance de falta de entendimento e, principalmente, de falta de comprometimento de quem está dando o feedback. É preciso empenho, reflexão e dedicação ao emitir um - avalia a psicóloga e coach Gladys Millena Prado.
- Quando realmente queremos um feedback devemos conversar. Às vezes nem precisa, basta observar a reação das pessoas para entender o que elas pensam. Feedback é uma ferramenta poderosa e um dos pilares do coach. Mas elaborar o fedback é complexo. É como tornar superficial algo muito complexo - pondera Gladys.
A ideia de interação anônima via aplicativo não é novidade. O Secret também permitia e foi descontinuado por ser considerado uma ferramenta que estimulava o bullying virtual.
Diante de nossa incapacidade de dar e receber feedbacks , somada à falta de comprometimento que o anonimato proporciona, o Sarahah deve ser mais uma febre momentânea sem vida longa.
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