Tinha 15 anos quando atacou colegas de escola com uma faca, em Massamá, Sintra. Depois de dois anos e meio num centro educativo e agora com 19 anos, este jovem, que planeou imitar o massacre de Columbine e que está a tentar refazer a vida no estrangeiro, assume que é “difícil” acreditar que poderá vir a “ser aceite na sociedade”.
Estas declarações do jovem identificado como Ricardo, um nome fictício, foram prestadas num depoimento escrito enviado ao jornal Público.
Numa série de reportagens sobre jovens problemáticos, o diário aborda, nesta segunda-feira, o caso do jovem de 15 anos que entrou com duas facas de cozinha, na Escola Secundária Stuart Carvalhais, em Massamá, no concelho de Sintra, ferindo dois colegas e uma auxiliar.
O caso aconteceu em Outubro de 2013, mais de dez anos depois do famoso massacre de Columbine, que ocorreu numa Escola Secundaria do Colorado, nos EUA, em 1999. Ricardo teria intenções de cometer na Escola de Massamá um ataque semelhante ao que foi feito pelos dois adolescentes norte-americanos que estão entre as 15 vítimas do incidente.
O caso surpreendeu os pais e a comunidade escolar porque Ricardo era um bom aluno e não estava envolvido em casos de violência. O advogado que acompanhou o caso, Pedro Proença, explica ao Público que o jovem era vítima de bullying, mas a escola diz não ter registo desse dado.
Após ter sido condenado por três crimes de homicídio qualificado na forma tentada e um crime de arma proibida, o jovem foi internado no Centro Educativo dos Olivais, em Coimbra, onde passou “dois anos e meio em regime fechado”, conforme refere ao jornal.
Está agora a estudar Direito no estrangeiro, depois de ter sido acolhido por familiares num país não revelado.
“Depois do que aconteceu, perdi todos os amigos, e só os familiares mais próximos se mantiveram solidários”, conta Ricardo.
“A mediatização do caso foi das coisas mais difíceis. Levou a que ainda hoje receie pela reacção da sociedade e pela incapacidade das pessoas perceberem que mudei e que a minha vida mudou”, diz também o jovem.
“Isso tornou mais difícil melhorar a minha auto-estima e ter confiança de que ainda poderia ser aceite na sociedade”, constata ainda.
No centro educativo, diz que “o mais difícil” foi “a noção de estar fechado e isolado do mundo exterior”, e lamenta que este regime “não ajuda a formar competências a nível social”.
Confessando que sentiu “bastante falta do apoio médico na área da pedopsiquiatria”, Ricardo realça, contudo, que ganhou a “confiança de que poderia ainda ser um elemento válido para a sociedade”. “Aprendi sobretudo a valorizar-me, a melhorar a minha auto-estima e a ter esperança numa vida melhor“, refere.
O advogado nota no Público que o jovem “continua a ser acompanhado” e que é “um aluno extraordinário”.
Para os pais, o processo “foi francamente traumatizante”, diz Pedro Proença, notando que “foi tudo extremamente doloroso” para o que se considerava ser “uma família estruturada”.
ZAP //
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