Roberto Midlej ()
Muito popular entre os adolescentes, a escritora carioca Thalita Rebouças, 41 anos, chegou a essa faixa etária meio por acaso. Seu primeiro livro, Traição Entre Amigas (2000), era destinado a jovens adultos, mas as meninas entre 12 e 14 anos começaram a se interessar e Thalita notou que elas tinham pouca opção nas prateleiras das livrarias.
A então escritora iniciante, que era jornalista, abandonou as redações e investiu na carreira. Começou a ir às livrarias divulgar seu trabalho: “Pegava o livro e oferecia um pirulito em troca de um pouco de atenção dos clientes”, lembra Thalita, divertindo-se. Depois de vender dois milhões de livros, ela chega agora a seu 20º título, Confissões de uma Garota Excluída, Mal-amada e (um Pouco) Dramática (Arqueiro/R$ 30/272 págs.).
No trabalho, Thalita aborda o bullying que a protagonista, Tetê, sofre na escola. Relacionamento com os pais, solidão e autoestima também são temas do novo livro. A escritora, que estará amanhã na livraria Saraiva do Salvador Shopping, às 13h, para lançar o novo título, conversou com o CORREIO.
Thalita Rebouças estará amanhã em Salvador para lançar 'Confissões de uma Garota Excluída,
Mal-amada e (um Pouco) Dramática' (Foto: Divulgação) |
Você costuma pesquisar os temas que aborda nos livros?Para a maioria dos livros, eu não pesquiso. O que mais me exigiu pesquisas foi o 360 Dias de Sucesso (sobre um grupo de jovens que tem uma banda e faz sucesso repentino na internet). Para o Confissões..., perguntei no Snapchat quem havia passado por bullying ou conhecia alguém que tivesse sofrido. Cinco mil pessoas entraram em contato comigo e fiquei aliviada porque percebi que minha personagem estava no caminho certo.
O bullying é um problema recente ou sempre ocorreu? Por que escolheu esse tema?O bullying, infelizmente, sempre ocorreu, mas não tinha esse nome. Mas hoje, com a internet, as coisas se propagam rápido. É um tema que me pediam muito, mas demorei de escrever sobre ele porque meu texto tem humor e, como esse é um tema sério, era difícil falar dele com humor. Então esperei estar madura como escritora, para escrever do meu jeito. E a resposta tem sido a melhor possível.
Você disse que na adolescência tinha características parecidas com as de Tetê. Você também sofreu bullying?Eu fui muito parecida com ela: implicava com meus dentes, meus óculos, meu dente torto... então, a personagem tem muito a ver com a menina que eu fui. Mas não sofri bullying porque descobri que ser engraçada era uma boa saída e foi essa a saída que adotei.
Há muitas críticas à literatura feita para jovens e à chamada literatura de entretenimento. O que acha disso?Há leitores que começaram lendo meus livros e depois começaram a ler Dostoievski. Não gosto muito desse termo “literatura de entretenimento” porque, se você lê sobre qualquer assunto que você gosta, o texto vai entreter você de qualquer jeito. Nestes 16 anos de carreira, o que mais ouço dos jovens é: “Eu passei a ler por sua causa” e fico orgulhosa disso. Os adolescentes nunca leram tanto e a prova disso é o investimento das editoras em livros para esse público. Adolescente gosta de ler e, principalmente, gosta de espalhar o hábito da leitura.
Como surgiu seu interesse no universo adolescente?Sempre quis escrever e comecei aos 10 anos. Depois, fui jornalista e acabei escrevendo o Traição Entre Amigas, que não era para adolescentes, mas para jovens adultos. Mas comecei a notar que o pessoal de 12, 13 ou 14 anos adorava e notei principalmente a carência que eles tinham de livros voltados para eles.
Como estão as adaptações de seus livros para o cinema? Você participa do processo?Um deles, Uma Fada Veio Me Visitar, com Kéfera, estreia em outubro e vai se chamar É Fada. Tem também o Fala Sério, Mãe, com Ingrid Guimarães, que roda este ano. No caso de É Fada, eu estive no set só uma vez, mas em Fala Sério, Mãe, o diretor, Pedro Vasconcelos, quer que eu fique no set.
A literatura brasileira para adolescentes pegou carona no sucesso de autores internacionais, como J. K. Rowling e John Green. Mas hoje os autores nacionais têm uma identidade própria?A literatura nacional juvenil tem identidade própria, com certeza. Minha carreira, de certa forma, foi impulsionada por Harry Potter. Não que o livro tenha influenciado as minhas criações, mas, quando eu comecei a escrever, a série Harry Potter estava no segundo livro e entrei no mercado naquela hora. Muita gente quando terminava de ler Harry Potter, pensava: “O que vou ler agora?”. Aí, lia meu livro.
Os seus livros são hoje um fenômeno editorial e você já está em seu 20º título. Como se tornou esse sucesso?Quando lancei o Traição Entre Amigas, com pouca distribuição, eu estava trabalhando numa grande assessoria de imprensa, ganhando direitinho e pensei: se escrever é meu sonho, vou batalhar por isso. Fui então para as livrarias e ficava ali, abordando os clientes aos sábados e domingos. Pegava meus livros e oferecia um pirulito em troca de um pouco de atenção deles. Foi uma época muito bacana! Mesmo quando vendia só uns dois ou três livros, pensava: “Um dia, vendo cinco ou dez”. Hoje, comemoro a marca de dois milhões de livros vendidos!
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