quinta-feira, 11 de junho de 2015

Depois de Lúcia

Fonte: Itu.com.br

João Trettel
João Trettel 

Filmes por aí

Cursando Cinema pela Universidade Nossa Senhora do Patrocínio


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Acho que um tema que talvez esteja saturado seja o “bullying”. Mas ao mesmo tempo em que temos vários filmes que retratam esse universo do oprimido e do opressor, as obras costumam variar e também passar por gêneros diferentes. Como o próprio terror onde temos uma vitima de “bullying” que faz amizade com uma “vampira” e nisso temos um massacre dos valentões. É claro que estou falando do filme sueco de 2008 “Deixe Ela Entrar”. Em 2012 o diretor mexicano Michel Franco foi sensação em Cannes com o filme “Depois de Lucia” onde retrata de um modo verdadeiro, cru e violento o universo do “bullying”, do machismo e o preconceito.
Com uma temática bem interessante o diretor que também é o roteirista, conseguiu entregar um filme com algumas coisas boas e também ruins. Uma das coisas boas são as interpretações dos atores que na sua maioria são adolescentes, mas o trabalho realizado com eles foi surpreendente. Destaco a protagonista Alejandra (Tessa Ia) que conseguiu um desempenho incrível dentro do que foi proposto.
A história é bem simples, Alejandra e seu pai que ficou viúvo recentemente se mudam para a Cidade do México. Ela começa uma vida nova numa escola bem elitizada. Aos poucos Alejandra se envolve com um grupo de amigos que a levam para baladas e em viagens para a praia e etc. Em uma dessas festas ela “transa” com um garoto de sua classe e ele a filma e divulga para todos. No mesmo instante ela é julgada por todos e chamada de “puta”. Esse paralelo que o diretor fez de ninguém está livre tanto dos julgamentos morais com também do próprio preconceito de uma coisa normal que é o sexo. É visto como algo pecaminoso por outros. A raiva, ou melhor, o sentimento de julgar algo e também não deixar barato se alguém sai da linha ou pensa diferente é um ótimo representante para nos brasileiros. Em época que travestis que se manifestam contra o ódio com a crucificação, é algo de mau gosto. Temos jogadores que ganham rios de dinheiro fazendo o mesmo “ato de critica” e são idolatrados. Mas a culpa é da mensagem ou do emissor? Achar uma resposta para isso é a mesma que tentar achar o porquê da raiva do sexo em “Depois de Lucia”. É o julgamento hipócrita e pessoal das pessoas que são levados ao extremo. Então é impossível adivinhar o porquê da raiva.
Uma das coisas que também o filme deixa como exemplo são os limites. Até que ponto uma sociedade machista e totalmente patriarcal pode tomar conta de tudo. É interessante como todos do filme tem um pensamento misógino. Até as próprias mulheres, e não são de mais idade são garotas de 15 anos. Então no melhor sentido “Moça! Você é machista”. Um ponto negativo que senti na trama é o não aprofundamento das ações dessa violência em Alejandra. Ao mesmo tempo em que a vemos tentando esconder essa agressão do seu pai, Roberto (Hernán Mendoza) não se mostra preocupado em saber mais sobre sua filha. 
Acho que o maior trunfo de “Depois de Lúcia” é o seu retrato cru e um pouco exagerado das ações, mas é fácil você comprar várias coisas do filme. Talvez a intenção do diretor seja transformar Alejandra num mártir. Mas será que todas as ações são condenadas assim. E que ponto o oprimido tem que se levantar e não aceitar as agressões? O final do filme é algo muito comovente e fácil de pensar se é algo condenável ou não. A fotografia de Chuy Chávez contribui muito para esse julgamento.
Mas assistam “Depois de Lúcia” e tire suas próprias conclusões sobre essa excelente obra que está cada vez mais saindo da ficção e tomando ares mais perigosos e ameaçadores em nossa sociedade, infelizmente.

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