segunda-feira, 7 de julho de 2014

Crescem as práticas de bullying no trabalho

Especialistas em recursos humanos acreditam que ambiente de competitividade excessiva pode levar a agressões

Fernando Soares

ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Carmello entende que bullying no trabalho é caso de assédio moral
Carmello entende que bullying no trabalho é caso de assédio moral
Em meio ao ambiente de competitividade do mercado de trabalho, a prática de bullying vem se tornando cada vez mais frequente. Apesar de não existir uma estatística oficial sobre o tema no Brasil, especialistas em Recursos Humanos (RH) garantem que os casos de agressões verbais ou físicas entre colegas de serviço têm aumentado. Nesse sentido, as empresas se deparam com o desafio de implantar medidas que enfrentem o problema no intuito de manter a produtividade em alta.

“O bullying é uma prática milenar na sociedade. Isso é muito presente em ambientes de meritocracia,nos quais um ganha e os demais perdem. As empresas precisam estimular a meritocracia de outra forma, valorizando o desempenho do indivíduo dentro do grupo e não apenas o desempenho individual”, destaca Nelson Bittencourt, diretor de desenvolvimento humano da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Estado (ABRH-RS). O dirigente lembra que a prática é mais comum nos segmentos guiados por metas, como o varejo.

O especialista enfatiza que é difícil enfrentar a situação, mas ressalta que as companhias podem tomar algumas iniciativas para minimizar a incidência da prática. Uma das possibilidades é criar uma ouvidoria na qual os funcionários possam se manifestar livremente sobre fatos que ocorrem durante o expediente. “Esse canal de comunicação deve ser bem trabalhado, até para não se tornar um meio de ampliar o bullying por meio de denúncias sem fundamento”, recomenda.

Eduardo Carmello, diretor da consultoria de RH Entheusiasmos, ressalta que as empresas muitas vezes têm dificuldade para detectar uma situação de bullying. “Nem sempre a pessoa declara que está sofrendo bullying por medo de perder o emprego. E quando um funcionário é alvo de bullying por parte de um gestor, ele tem ainda menos força para declarar”, explica. Nos casos em que um chefe submete o subordinado a situações constrangedoras ou de retaliação, Carmello reforça que o departamento de Recursos Humanos precisa intervir por meio de palestras ou treinamentos sobre gestão de pessoas.

Os alvos e as formas como o bullying é praticado no meio corporativo possuem diferentes origens e ocorrem em diversos segmentos de atividade. Carmello, porém, destaca que até mesmo os funcionários de alto rendimento sofrem. “Aquele profissional com desempenho acima da média por vezes é alvo dos demais colegas.” Esse é um fator, na visão de Carmello, que motiva muitos talentos a mudarem de emprego com frequência. “Em 90% das empresas brasileiras, o empregado mais proativo é malvisto pelos colegas”, afirma.

O bullying traz uma série de consequências para a pessoa que se torna alvo das brincadeiras de mau gosto. No ambiente de trabalho, a produtividade despenca. Entretanto, os desdobramentos podem ir além dos escritórios, resultando em agressões domésticas. “Os ambientes de trabalho estão ficando cada vez mais hostis, é preciso combater isso. A pessoa que sofre bullying se sente desprotegida”, lamenta Samia Simurro, vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV). A psicóloga recomenda que a vítima junte o máximo de provas possível, como e-mails com conteúdo hostil, para que possa reverter a situação. 

Atos podem resultar em indenizações financeiras

Na esteira do aumento do número de casos de bullying nas empresas, a Justiça brasileira tem julgado uma série de processos envolvendo agressões verbais ou físicas no ambiente de trabalho. O diretor da consultoria de RH Entheusiasmos, Eduardo Carmello, lembra que os casos, geralmente, são enquadrados como assédio moral e, por vezes, assédio sexual. As indenizações financeiras concedidas já oscilaram entre R$ 10 mil a R$ 460 mil, conforme o grau do problema.

Um dos casos emblemáticos no Brasil é o de um banco no Nordeste, lembra Carmello. Para avaliar a capacidade dos funcionários, a instituição resolveu classificá-los como “elefantes, leopardos ou antas”. Nessa situação, os funcionários entraram com uma ação coletiva e saíram vitoriosos. Outro caso ocorreu com uma empresa varejista, cujos funcionários com maior volume de vendas faziam um “corredor polonês” com os colegas que não atingiam as metas, xingando-os e até agredindo-os.

De um modo geral, os especialistas de RH percebem que as empresas já atentaram para os problemas que a prática do bullying traz ao ambiente de trabalho. Nos Estados Unidos, criou-se até o Instituto de Bullying no Trabalho. A instituição fez um levantamento no qual constatou que 72% dos entrevistados já haviam sido alvos de bullying no trabalho. Ao menos 28% relataram que a agressão partiu de colegas de trabalho e não dos chefes. 


Fonte: Jornal do Comércio

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