segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

SOMOS TODOS CIDADÃOS DOS EUA?

Paulo Dentinho para o RTP Noticias

Donald Trump entrou nas nossas vidas com uma atitude de bullying. Ele é notícia diária à escala do planeta. Há um permanente "chega para lá" a tudo e todos, dos vizinhos mexicanos às Nações Unidas.
É verdade que sabíamos ao que ele vinha. Mas veio sem maneiras, atropelando quem quer que seja, o que quer que seja (até mesmo a si próprio, pormenor que não o parece incomodar porque inventou "factos alternativos" para afirmar a "verdade" que é a sua).

Foi eleito democraticamente, é certo, e com as mesmíssimas regras que elegeram muitos outros presidentes antes dele. As suas atitudes são, por isso, absolutamente legítimas, o que é inquestionável. Mas também são legítimas as reacções contra as suas políticas, porque elas são o reflexo de uma sociedade livre. Ou que ainda é livre.

Dos sinais mais incómodos que surgiram na miríade informativa do que têm sido estes dias de Trump, saliente-se a legitimizacão da tortura e o recuo na defesa de direitos humanos básicos. Ao recusar receber cidadãos de países devastados por guerras e conflitos, muitos deles em consequência directa de políticas norte-americanas, os EUA versão Trump mostram um total desdém pela vida do outro, como se esse outro fosse um objecto que se usa e deita fora.

Aparentemente, esta medida destina-se a combater o terrorismo, embora ela tenha tudo para o vir a adensar, arriscando-se a desencadear uma rejeição e uma carga de ódio ainda maior ao Ocidente e aos seus valores. É a humanidade inteira que sofrerá as consequências.

Ainda pouco falado, mas igualmente preocupante, o ataque que Trump e os seus pretendem desencadear contra a comunidade científica. Está em curso uma lei da rolha que visa impedir a divulgação de dados científicos. E isto em simultâneo com receios crescentes dos empregados de agências e laboratórios federais que as suas pesquisas possam vir a ser destruídas.

Sobretudo aquelas que estão relacionadas com as alterações climáticas. A razão é simples. Trump rodeou-se de gente ligada aos interesses petrolíferos. Rex Tillerson, o homem da Exxon Mobil, é o responsável pela política externa. Scott Pruitt, que é um negacionista das alterações climáticas, é o chefe da Agência de Protecção do Ambiente. Rick Perry, que defendia a extinção do Ministério da Energia, é agora o ministro da Energia. A ele se junta Harold Hamm, com o papel de conselheiro do presidente para assuntos energéticos. Trata-se de outro personagem ligado aos interesses das petrolíferas - é o rei da exploração do gás de xisto.

Podemos recear o pior. Sendo que o pior é a corrida à exploração petrolífera do Ártico, a recusa dos acordos de Paris sobre alterações climáticas, o corte nos apoios às energias renováveis. O mundo ficará mais pobre e mais perigoso para milhões de pessoas. Algumas ficarão muito mais ricas.

Se Terra é a nossa herança comum, preservá-la é uma obrigação de toda a humanidade. Somos é todos cidadãos do mundo.

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