Aretha Martins
Nair Hababi, que praticava krav magá por causa de depressão, começou no jiu-jitsu para incentivar o filho a ter autoconfiança
Tarik tinha apenas cinco anos quando começou a sofrer bullying na escola. O menino, tímido e franzino, era vítima dos garotos maiores da turma. Ele não falava o que acontecia para os pais, mas a mãe, Nair Hababi, percebeu que havia algo errado com a criança. Ela descobriu as agressões, trocou o filho de escola e, anos depois, Tarik ainda sofria com as lembranças daquela época. A solução de Nair foi adotar o jiu-jitsu para que o menino superasse os traumas. E a história teve um final feliz.
Nair com o marido e os dois filhos
Foto: Arquivo pessoal
Agressões na infância
Segundo a mãe, Tarik passou a apresentar um comportamento estranho e não queria ir para a escola de jeito nenhum. “Quando chegava à escola, ficava parado, com o olhinho arregalado e chorava”, lembra.
Ela chegou a procurar a escola, mas não relataram nenhum problema com a criança. Mesmo assim, ficou desconfiada do comportamento do filho. “A gota d’água foi um dia em que fui buscá-lo e ele não saiu com a turma. Comecei a procurar o meu filho. Fui dar uma volta na escola e ele estava caído no pátio. Ele estava quase apagado”, detalha Nair.
Foi, então, que Tarik se abriu com a mãe. “Aí, ele contou que um menino o segurou e que outro coleguinha deu muito chute na barriga dele”.
Tarik acompanhou Nair no dia que fez graduação de faixa no jiu-jitsu%2C em dezembro do ano passado
Foto: Arquivo pessoal
Agora aos 13 anos, Tarik também fala sobre o que passou: “Não sabia o que fazer. Nunca batia de volta. Era muito pequeno e não contava para meus pais porque eu ainda não entedia direito o que estava acontecendo”.
Lembranças dolorosas
Nair e o marido decidiram trocar o filho de escola, mas, no novo ambiente, brincadeiras de lutas transtornavam o menino.
“Quando ele estava no quarto ano, a professora da escola nova me chamou e disse: ‘percebo que alguns amigos, de brincadeira, pegam o Tarik e ele fica nervoso’. Ela contou que ele surtava com coisas bobas”, relata Nair. “Acho que ele lembrava da época do bullying. Foi forte mesmo o que aconteceu com ele”, completa.
“Falei: ‘Meu filho não vai mais passar por essa situação. Acho que ele tem que aprender a se defender'”. Aí, veio a escolha por uma arte marcial.
Para o tatame!
“Já estava fazendo krav magá porque queria autoconfiança e achei que aquilo seria perfeito para ele. Como essa modalidade não tinha para a idade dele, o coloquei no jiu-jtsu. Acho que era o que ele estava precisando”, fala Nair. “Quando minha mãe me propôs fazer aulas de lutas, achei muito legal, fiquei bem empolgado”, confirma Tarik.
O menino praticou o esporte por um ano e parou por opção. Depois, pediu para se aventurar no boxe. Em agosto, ele quis voltar às aulas de jiu-jitsu e, hoje, concilia as duas modalidades.
Nair Hababi achou nas lutas uma saída para a depressão
Foto: Aretha Martins/iG
A advogada ainda usou as lutas para ajudar o filho, hoje adolescente, a superar traumas de bullying na infância
Foto: Aretha Martins/iG
Aos 40 anos, Nair exibe ótima forma e afirma: ‘Os benefícios das lutas vão muito além da estética. Vêm de dentro para fora’
Foto: Arquivo pessoal
Nair começou no krav magá, passou pelo muai thay e se apaixonou pelo jiu-jitsu
Foto: Aretha Martins/iG
Ele teve uma grave lesão no punho e, no momento, pega leva nos treinos
Foto: Aretha Martins/iG
Treino de muay thai
Foto: Arquivo pessoal
Ela levou toda a família para as lutas e as atividades físicas…
Foto: Aretha Martins/iG
…além dos filhos, o marido começou no boxe. ‘Meu marido é totalmente preguiçoso, mas ele começou a fazer boxe agora também. E o pequeno começou o judô e foi porque ele quis’
Foto: Aretha Martins/iG
Nair ao lado de Yassir e Tarik
Foto: Arquivo pessoal
‘Vou pegar minha faixa preta de bengala, mas vou pegar’, brinca Nair ao falar do futuro no jiu-jitsu
Foto: Aretha Martins/iG
A ideia de Nair realmente deu certo. “As lutas proporcionam autoconfiança, então, não tenho mais problemas em relação a problemas com outras crianças na escola. Acho que estou tão confiante que nunca ninguém mais mexeu comigo. E também tem a disciplina que aprendemos nas artes marciais que me ajuda nos estudos”, ressalta o garoto.
Luta contra depressão
Nair usou para Tarik um exemplo de sua vida. A advogada sofreu com uma grave depressão. Ela aceitou ajuda da família, procurou médicos e tomou medicamentos. Nair também teve caso de bullying na época da escola e acha que o trauma a acompanhou até a vida adulta.
“Apanhei quando fui escolhida a capitã do time de vôlei da escola. As meninas falavam que eu era puxa-saco e me pegaram de surpresa na saída. Uma menina me segurou e a outra me esbofeteou o rosto. Não contei nada para os meus pais porque elas falaram que, se eu dissesse alguma coisa, iria apanhar mais.”
Já exercendo a função de advogada, ela conta que não conseguia falar em público e era muito insegura. Ao decidir ter o segundo filho, mudar de médico e também testar diversos remédios, Nair achou uma opção.
Nair Hababi descobriu nas lutas um remédio para depressão e para ajudar o filho a superar o bullying
Foto: Aretha Martins/iG São Paulo
“Precisava parar com o remédio. Um dia estava bem, mas no outro estava mal e tive até pensamentos suicidas. Aí, encontrei as lutas. Vi uma luz no fim do túnel e que eu não estava condenada a tomar remédio para sempre. As lutas me deram motivação”.
“Funcionou para os meus filhos e para mim, já aos 36 para 37 anos. Vou pegar minha faixa preta de bengala, mas vou pegar”, comenta. Ela também é mãe de Yassir, de cinco anos, que pratica judô.
Mãe lutadora
Vendo o filho se aventurar no tatame, ela quis se arriscar também. “Achei estranho no começo, mas depois fui me acostumando. Meus amigos hoje acham superlegal, afinal, acho que a minha mãe é a única que pratica tantas lutas dentre todas as mães dos meus amigos”, fala Tarik.
Apesar do suposto mico inicial, praticar o mesmo esporte fez com que mãe e filho estreitasse relações. “Fez com que ele até se abrisse mais comigo, falasse mais coisas do dia a dia, se gostava de alguma menina…”, diz a mãe.
E agora, ao ver a mãe dividir o tempo entre boxe, muay thai, jiu-jitsu e mais, Tarik vê Nair como uma “supermãe”. “Fico muito orgulhoso de ter uma mãe tão dedicada, feliz e forte”, brinca o garoto.
As lembranças dolorosas da infância parecem mesmo ter ficado no passado de Tarik. “Um dia desses, ele foi dormir na casa de um amiguinho e, na brincadeira, um menino tentou enforcá-lo. Ele me contou que fez um rolamento e saiu logo daquela posição – porque isso é muito comum no jiu-jitsu. Ele sabe se defender e virou uma situação normal. Quando me contou, pensei: ‘ótimo, ele aprendeu'”, conta a mãe orgulhosa, que também divide suas experiências no tatame num blog que leva seu nome.
Nair em um de seus treinos de jiu-jitsu
Foto: Arquivo pessoal
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