domingo, 28 de setembro de 2014

Bullying: conhecer para combater

DIÁRIO DA MANHÃ
MÁRCIA CARVALHO

Escola tem se constituído ao longo de sua história como espaço privilegiado para pensar acerca das questões que envolvem os atores educacionais, e igualmente as relações que se dão na sociedade. Nesse cenário, uma série de processos, inerentes à formação humana plena, podem ser implementados e/ou prejudicados. Dessa forma, seria papel precípuo da instituição escolar, se dedicar à prática investigativa das demandas que afligem a humanidade, visando à ação-reflexão-ação. Dentre essas demandas se destacam a violência, suas formas de prevenção e as possíveis repercussões no desenvolvimento da criança e do adolescente.
Bullying, palavra de origem inglesa, significa tiranizar, ameaçar, oprimir, amedrontar e intimidar, prática que infelizmente se tornou comum entre os adolescentes de diversas camadas sociais. Comumente, após esclarecer sua origem e significado, boa parte dos interlocutores me confessa já haver sofrido esse tipo de violência em algum momento de sua vida, muito embora reconheça que a maior incidência ocorra na adolescência.
A dinâmica do bullying começou a ser discutida com mais intensidade diante do aumento da violência escolar em nível mundial. Pesquisa feita em Portugal, com 7 mil alunos, constatou que 1 em cada 5 alunos já foi vítima desse tipo de agressão, em pátios de recreio ou nos corredores. Na Espanha, o nível de incidência de bullying já chega a 20% entre os alunos.  A Grã Bretanha também está apreensiva afinal, 37% dos alunos admitiram sofrer bullying  pelo menos uma vez por semana.
Nos Estados Unidos, onde o fenômeno de violência foge do controle, estima-se que até 35% das crianças em idade escolar estão envolvidas em alguma forma de agressão e de violência na escola. No Brasil, embora ainda não haja pesquisas recentes sobre o bullying, é evidente o aumento do número de agressões e atos de discriminação e humilhação em ambiente escolar. Um estudo feito pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), em 2002, no Rio de Janeiro, com 5875 estudantes de 6º a 9º anos, de onze escolas fluminenses, revelou que 40,5% dos entrevistados confessaram o envolvimento direto em atos de bullying.
As pesquisas nacionais e internacionais sobre o bullying escolar demonstram que por conta da ocorrência desse fenômeno, 40% dos educandos, consideram regular, ruim ou péssima as relações na escola. Considerando que eles, passam um mínimo de 21h semanais nas instituições educativas, isso significa que estão submetidos as condições de convivência pouco harmoniosas em que, o preconceito, a hostilidade e a intolerância se multiplicam e asseveram o isolamento e a exclusão.
Esse tipo de comportamento está na base de várias manifestações de violência, mas o bullying – silencioso, tirano, opressor – se configura o modelo contemporâneo de agressividade mais presente no cotidiano das escolas. As mesmas crianças e adolescentes que foram impedidos de brincar nas ruas, consideradas lugares perigosos e violentos, fazem da escola e das redes sociais o cenário onde praticam e são vítimas das diversas práticas do bullying.
O convívio num ambiente de ansiedade, medo e agressividade, afeta os processos de aprendizagem; incentiva comportamentos agressivos e/ou depressivos; provoca o adoecimento dos envolvidos e aumenta os riscos para comportamentos delinquentes, violentos e de abuso de drogas no futuro. Assim, autores, vítimas, testemunhas e todo ambiente escolar sofrem com a prática de bullying.
O modo como o bullying tem se manifestado na ambiência escolar pode contribuir para que pessoas agredidas não atinjam plenamente o seu desenvolvimento educacional, o que constitui impedimento para que a escola desempenhe seu papel social com amplitude. As atitudes típicas desse fenômeno provocam fissuras que podem durar para a vida toda. Criar um estigma ou um rótulo sobre as pessoas, pré-conceituá-las, é praticar o bullying. Além de ser uma agressão moral, é uma atitude de humilhação que pode deixar sequelas emocionais à vítima.
Por isso, a observação constante dos educandos por parte dos pais e educadores é fundamental. A consideração de certos indicativos merece uma atenção redobrada da família, que deve agir rapidamente e buscar o apoio da escola mediante as situações que ora em destaco: sentir-se mal perto da hora de ir à escola; revelar medo de ir ou voltar da escola; isolar-se do grupo ou ficar próximo do professor ou de um adulto durante os intervalos; manifestar sintomas como: cefaleia, enjoos, vômitos, dores de estômago, tontura, etc.; apresentar machucados inexplicáveis e/ou roupas e materiais danificados; ‘perder’ repetidamente pertences e dinheiro; demonstrar mudança de comportamento – ora mais ansioso, arredio e deprimido e com baixa autoestima; evitar falar sobre o que se passa ou dar desculpas pouco convincentes; apresentar baixo rendimento escolar, faltas excessivas e pedidos de troca de escola.
Como foi abordado no último sábado, no Programa Mural com Márcia Carvalho, apresentado na TV Capital, canal 32, e na NET, canal 23, às 9h30, em entrevista com  dois brilhantes profissionais, dra. Máris Eliana Dietz de Oliveira, psicóloga, especialista em Educação Inclusiva, Gestão de Pessoas e Master Coach e o dr. Shouzo Abe, psicólogo, professor, especialista em Psicologia Jurídica e Criminal, Docência Superior e psicólogo clínico   que, analisaram e debateram o bullying: “A identificação, prevenção e combate ao bullying requerem dos profissionais da educação conhecimento e planejamento coletivo. Há que se promover a distinção da ocorrência ocasional de brigas, discussões e desavenças, daquele constrangimento, de caráter agressivo e rotineiro, característico do bullying que leva ao isolamento que precisa ser banido do contexto da escola e da sociedade.”
Resta agora, a união de todos os segmentos sociais envolvidos com a formação humana para construirmos os conhecimentos necessários à intervenção pedagógica no âmbito educacional de prevenção e combate ao bullying.
(pedagoga, psicopedagoga, mestra em Sociedade, Políticas Públicas e  Meio Ambiente, diretora-secretária da Fundação Ulysses Guimarães, diretora Administrativa da Câmara Municipal de Goiânia)

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