Roberta Cerqueira REPÓRTER
Helena ainda não chegou ao mundo, mas, centenas de familiares e amigos dos pais já conhecem as primeiras imagens da menina através de uma foto da ultrassonografia, postada nas redes sociais. Uma pesquisa recente mostra que a prática é mais comum do que parece e pode trazer prejuízos ao desenvolvimento da criança. De acordo com o estudo, 81% dos pequenos com menos de dois anos estão na internet.
Para a empresária Cláudia Maria Ferreira, 35 anos, mãe de Helena, a gestação da sua primeira filha é motivo de comemoração. “Quando a gente está feliz a vontade é gritar para os quatro cantos. A felicidade só é verdadeira quando compartilhada”, justifica ela que precisou fazer tratamento, durante dois anos, para engravidar.
Aquilo que muita gente considera demonstração de amor e felicidade, segundo especialistas, pode ser uma transferência de expectativas dos pais para os filhos que ainda não têm poder de decisão e acabam sendo levados a uma superexposição, muitas vezes desnecessária.
É o que garante Carine Borges, pedagoga especializada em novas tecnologias na educação. “Postar fotos de cada passo da criança, nas redes sociais, como o seu nascimento, o primeiro banho e outros momentos importantes para os pais, demonstra uma prática de monitoramento e exibição que é prejudicial ao seu crescimento”, ressalta.
Para ela, a atitude é considerada uma invasão de privacidade.
“Ninguém sabe se a criança deseja esta exposição, em muitos casos, ela não está preparada e acaba recebendo a mensagem de que precisa responder às expectativas dos pais, precisa ser melhor em tudo, o que nem sempre é possível”, lembra. A pedagoga lembra ainda que alguns casos, como os vídeos de crianças tomando banho ou em trajes íntimos, incitam a pedofilia.
“Ninguém sabe se a criança deseja esta exposição, em muitos casos, ela não está preparada e acaba recebendo a mensagem de que precisa responder às expectativas dos pais, precisa ser melhor em tudo, o que nem sempre é possível”, lembra. A pedagoga lembra ainda que alguns casos, como os vídeos de crianças tomando banho ou em trajes íntimos, incitam a pedofilia.
O aparecimento de traumas, bullying e pedofilia também podem ser associados a este tipo de exibição. “Quando não respondem às expectativas dos pais, elas desenvolvem o sentimento de frustração que pode levar a um processo depressivo”, diz.
Para a pedagoga, os pais devem se fazer algumas perguntas. “Qual a finalidade de publicar crianças fazendo birras, chorando, submetidas a situações de estresse emocional em troca de divertimento? O que se pretende com a publicação de meninas em danças e trajes sensuais? É preciso definir o que é público (conhecimento de todos) e privado (de família)”, finaliza.
O médico, psicoterapeuta e educador, Antônio Pedreira ressalta que cada criança responde de uma maneira e tudo vai depender da personalidade de cada um. “Dois irmãos recebem a mesma educação, mas, um desenvolve uma personalidade bem diferente a do outro”, exemplifica.
Atentos ao comportamento
A faixa etária também é um elemento importante. “Até os oito anos de idade, a criança não tem discernimento para entender o que é analógico do que é digital”, diz se referindo a menor capacidade cognitiva do ser humano, nesta época da vida.
Para o especialista é preciso que os pais estejam atentos ao comportamento dos filhos. “Acompanhar de perto o que eles assistem, acessam, leem, enfim, acompanhar a sua rotina, mas, sem parecer um espião e sim um parceiro é fundamental”, diz.
Sinais de irritabilidade, insônia, choro em excesso, crises de asma (em caso de crianças alérgicas) e outros sintomas, sem uma causa aparente, podem denunciar sofrimento. “É importante ainda manter contato com a escola, onde a criança tende a se mostrar mais e muitas vezes deixa vir à tona algum tipo de conflito”.
Manifestações de perversidade, como maus tratos a animais, quando ocorrem mais de uma vez, devem ser vistas com atenção pelos pais. “Não é bom confiar às babas a educação dos filhos, é bom estar sempre presente, analisando as atitudes que fogem à normalidade”, diz.
Fonte: Tribuna da Bahia
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