quinta-feira, 4 de julho de 2013

Compreender e intervir no bullying: quando a violência ultrapassa a escola

O bullying constitui um subtipo de violência escolar que significa, per si, a intenção de ameaçar ou intimidar. Tal traduz-se numa série intencional e repetida de atitudes agressivas, praticadas por um indivíduo ou grupo de indivíduos, com o objectivo de intimidar ou agredir outro colega ou grupo, desprovidos de capacidade de defesa. Realça-se o exercício de poder e intimidação por parte do(s) agressor(es) sobre a(s) vítima(s), através da violência verbal, física ou psicológica, traduzindo-se na forma de insultos, agressões, perseguições, humilhações ou isolamento. A prática de bullyingpode ser considerada como uma forma de exercer uma pressão social que conduz, muitas vezes, ao desenvolvimento de vivências traumáticas no percurso escolar dos estudantes que diariamente confrontam-se com esta realidade e que, consequentemente, limitam as suas rotinas às pretensões dos agressores.
Factores de risco do bullying: perfil do agressor e da vítima
Existe um vasto leque de factores que podem estar na origem do desenvolvimento de atitudes características da prática de bullying, nomeadamente um historial de situações de grande violência; a exposição a situações de violência directa ou ainda através de meios comunicacionais e sociais; o consumo de substâncias psicoactivas; a inserção num meio socio económico de grande precariedade; a integração num núcleo familiar desestruturado; ou ainda o desenvolvimento de uma perturbação psicológica.
O agressor é geralmente do sexo masculino, com uma idade compreendida entre os 11 e os 15 anos, que apresenta características psicológicas e comportamentais específicas, nomeadamente uma baixa tolerância à frustração, aliada à impulsividade, ao sentimento de insegurança, e necessidade de manipulação. À nível comportamental, referem-se manifestações de hostilidade, problemas de relacionamentos interpessoais, bem como demonstrações de baixas competências morais e sociais. Realça-se ainda que jovens agressores tendem a apresentar um baixo rendimento escolar e a beneficiar de uma baixa supervisão parental.
No que concerne ao perfil comum da vítima de bullying, salientam-se algumas características psicológicas tais como uma baixa auto-estima, o sentimento de insegurança, dificuldades de integração social, nomeadamente no espaço escolar e em grupos. As vítimas de bullying tendem a apresentar-se fisicamente vulneráveis, bem como sofrem de um grande isolamento social, revelando assim uma menor propensão para oferecer resistência.
O impacto psicológico da prática de bullying sobre a vítima
Vários são as consequências a nível emocional que surgem na vítima de violência, nomeadamente despoletadas pelo silêncio da vítima que sofre diretamente da agressividade dos outros colegas. O silêncio da vítima justifica-se pelo receio de novas represálias, tendo efeitos prejudiciais que se traduzem no insucesso escolar, no receio de ir a escola, bem como no desenvolvimento de sintomas de ansiedade, de depressão e de sintomas psicossomáticos – sintomas físicos despoletados por factores psicológicos – tais como dores de cabeça, dores de estômago, ou ainda enjoos.
A perda de autoconfiança e segurança afecta de forma considerável a vítima de bullying, sendo esta continuamente agredida e sentindo-se desprovida de qualquer capacidade para enfrentar a situação. A leitura pessimista e derrotista das suas capacidades promove na vítima a sensação de perda de controlo sobre a sua própria existência, percurso de vida e direitos humanos fundamentais, tais como a integridade, dignidade e liberdade.
Como identificar a existência de bullying: sinais de alerta
Professores, pais, entre outros adultos significativos devem estar atentos ao surgimento de determinados sinais e comportamentos pouco habituais, designadamente o receio e desmotivação de ir a escola, tristeza, choro frequente, agressividade, alterações súbitas de humor, irritabilidade excessiva, impaciência, apatia, isolamento, frustração, bem como queixas físicas recorrentes (enjoos, dores de cabeça, de estômago, cansaço). Habitualmente a vítima de bullying apresenta um rendimento escolar diminuído e significativamente inconstante, um absentismo escolar, bem como  tende a manifestar medo de sair sozinho da escola. A perda ou danificação de materiais escolares e bens pessoais torna-se frequente e sem justificação plauzível, à semelhança do aparecimento de lesões corporais. Diversos são os sinais de alerta da ocorrência de violência na escola, sendo fundamental a atenção e consequente intervenção dos pais, professores, entre outros familiares e profissionais do espaço escolar.
Intervir no bullying: uma resposta multidisciplinar e contextual
A intervenção psicológica, escolar e familiar em situações de bullying é fundamental, quer para as vítimas quer para os agressores, tendo em vista o desenvolvimento de competências psicossociais, de relacionamentos interpessoais socialmente adequados e a formação de futuros adultos saudáveis e equilibrados.
Em primeiro lugar, revela-se crucial sensibilizar a nossa sociedade em geral e determinados agentes específicos, tais como pais e professores, sobre a prática de bullying. Este primeiro passo exige o conhecimento dos diversos tipos de bullying, dos seus factores de risco, das suas consequências sobre a vítima, bem como os sinais que possam indicar a presença deste fenómeno. A sensibilização e informação destes actores sociais poderá permitir uma detecção atempada da situação de violência e, consequentemente, uma intervenção imediata e adequada, inciando-se por um aumento da supervisão, quer na sala de aula quer no recreio.
Existem um amplo leque de estratégias que podem ser adotadas pela escola, bem como pelos pais para diminuir a probabilidade dessas ocorrências. Cabe às instituições a implementação de medidas pedagógicas e o envolvimento dos pais no processo,tendo em vista evitar possíveis actos e minimizar os danos que já foram causados. Desta forma, deve privilegiar-se a articulação e colaboração dos pais e professores para uma melhor preparação e atenção a possíveis sinais de bullying.
  • Intervir … na sala de aula
Tendo em vista combater e/ou prevenir situações de bullying, os professores ou educadores devem promover a coesão dos membros constituintes da turma, supervisionando as suas interações e estimulando dinâmicas de grupo dentro da sala de aula. O fomento de actividades de ocupação de tempos livres pode também revelar-se crucial para criação de relações positivas entre os alunos. Sensibilizar e informar os alunos sobre a prática de bullying, as suas consequências e estratégias de prevenção ou combate à prática de bullying poderá revelar-se uma estratégia crucial quer para as vítimas ou potenciais vítimas, quer para os agressores ou alunos propensos ao exercício de violência.
  • Intervir … em casa
O papel dos pais é fundamental na prevenção e combate da prática de bullying, existindo várias estratégias às quais os pais podem recorrer, nomeadamente através da supervisão do comportamento da criança sem comprometer a sua autonomia. Deve-se privilegiar sempre o diálogo e perguntas abertas para explorar os acontecimentos, quer positivos quer negativos, do filho no espaço escolar: “Como correu o dia na escola? O que mais/ menos gostaste?”
Realça-se ainda a necessidade de estimular a reflexão da criança acerca do fenómeno debullying, interrogando a criança sobre as suas possíveis reacções perante a observação de uma situação de humilhação ou agressão de um colega.
É fundamental promover o diálogo sobre a importância de romper o silência face a situações de intimidação, ameaça ou agressão, sendo a revelação o primeiro passo para a resolução do problema. Os pais podem ainda ensinar algumas técnicas ou estratégias para lidar com os agressores, tais como dissimular qualquer sentimento de insegurança e demonstrar desprezo e, por outro lado, para reduzir as oportunidades de intimidação, como por exemplo desmotivando a criança a levar objectos pessoais de valor para a escola e incentivando a andar sempre acompanhada. Importa ainda os pais estimularem o desenvolvimento de determinadas competências psicossociais da criança, como a sua auto-estima, auto-confiança e a capacidade de relacionamentos interpessoais positivos e consequente criação de uma rede social ampla. Por fim, é crucial os pais partilharem as suas preocupações com os professores e questionarem sobre a integração da criança na turma e o surgimento de possíveis sinais de alerta.
Fonte: Psicologia Sr. do Navegantes

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