quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O bullying vivido por dentro - Como proteger os nossos filhos da maldade alheia?

DIÁRIO DA MANHÃ
FÁTIMA NASCIMENTO

Este ano lectivo passado, fiquei colocada numa escola na margem sul. Levei a minha filha ais nova comigo. Foi matriculada no mesmo estabelecimento. No início, tudo parecia correr bem. As colegas pareciam impecáveis. Depressa se descobriu que tudo não passava de aparência. Uma miúda mal-intencionada modificou a sua atitude revelando-se uma autêntica “psicopata” na perseguição à minha. Não se percebe o que motivou tal comportamento, não houve um motivo. Este comportamento parece ter sido despoletado por um sentimento negativo e incômodo. Como todas as vítimas, a minha pequena estava desprotegida. O veneno foi-se espalhando, atingindo proporções impensáveis. Como todas as vitimas, recusou-se a ir à escola. O que se compreende. Apesar das faltas e das obrigações escolares, dei-lhe algum tempo, indo sempre justificando as faltas. Como a situação se arrastasse e a minha conversa com a Diretora de Turma não desse resultados, tomei uma decisão – tentaria resolver eu própria a situação enquanto Encarregada de Educação. Comecei por pedir mudança de turma. Fiz uma exposição escrita, foi ouvida a diretora da turma e não sei se mais alguém. Passado algum tempo, a resposta recebida era negativa. Falei com uma das pessoas da Direção. Não tinham descoberto motivos. A pequena não queria voltar à escola. Nem eu queria! Como vivíamos numa outra localidade, tive a ideia de a mudar de escola. (Se esta ideia não resultasse, regressaria à escola de onde viera e onde se dera muito bem.) Como a transferência demorasse, resolvi perceber o que estava a acontecer. Fui mesmo à escola de destino da transferência. Resolveu-se imediatamente. Algum tempo depois, a nova diretora de turma chamou-me para perguntar o que se passava com a minha filha porque ela trazia, colada à transferência, um pedido de tutoria, que nem estava assinado e estava preenchido às quatro pancadas. (Nem queria acreditar!) Expliquei tudo à senhora que, horrorizada, declarava “isso foi mesmo bullying! Coitadinha!” (Compreendi a diferença de sensibilidades. Enquanto, para uns, determinados acontecimentos são bullying, para outros só as situações no seu limite o são! “Sabe…, acrescentou ainda a titular a turma onde a minha filha tinha sido inserida, “isto de ter os filhos na escola onde se trabalha… é complicado!” Não disse mais. Não era preciso!
Depois desta situação triste, tanto do ponto de vista dos adultos como dos pequenos, a nova escola e a nova turma trouxeram-lhe a paz e a confiança necessárias para concluir o ano escolar. E ela tinha baixado as notas, em relação ao ano anterior, durante aquele execrável primeiro período. Depois de tudo, e já concluído o ano lectivo, a coordenadora da dita escola perguntou, com um sorriso enviesado, se a “minha rapariga lá se tinha safado”. Percebi a má vontade. Respondi que a nova escola lhe tinha dado a serenidade para o concluir com sucesso e que tinha sido a melhor decisão da minha vida. E foi.
(Fátima Nascimento, professora, formada em línguas e literaturas modernas)

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