A exposição de informações privadas sem autorização ou difusão de calúnias em redes sociais, em especial as que permitem que o autor fique anônimo, como o Secret, pode causar danos irreversíveis e até levar a vítima ao suicídio, segundo o psicanalista e professor universitário Eliseu Neto.
“As redes sociais são cruéis, e, com a capa do anonimato, as pessoas podem ser ainda mais cruéis”, diz ele, que é coordenador de um grupo de combate à homofobia. “A exposição da intimidade pode ter consequências muito sérias, problemas com a família. Uma pessoa pode cometer suicídio se for exposta, e jovens gays têm sete vezes mais propensão a se suicidar que um hétero”, diz.
“Estava lendo na internet o que haviam postado no Secret e me perguntei: isso é um aplicativo para as pessoas se atacarem?”, conta o psicanalista, que escreveu um texto sobre o que chama de desvirtuação destruidora do Secret, que foi inicialmente projetado para fins positivos. “Só depois que vi que era um espaço pensado para as pessoas se abrirem, desabafarem e procurar apoio nos comentários.”
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Imagem do aplicativo Secret para Android |
Postagens e comentários no Secret, aplicativo que foi lançado no Brasil em maio, são totalmente anônimos. “Vi coisas engraçadas, como algum de meus amigos dizendo que ia sair para ‘tomar todas’, fazendo piadas que não publicariam no Facebook, já que teriam de se identificar”, conta Neto.
“Mas vi coisas horrorosas: não sei quem ‘dá’ para todo o mundo, esse aqui finge que é homem, mas é ‘bicha’, coisas machistas, moralistas, de ordem muito julgadora do outro. Parece serem pessoas oprimidas que buscam oprimir, de alguma maneira.”
Ele conta de casos de pessoas que tiveram fotos publicadas no aplicativo. “Para mim, é caso de polícia.”
‘MÁQUINA DE HUMILHAÇÃO’
O DJ e promotor Guto Magalhães, 27, DJ e promoter, conta ter sido vítima de calúnia. “Escreveram sobre meu último relacionamento, recém-terminado, como se eu tivesse sido infiel. Pensei em tomar atitudes legais, mas não sei se vale a pena”, diz.
“Fico triste não só pelo que escreveram de mim, mas também por terem transformado o app numa máquina de humilhação.”
Magalhães diz que amigos drag queens, negros e mesmo gordos terem sofrido com “ciberbullying” na rede, além de outros tipos de comentários depreciativos. “Vi posts com a foto de um rapaz e comentários sobre sua vida sexual, outros dizendo que ele tinha HIV.”
Ele entrou no Secret pela primeira vez há uma semana, quando cerca de cem dos seus 4.619 contatos no Facebook também já haviam acessado (o aplicativo diz esse número). Hoje, já são 999.
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Veja abaixo infográfico com aplicativos que mantêm usuários em anonimato
| Filipe Rocha/Editoria de Arte/Folhapress | |
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Fonte: UOL
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