Por Pedro Justino Alves
Premiado no Festival de Berlim (Urso de Prata para Melhor Contribuição Artística), no Lisbon & Estoril Film Festival (Prémio Especial do Júri) e no Festival Premiers Plans d´Angers (Grande Prémio do Júri), «Lições de Harmonia», filme de estreia do jovem cineasta do Cazaquistão Emir Baigazin, de apenas 29 anos, é uma obra que aborda o bullying, mas principalmente o pior da natureza humana.
Nos últimos anos, o bullying é tema recorrente no cinema, mas talvez o assunto nunca tenha sido abordado com tanta crueza como em «Lições de Harmonia». A desumanidade materializada por Emir Baigazin é invulgar. O realizador apresenta uma linguagem cinéfila singela, algo que fica demonstrado logo nas primeiras cenas, quando o jovem Aslan esfola um carneiro, em imagens que não é normal vermos nas salas de cinema. A maturidade estilística e estética do jovem cazaque é algo realmente marcante, um dos grandes trunfos do filme.
Em «Lições de Harmonia» acompanhamos a vida quotidiana de Aslan, que, após um exame médico escolar, é colocado de parte pelos colegas. No entanto, não é ele quem acaba por ser humilhado, mas os mesmos colegas que o ostracizam, já que são subjugados por alunos mais velhos, que exigem dinheiro e outros bens. O bullying aqui não é portanto individual, mas colectivo, é transposto para a própria sociedade, escolar e não só.
A fotografia de «Lições de Harmonia» é algo deslumbrante, principalmente a primeira parte, quando o Inverno, com o seu ambiente limpo, sereno e calmo, contraria o que se está a passar na escola, também ela de uma harmonia que acaba por ser opressora.
Opressão que Aslan parece acatar serenamente. Perfeccionaista ao extremo, de poucas palavras e obstinado a determinado momento pela sua limpeza, é com o decorrer do filme que os espectadores conhecerão a verdadeira natureza do jovem.
A mudança provocada pelo bullyng (ou não…) de Aslan, a “desordem” na sua personalidade, é notada pela avó, com quem vive, que pede aos seres místicos para iluminar o caminho do seu neto (é precisamente com a sua avó que Aslan esfola o carneiro no início do filme). Como pedido pela anciã, o caminho é trilhado, embora de uma forma que causará surpresa ao cinéfilo.
«Lição de Harmonia» é um filme duro, cru e visceral. Baigazin, apesar do seu final de certo modo poético e ambíguo, não teme em apresentar uma realidade violenta, tanto física como psicológica. Esta violência, por vezes explícita mas também implícita (por exemplo, nunca assistimos a morte real de um dos protagonistas, o que não acontece com as atrocidades cometidas aos animais e insectos), acaba por ditar as directrizes de todo o filme, num contraste artístico realmente de algum modo inovador.
É verdade que temos bullying e violência em «Lição de Harmonia», mas acima de tudo temos um jovem que procura sobreviver a uma sociedade escolar que o renegou, mesmo que para isso tenha de prescindir de pessoas que estiveram sempre ao seu lado, que mostraram empatia consigo. Uma estreia realmente prometedora e que coloca Emir Baigazin como um nome a seguir.
Ficha técnica:
Título: «Lições de Harmonia»
Título Original: «Uroki garmonii»
Realização: Emir Baigazin
Elenco: Anelya Adilbekova, Aslan Anarbayev, Mukhtar Andassov, Omar Adilov e Timur Aidarbekov
Género: Drama
País: Cazaquistão, Alemanha e França
Duração: 120 minutos
Ano: 2013
Título: «Lições de Harmonia»
Título Original: «Uroki garmonii»
Realização: Emir Baigazin
Elenco: Anelya Adilbekova, Aslan Anarbayev, Mukhtar Andassov, Omar Adilov e Timur Aidarbekov
Género: Drama
País: Cazaquistão, Alemanha e França
Duração: 120 minutos
Ano: 2013
Fonte: Diário Digital de Portugal
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