quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O bullying está enraizado nas escolas e é fundamental denunciá-lo

Especialistas alertam que é importante que os jovens denunciem a professores e auxiliares os casos de violência que presenciam. Muitos destes casos já são resolvidos pelos Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família, existentes nas escolas. “O melhor amigo do bullying é assistir e não contar”, diz Melanie Tavares, do Instituto de Apoio à Criança.

Fonte: O Mirante de Portugal

Os Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF), existentes já na maioria das escolas do país, tendem a resolver cerca de 50 por cento dos processos de violência infantil nas escolas antes de estes passarem para a alçada da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ). Este dado foi revelado por Melanie Tavares, coordenadora de mediação escolar e membro do Instituto de Apoio à Criança, durante a sua intervenção no seminário “Um olhar sobre... os maus tratos e violência nas crianças e jovens de hoje”, que teve lugar em Benavente.

Estes gabinetes actuam dentro e fora das escolas, na tentativa de encontrar respostas junto das comunidades em que as crianças vivem. “Fazemos um acompanhamento sistemático junto das turmas e até visitas domiciliárias para tentarmos perceber o que se está a passar com as crianças, quer sejam elas vítimas ou agressoras. Tentamos ainda dinamizar os parceiros a resolverem os problemas em questão”, avançou a responsável.

O bullying (violência física e/ou psicológica intencional e reiterada sobre determinado indivíduo) continua a ser um dos factores de maior preocupação para pais e professores. Mas Melanie Tavares afirma que esta “é apenas uma das muitas formas de violência escolar”. Falando um pouco sobre o tema, a especialista garante que muitos praticam actos consecutivos de bullying, sobretudo, pela diversão, não sendo reconhecidos como violência por parte de quem os pratica. Vêem os seus actos apenas como uma brincadeira própria da idade e isso leva a uma crescente violência nas escolas.

Já as vítimas, ao contrário dos agressores, não vêem o bullying como uma diversão, porque são humilhados, verbalmente e/ou fisicamente, perante uma plateia de colegas que, na maioria dos casos, nada faz para ajudar. Melanie Tavares defende que estes alunos tendem a ver a escola como um local inseguro, começando a faltar às aulas com regularidade e a terem um menor rendimento escolar.

Denúncia é fundamental
“Muitos alunos admitem que assistem, por vezes, a casos de bullying na escola, mas consideram que não é muito frequente, porque a maioria ainda acha que o bullying só acontece quando há agressão física, o que não é verdade, porque o verbal tende a ser ainda pior”, frisou. Por isso deixa o alerta: “O melhor amigo do bullying é assistir e não contar”.

Melanie Tavares deixou presente que os pais, professores e auxiliares devem transmitir às crianças que é importante denunciar os casos aos adultos, principalmente, aqueles com quem têm maior confiança. “Já existem programas específicos em escolas dos EUA e até do Reino Unido para os observadores, dado que os colegas devem ser colaboradores nesta luta contra o bullying. Estes alunos são preparados por profissionais para saberem como reagir perante estes casos de violência física, psíquica ou mesmo material, em que os agressores coagem as vítimas a lhes darem material escolar ou dinheiro”, explicou.

Os observadores podem agir de diversas formas: há os que vêem e não reagem, porque não se comovem e não se chocam com a cena a que estão a assistir; depois há os mais corajosos que enfrentam o agressor e prestam auxílio à vítima; e existem ainda os que pedem ajuda a adultos. “A percepção da violência depende da forma como as próprias crianças a vêem”, referiu.

Por outro lado, embora muitas das vítimas tenham coragem, a determinada altura, de contar a um professor ou ao director de turma, há muitos que nada fazem porque tendem a não dar elevada importância ao assunto, levando as crianças a isolarem-se cada vez mais e a começaram a faltar às aulas por medo.

O seminário foi organizado pelo projecto A.G.I.R. ­- Contrato Local de Desenvolvimento Social, que tem como entidade promotora a Câmara de Benavente e como entidade coordenadora local da parceria o Centro de Recuperação Infantil de Benavente.

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