sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Em Duque de Caxias, escolas enfrentam roubo de computadores e até de merenda

Violência em comunidades da Baixada Fluminense atinge professores e estudantes, que contam assaltos e até sequestro

A sala de informática do Ciep 015 Henfil ficou sem computadores após roubo
Divulgação
A sala de informática do Ciep 015 Henfil ficou sem computadores após roubo
A qualidade do ensino nas escolas da rede pública de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, vai mal. O município não atingiu as metas de desempenho do Ministério da Educação em 2013. Os alunos estão abaixo da média do Rio de Janeiro e da nacional. Mas não é só com o aprendizado que os professores da rede pública da cidade precisam se preocupar. Assaltos na porta da escola, furtos de fiação, de computadores e até de merenda escolar atrapalham o cotidiano escolar.
Cenário: 
"A violência piorou no ano passado, foram dez furtos. Nos primeiros, roubavam apenas o bebedor e a fiação elétrica. Até que em setembro, roubaram computadores, ar-condicionado, micro-ondas da sala dos professores, geladeira e até talheres", conta a professora Wanderleia Monteiro, de 46 anos, que dá aulas no Ciep 328 Marie Curie, na Chácara Arcampo. Parte da merenda escolar também foi levada nessa invasão.
  • 16%
    dos alunos em Duque de Caxias terminam o 9° ano sabendo português
  • 7%
    dos alunos do 9° ano sabem o adequado de matemática
  • 3,3
    pontos
    é a nota do município nos anos finais do fundamental. A média brasileira é 4
Segundo ela, a cada roubo de fiação elétrica as aulas eram suspensas por um ou dois dias devido à falta de luz. O último furto mudou a programação dos professores, que ficaram sem computadores para usar em atividades escolares até dezembro.
No mesmo bairro, o Ciep Municipalizado Henfil foi alvo de cinco roubos em 2014. Em outubro, levaram computadores, televisão e outros equipamentos. O prejuízo foi calculado em aproximadamente R$ 18 mil
"Escolas em áreas de conflito sofrem com a violência que não é da escola, é do entorno. As escolas são invadidas à noite e levam o que podem levar, de computador a merenda", explica Ivanete Conceição da Silva, coordenadora do sindicato dos professores (Sepe-RJ) em Duque de Caxias. "Em alguns lugares, a escola é o único espaço público do local e muitas delas não têm porteiro ou vigia e não há policiamento na região."
Outros casos:
Em um levantamento feito pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal, 23 de 202 escolas que responderam disseram que a escola não oferecia condições de segurança para os alunos pelo controle de circulação de pessoas.
"Normalmente, a violência no entorno está diretamente relacionada ao domínio que o crime organizado exerce sobre o território", afirma a promotora de Justiça Elayne Rodrigues, responsável por um processo sobre qualidade de educação no município que está em andamento no MP.
Sequestro de professor
Campus de Duque de Caxias do IFRJ
Divulgação/IFRJ
Campus de Duque de Caxias do IFRJ
A realidade se repete em diversos bairros. Professores e alunos ouvidos pela reportagem contaram casos de assaltos, invasões e até sequestro-relâmpago de professores em escolas de Chácara Arcampo, Santa Lúcia, Parada Angélica, Sarapuí, Mangueirinha, Vila Ideal e Vila Operária.
A falta de segurança de profissionais e estudantes do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) culminou no sequestro-relâmpago de um professor no estacionamento do campus, em Sarapuí, em agosto de 2014.
"Há algum tempo os professores começaram a perceber que havia uma invasão na quadra do instituto para uso do crack e tráfico no noturno. No entorno do campus, alguns alunos já haviam relatado assaltados. Até que aconteceu o roubo e o sequestro-relâmpago de um colega no estacionamento do instituto durante o dia", conta o professor de história Fabiano Faria, de 40 anos.
Segundo ele, depois do sequestro-relâmpago, a situação ficou ainda mais dramática e começou um conflito entre os invasores e os profissionais da escola. "Nossa diretora chegou a receber uma ameaça de morte."
Os professores, então, paralisaram as aulas e conseguiram uma reunião com o prefeito do município, que garantiu que haveria policiamento na região. A partir de então, a polícia passou a fazer a segurança da unidade. No entanto, após algum tempo, a frequência foi reduzida.
"Estamos em aula agora e já não tem mais policiamento. A sensação de insegurança permanece porque sabemos que não há nenhuma medida de segurança para que seja reduzida a violência. Estamos à margem das circunstâncias", diz.
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Também houve rapto de uma professora em uma escola municipal da Vila Operária.
Para Solange Bergami, da Associação de Pais e Alunos da Escola Pública, os casos mostram a necessidade de mais policiamento na área das escolas. "Isso indica a necessidade mais policiamento. Os professores e os alunos estão expostos a uma situação de insegurança." 
Outro lado
Sobre os assaltos em frente a escolas estaduais do município, a Secretaria do Estado da Educação afirmou que 30% das escolas da rede em Duque de Caxias participam do Programa Estadual de Integração na Segurança e tem policiais dentro das unidades. 
Procurada pela reportagem, a secretaria municipal de Educação não havia respondido até a publicação da matéria. 

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