Escolas se deparam com questões complexas sobre como lidar com o cyberbullying
Os pais da menina, com indignação e medo, mostraram ao diretor algumas mensagens de texto: uma dúzia de ameaças chocantes e sexualmente explícitas enviadas a sua filha na noite do sábado do telefone celular de um menino de 12 anos de idade. Ambas as crianças estudam na sexta série da Escola de Ensino Fundamental Benjamin Franklin em Ridgewood, Nova Jersey.
"Ele tem de ser punido", insistiam os pais.
"Eu disse: 'Isso aconteceu fora da escola, em um fim de semana'", lembrou o diretor Tony Orsini. "Nós não podemos discipliná-lo."
Ele perguntou se os pais do menino haviam sido contatados.
"Isso seria estranho demais", responderam. Os pais ensinam esportes juntos.
"E a polícia?", perguntou Orsini.
Os pais haviam decidido que uma investigação criminal seria prolongada e seu resultado era incerto. Eles queriam uma ação imediata.
Atualmente as escolas se deparam com questões complexas sobre se e como lidar com o cyberbullying, um rótulo impreciso para atividades online que variam de mensagens de textos a websites de assédio em grupo. É difícil quantificar a extensão do fenômeno.
Mas um estudo de 2010 do Centro de Pesquisas de Cyberbullying, um grupo think tank fundado por dois criminalistas que definiram este tipo de bullying como o "dano intencional e repetido" feito por meio de telefones e computadores, determinou que um em cada cinco estudantes do ensino médio é afetado.
Afrontados pela escalada da agressividade dos adolescentes no ciberespaço, muitos pais estão procurando nas escolas justiça, proteção e até mesmo vingança. Mas muitos educadores não se sentem preparados ou não querem agir como promotores e juízes.
Se a resolução de conflitos deve ser da responsabilidade da família, da polícia ou das escolas continua a ser uma questão em aberto, evoluindo junto com as definições do próprio cyberbullying.
No entanto, os administradores que decidem que devem ajudar os seus alunos muitas vezes enfrentam dificuldades pragmáticas e jurídicas.
De acordo com a Liga Anti-Difamação, embora 44 Estados tenham estatutos contra a prática de bullying, menos da metade oferece orientação sobre como as escolas podem intervir em questões envolvendo assédio moral "por meio de comunicações eletrônicas", que ocorre quase sempre fora da escola e mais gravemente nos finais de semana, quando as crianças têm mais tempo livre para socializar online.
Os cyber-detetives
Em abril, o fardo da resolução de tais problemas na Benjamin Franklin se tornou tão pesado que Orsini enviou um email exasperado aos pais que se tornou notícia nacional:
"Não há absolutamente NENHUMA razão para qualquer estudante do ensino médio fazer parte de um site de redes sociais", ele escreveu. Se as crianças foram atacadas por meio de sites ou mensagens de texto, ele acrescentou, "VÁ IMEDIATAMENTE À POLÍCIA!"
Essa não era a resposta que os pais da menina que tinha recebido a mensagem queriam ouvir.
Orsini cedeu. Afinal, os textos eram irritados e obscenos, os pais estavam horrorizados, a menina muito nervosa. "Nós podemos certamente falar com o menino", disse o diretor.
Investigar uma queixa pode ser difícil. O diretor-assistente Greg Wu, Orsini, um orientador, um agente social e um diretor de escola primária se depararam com isso: os alunos haviam "saído juntos" por uma semana, antes da menina romper o relacionamento. Os textos que ela recebeu na noite de sábado eram cada vez mais sarcásticos, gráficos e intimidantes.
Mas as trocas mostradas a Orsini estavam incompletas. Antes de entregar o telefone para seus pais, a menina apagou suas respostas.
O rapaz alegou que ser inocente, dizendo a Wu que havia perdido seu telefone celular no sábado.
O rapaz insistiu que o aparelho caiu quando ele andava de bicicleta à tarde com seu irmão e um amigo, ambos alunos da quinta série.
Além disso, o menino é um fraco aluno em gramática e linguagem, mas as mensagens de texto eram razoavelmente perfeitas. Wu ditou uma sentença básica para o menino escrever. Ela resultou cheia de erros.
Em seguida, um diretor de escola primária falou com os meninos da quinta série separadamente.
Na quinta-feira, Orsini telefonou para os pais da menina com sua conclusão inquietante: o menino nunca enviou as mensagens de texto, o telefone perdido foi encontrado por outra pessoa e usado para enviar as mensagens. Quem as escreveu?
A identidade provavelmente permanecerá desconhecida.
Escolas se deparam com questões complexas sobre como lidar com o cyberbullying
Desespero do ensino fundamental
Meredith Wearley, orientadora da sétima série da escola Benjamin Franklin, ficou chocada durante a primavera com os dramas criados na web: mensagens de texto que zombavam de "novas melhores" amizades, segredos contados com confiança e, em seguida, publicados no Facebook, meninas e meninos intimidados fazendo retaliações via online.
As meninas entram no seu escritório, deprimidas, chorando, surpresas, traídas. "Uma menina fica brava porque sua amiga é amiga de uma outra menina", disse Wearley.
Estudos mostram que o assédio online pode começar na quarta série. Até o ensino médio, os alunos pré-dispostos à crueldade no ciberespaço se tornam tecnologicamente mais sofisticados, mais capazes de esconder as suas impressões. Mas também é nesse período que os alunos mais velhos podem ser mais resistentes.
"No colegial, os jovens desenvolvem mais autoconfiança, entram para atividades extracurriculares e se concentram no futuro", disse Sameer Hinduja, professor da Universidade Florida Atlantic e autor do livro "Bullying Beyond the Schoolyard" (Bullying para Além do Pátio Escolar, em tradução livre).
Durante o ensino médio, ele disse: "A percepção dos colegas determina em grande parte a sua autoestima. Com a pele em erupção e corpos em mudança, muitos estudantes da sétima série têm dificuldade até mesmo em entrar na escola pela manhã".
As batalhas legais
Decisões em alguns casos de cyberbullying em todo o país dão sinais contrários. Algumas famílias conseguiram processar escolas por não protegerem seus filhos de agressores. Mas quando a Escola Beverly Vista de Beverly Hills, na Califórnia, disciplinou a filha de Evan S. Cohen da oitava série por cyberbullying ele levou a questão ao distrito escolar.
Depois da aula em um dia em maio de 2008, a filha de Cohen, conhecida nos documentos judiciais como JC, gravou as amigas em um café, falando mal e rindo de uma outra menina da oitava série, CC, chamando ela de "feia", "mimada" e "vagabunda".
J.C. postou o vídeo no YouTube. No dia seguinte, a escola a suspendeu por dois dias.
''O que me irritou ", disse Cohen, advogado da indústria sonora em Los Angeles, "é que essas pessoas suspenderam a minha filha por algo que aconteceu fora da escola". Em nome de sua filha, ele processou.
Em novembro passado, o juiz Stephen V. Wilson da Corte Distrital analisou se o vídeo tinha ligação com a escola. Em sua decisão legal, ele determinou que a punição poderia valer se o vídeo feito por JC tivesse causado grandes transtornos na escola. Mas o juiz Wilson decidiu em favor da jovem cinegrafista porque os problemas foram mínimos: os administradores lidaram com o assunto em silêncio e antes do recreio.
O distrito teve de pagar os custos de JC e honorários de seus advogados.
A Suprema Corte ainda não abordou o discurso dos estudantes online. Juízes de primeira instância em alguns distritos têm ficado do lado das escolas que têm disciplinado alunos por publicar vídeos ameaçadores sobre os educadores de seus computadores de casa.
Cuber-sábios
Que diferença alguns anos podem fazer na vida de um adolescente? No início deste mês, um grupo de meninas orgulhosas da oitava série da escola Benjamin Franklin entrou nas salas da sexta série. Centímetros mais altas do que os alunos de 12 anos de idade, elas irradiavam exuberância quando mexiam em seus longos cabelos. Elas queriam oferecer conselhos sobre os sites de redes sociais e o cyberbullying.
''Quantos de vocês discutiram a carta Orsini com seus pais", perguntou Annie Thurston, uma das estudantes da oitava série, referindo-se às advertências feitas sobre a atividade online. Pelo menos uma dúzia de alunos ergueu as mãos.
Em abril, uma mãe alertou Orsini sobre o FormSpring, um site em que os comentários podem ser enviados anonimamente para caixas de entrada de email e publicados a critério do recipiente. Muitos adultos parecem confundir o motivo pelo qual as meninas, em particular, optam por publicar perguntas atravessadas - algumas adolescentes dizem que fazem isso para retrucar contra meninas mais duras.
O diretor encontrou os nomes de alguns alunos da Benjamin Franklin no FormSpring. Orsini relatou depois que não conseguiria pronunciar nem mesmo uma versão higienizada das obscenidades que leu. Sua face ficou vermelha, lágrimas encheram seus olhos.
Aquilo o levou a escrever o email aos pais, no qual ele disse que nenhum estudante do ensino médio precisa estar em sites de redes sociais. Muitos pais concordaram. Mas outros disseram que as escolas e as famílias devem se esforçar mais para ensinar os alunos a responsabilidade digital.
As meninas da oitava série acham que Orsini tem razão: os alunos mais novos não devem estar no Facebook. Elas fizeram perguntas aos alunos da sexta série, quase todos eles disseram que têm telefones celulares. "Os seu pais leem suas mensagens de textos", perguntaram.
Apenas algumas mãos foram levantadas.
''Minha mãe continua ameaçando comprar um software para que possa monitorá-los", disse um rapaz, dando os ombros. "Mas ela nunca chega a isso."
Que impacto teve carta Orsini?
''Eu menti para meus pais", disse outro garoto. "Eu lhes disse que desativei minha página do Facebook. Mas, em dois dias, comecei de novo."
* Por Jan Hoffman
Fonte: IG
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