sexta-feira, 25 de junho de 2010

Bullying acaba em agressão e caso vai parar na delegacia

Fato aconteceu na segunda-feira e anteontem dois foram expulsos
RAFAEL ROCHA

Ao deixar a sala de aula, na última segunda-feira, após um dia normal de estudos em uma escola particular de ensino médio no bairro São Luiz, na região da Pampulha, um aluno de 15 anos, da 9ª série, não imaginava que seria alvo de uma surra dada por colegas de classe. O caso, agora alvo de um inquérito policial, culminou com a expulsão, anteontem de dois adolescentes, também de 15 anos, acusados pelo espancamento.

A agressão, cometida dentro dos domínios da escola, uma instituição de alto padrão que funciona há 25 anos na região, foi a consequência extrema de uma ação de bullying liderada por um dos alunos expulsos. Recém-chegado na classe, o estudante seria oriundo de outro colégio particular, de onde também teria saído por determinação da diretoria.

No caso do colégio da Pampulha, ele teria contado com a participação de pelo menos mais seis colegas, conforme denuncia a família do menino agredido.

Armados com um soco inglês de madeira e dominados pelo ódio contra o colega de sala, os estudantes submeteram a vítima a todo tipo de agressão. O adolescente foi espancado com pontapés e socos na cabeça, no ouvido e nas costas. Salvo pelo porteiro da escola, que viu a agressão e interveio, o menino precisou ser levado a um hospital e agora está tomando remédios.
Ontem, ainda sob efeito do trauma da surra que levou dos colegas, o estudante falou à reportagem de O TEMPO. "Fiquei sabendo que iriam bater no meu amigo, então contei para ele. O menino que prometeu a surra não gostou e acabou batendo em mim", disse.

Mesmo com a medida adotada pela escola, que cancelou a matrícula de dois dos envolvidos, a polícia continua no caso. "Iremos investigar o fato. Escola, pais e agressores serão convocados", disse o delegado Aloísio Daniel Fagundes. As investigações já mostraram que toda ação foi combinada por celular e que um dos estudantes envolvidos, aluno do turno da manhã, teria ido à escola à tarde com o intuito de participar da agressão, apesar de nem conhecer a vítima. "Ele tinha ido pegar o boletim e se envolveu nisso de maneira acidental", justifica a mãe.

O pai do aluno agredido, Valter Freitas, um delegado da Polícia Civil, contou que, além do filho dele, outros estudantes vinham sendo alvo de bullying na escola. Ele conta que chegou a falar com os pais de alunos sobre o assunto. Ontem, a mãe de um outro aluno também alvo do grupo confirmou o assédio. "Meu filho já tinha reclamado que esse menino (o líder) sempre o provocava".

Tímido, o jovem que sofreu a agressão conta como eram as intimidações. "Ele me chamava de olho caído e de medroso. Sempre arrumava apelido sobre a aparência das pessoas. Chamava outro aluno de Nhonho (personagem gordo do ‘Chaves’).

"Estamos decepcionados", disse a mãe do líder. "Estou muito chateada", afirmou a mãe do outro adolescente expulso. A direção da escola foi insistentemente procurada, ontem, mas não quis comentar o assunto.

Minas tem decisão inédita

Em maio deste ano, numa decisão inédita, a Justiça de Minas condenou em primeira instância os pais de um aluno de uma escola particular da zona Sul de Belo Horizonte, a pagar uma indenização de R$ 8.000 pela prática de bullying cometida pelo filho dentro da escola. A vítima que receberá a indenização é uma menina de 15 anos que, na época das agressões (2008), era colega de sala do agressor e foi apelidada de "tábua", prostituta "sem peito" e "sem bunda".

Também em maio, estudantes de uma escola pública de Contagem foram acusadas de bullying. (RRo)




Agressões são reflexo de crise na família

Atitudes como a ocorrida no colégio da Pampulha estão cada dia mais frequentes nas escolas brasileiras, de acordo com o psicólogo e pedagogo Dirceu Moreira, consultor de relacionamento educacional. Para ele, o problema não está no agressor, mas sim no contexto em que ele vive, onde a família não tem uma estrutura ideal para educá-lo.

“Os pais estão carentes de informação, de orientação. Eles estão assustados com o que está acontecendo com seus filhos e não sabem como lidar com os problemas. Expulsar esse menino da escola não resolve nada, só agrava. É muito provável que ele repita os erros.”

Moreira afirma que, de uns anos para cá, a família se afastou muito da escola. “A principal fonte de educação é a família. Depois a escola.” (Carolina Coutinho)




Minientrevista com Valter Freitas
Pai do aluno agredido

Por que seu filho foi alvo de agressão na escola? Isso é bullying. Meu filho já foi vítima disso várias vezes.

Mas a escola sabia? Sim, eu até já fui lá e levei reportagem que saiu numa revista. Queria conversar sobre isso. A escola chamou alunos e deu uma prensa.

Como é o relacionamento dele com colegas de classe? Ele é tímido e é retraído. Juntavam cinco, seis alunos e ficavam zombando dele. Até já chamaram a mãe dele de prostituta. Na outra escola em que ele estudava, também foi massacrado com o bullying.

Como esses meninos combinaram a surra no seu filho? Foi tudo pelo celular, que inclusive foi apreendido. E tenho certeza de que foi premeditado, pois fabricaram uma arma (soco inglês) antes.

E por que esse aluno do turno da manhã, que nem conhecia seu filho, participou disso? Chamaram o menino porque ele faz musculação. Nem entrar na escola nesse horário ele deveria. O outro que bateu faz tae kwon do (arte marcial) há 4 anos.

Parece que a agressão foi intensa, então? Foi. Se eles tivessem com faca ou revólver teriam matado meu filho. Alguns dizem que violência é coisa de pobre, mas na classe média tem muita também.

Como seu filho está agora? Levamos ao hospital. Ele agora está tomando remédio, mas está bem.

Fonte: O Tempo On LIne

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