É difícil encontrar alguém que não tenha sido alvo de brincadeiras de mau gosto ou recebido os mais variados apelidos dos colegas. O problema é quando isso começa a ser constante e a incomodar o aluno, que muitas vezes deixa de querer ir à escola. Isso pode ser qualificado como bullying, conjunto de comportamentos agressivos, repetitivos, cometidos por uma ou mais pessoas contra outra sem motivo aparente.
Pensando em conscientizar e diminuir esses casos, os alunos do 3º ano do Ensino Médio da EE Professor Casemiro Poffo, em Ribeirão Pires, desenvolveram o projeto Bullying E Se Fosse Com Você?, que deverá ser apresentado dia 9 aos demais estudantes.
Segundo a coordenadora do Ensino Médio, Maria Aparecida Báviro, a iniciativa partiu dos próprios adolescentes. "A Secretaria Estadual de Educação tem um trabalho chamado Prevenção Também se Ensina, que aborda o bullying por meio de um livro que foi trabalhado com os alunos. A partir disso, queríamos desenvolver alguma atividade e os alunos propuseram essa ideia."
Os estudantes estão empenhados com o trabalho e ansiosos com o resultado, porque muitos já tiveram essa experiência. "Quando discutimos o tema em sala foi algo com que a maioria se identificou. Por isso, o desempenho de conscientizar os demais é muito grande", disse Adriana Silva Ferreira, 17 anos,
Para Juliana Alves de Andrade, 17, o bullying é algo comum, mas que passa despercebido. "Muitas vezes sofremos ou até cometemos o ato sem perceber, porque às vezes é sem maldade. O problema são as consequências que podem vir a longo prazo para quem sofre", explicou.
Assim que definiram o projeto, os alunos se dividiram para elaborar as atividades. Teatro, vídeos, dramatização e cartazes são os atrativos para atrair a atenção dos alunos. "O teatro vai contar histórias que são vivenciadas por nós e nem sempre vemos maldade, como os apelidos. Vamos fazer um vídeo com depoimentos dos alunos falando sobre o tema e se já passaram por essas situações, além do bate papo. Por último, quem quiser poderá assinar um termo se comprometendo a não cometer nenhuma atitude como essa com os colegas ", disse Júlia Vasconcelos Sanches, 16 anos.
Para completar a apresentação, os alunos vão vestir camiseta com o nome do projeto e a imagem do personagem Homer, de Os Simpsons. "Elaborei a camiseta e pensei no Homer porque ele demonstra esse comportamento e influencia o filho, que acaba fazendo isso na escola", disse Adriana.
Apelidos e gozações são as agressões mais comuns
Os próprios alunos contam que já passaram por situações ou conhecem alguém que já tenha sofrido bullying. Para eles, tudo vai da interpretação e da liberdade que um tem com o outro.
"Eu tenho dificuldade de interpretação e isso já me deixou mal. Quando a professora explica, geralmente tenho dúvidas, e faço perguntas que para muitos são óbvias. Por isso, me zoam. Mas estou na escola para aprender e tenho certeza de que minhas dúvidas podem ser as de outros que não têm coragem de perguntar", contou Juliana Alves de Andrade, 17 anos.
Bruna Santos Bertacini, 16, diz que apelidos são os mais comuns. "Chamar de nerd, gordinha, negra é comum, mas é algo que magoa."
E não são só os alunos que sofrem. Professores também são alvo de bullying. A coordenadora do Ensino Médio, Maria Aparecida Báviro, disse que ao entrar na escola sofreu com os apelidos. "Começaram a falar ‘olha a bruxa'', ‘caveira''. Continuei dando aula para não demonstrar que estava chateada. Quando cheguei em casa, desabei e pensei em não voltar."
Quem é vítima de humilhações tem de procurar ajuda
Pesquisas apontam que quem comete bullying são geralmente crianças e adolescentes que vivem em ambientes violentos. "Bairros com violência e problemas dentro da própria família podem propiciar atitudes como essas", explicou a psicóloga da USP (Universidade de São Paulo) Leila Tadivo, que acrescenta que a faixa etária comum é entre 11 e 13 anos, tanto em meninos quanto entre meninas.
Para a coordenadora do projeto Comunidade Presente da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), Jurema Reis Correa Panza, o aluno que sofre tem de pedir ajuda e não pode deixar que aquilo se torne algo normal. "Por isso, o programa Prevenção Também se Ensina capacita professores sobre o assunto para orientar os alunos".
Para ela, as vítimas se tornam retraídas ou vingativas. "Acabam se isolando e isso traz consequências para o futuro. Em alguns casos, pode chegar até a suicídio", disse a coordenadora, frisando a importância da ajuda tanto para quem sofre quanto para o autor. "Quem comete quer se autoafirmar ou se inserir em um grupo", concluiu.
O bullying sempre existiu, mas a partir da década de 1970, na Suécia e Dinamarca, e em 1980 na Noruega, o comportamento passou a ser estudado. Há também o cyberbullying, que é feito pela internet, por meio de vídeos e comunidades que denigrem a imagem.
S.Caetano tem lei para combater prática
Para combater o bullying, São Caetano aprovou a lei nº 4.809 em outubro de 2009, intitulada Campanha Permanente Sobre Inclusão de Medidas de Prevenção, Conscientização e Combate ao Bullying Escolar nas escolas de educação básica do município.
Na semana passada, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou por unanimidade projeto que prevê políticas públicas contra o bullying nas escolas de ensino básico e de educação infantil, privadas ou do Estado, em todo o Estado.
A decisão foi motivada pela morte de um adolescente de 15 anos em Porto Alegre, há duas semanas, vítima das agressões de um colega. Ele foi morto a tiros porque reagiu às frequentes humilhações a que era submetido pelos agressores.
fonte: Bruna Gonçalves do Diário do Grande ABC
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