Estudo foi realizado por docentes da UFSCar e da Universidade de York. Motivos vão da alta do número de celulares ao prazer dos agressores.
Stefhanie PiovezanDo G1 São Carlos e Araraquara
Uma pesquisa do professor Antônio Alvaro Soares Zuin, da Universidade Federal de São Carlos(UFSCar), em parceria com Chris Kyriacou, da Universidade de York, na Inglaterra, mostra que os casos de bullying de alunos contra professores aumentaram na internet e estão mais graves.
O estudo foi publicado no periódico “The Psychology of Education Review” após ter sido selecionado como um dos melhores trabalhos apresentados na Conferência Anual da Sociedade Britânica de Psicologia e analisou como estudantes brasileiros e ingleses de 14 a 17 anos praticavam cyberbullying contra seus professores. O resultado foi a verificação do aumento da prática nos dois países.
Para o brasileiro, o crescimento está relacionado à expansão das redes sociais, mas esse não é o único motivo. O aumento do número de celulares e o prazer do agressor também são causas. “Parece-me que o fato mais importante para que possamos compreender o recrudescimento refira-se ao prazer sado-narcísico que ele usufrui ao conferir, principalmente, os números de acessos e comentários de seus vídeos”, disse Zuin, que iniciou seus estudos sobre o tema ainda na época do Orkut.
“Em alguns casos, inclusive a violência física cometida por um aluno contra um professor tende a ser intensificada com a intenção de que tais imagens sejam postadas na internet e vençam a luta titânica que estabelecem com outras imagens, uma vez que conquistam a atenção do internauta justamente em função da intensidade da violência que exibem”.
Outros pontos que explicam o fenômeno são a importância da imagem na sociedade e a sensação de impunidade. “Muitos cyberbullies se sentem como que protegidos pela tela do computador, mas sabemos que os IPs dos aparelhos podem ser rastreados e seus donos, identificados”, disse. “O desejo de expor o cyberbullying praticado nas redes sociais, notadamente no YouTube, parece cada vez mais prevalecer sobre o medo do aluno de sofrer qualquer tipo de punição”.
E tudo isso contribui para que, diferentemente do bullying presencial, não haja limites na internet.
“As práticas de cyberbullying contra professores tendem a ser muito mais humilhantes e degradantes do que as cometidas presencialmente”, afirmou, completando que o sucesso de público só piora a situação.
Denúncias e diálogo
Zuin explicou que os pais podem ser judicialmente responsabilizados pelos atos de seus filhos, que também estão sujeitos a advertências e expulsões, mas reforçou a importância do diálogo como forma de combate à prática. “Faz-se cada vez mais necessária a discussão sobre os aspectos éticos, sociais e culturais relacionados ao uso incessante das redes sociais”, defendeu o especialista, que aprofunda o tema no livro “Violência e tabu entre professores e alunos: a internet e a reconfiguração do elo pedagógico”.
O diálogo também é a proposta da presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha. Ela afirmou que é preciso melhorar a maneira de discutir assuntos como esse com os pais e reforçou a importância de equipes multidisciplinares e da presença de profissionais como os professores mediadores, que buscam solucionar conflitos. “Esse foi um projeto que deu certo, mas não está presente em todas as escolas, gostaríamos que todas tivessem”.
Maria Izabel lembrou que violências como o cyberbullying ferem o sentimento dos professores e afastam os profissionais dos alunos e contou que sentiu esse problema mesmo nas ocupações das escolas estaduais. “Alguns professores me diziam que não conseguiam se unificar com alunos que já tinham lhes ferido”, afirmou.
Ronaldo Motta, coordenador da Apeoesp em São Carlos, comentou que o cyberbullying pode ser mais comum até que a violência direta, mas os professores nem sempre ficam sabendo das publicações e, quando sabem, não denunciam por vergonha. Ele também reforçou que a orientação nesses casos é a comunicação à polícia, com registro do boletim de ocorrência.
Cyberbullying
Em novembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que cria o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). A norma especifica oito tipos de violência, incluindo a virtual, definida como "depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social", e tem por objetivo combater essas práticas em toda a sociedade.
Em novembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que cria o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). A norma especifica oito tipos de violência, incluindo a virtual, definida como "depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social", e tem por objetivo combater essas práticas em toda a sociedade.
A lei estipula, entre outras medidas, a capacitação de professores e a assistência psicológica e jurídica a vítimas e agressores, e entra em vigor em fevereiro de 2016, como mostrou o Fantástico (veja no vídeo acima).
"Este programa de combate à intimidação sistemática abrange pontos e medidas relevantes em relação às práticas de bullying e cyberbullying. Mas o aspecto mais importante refere-se à criação e reprodução de um clima cultural anti-bullying e cyberbullying entre professores, alunos, pais e gestores educacionais, de tal maneira que a discussão sobre as razões de tais violências físicas e simbólicas sejam objeto de debate constante. Se esse programa servir para estimular tais debates contínuos, terá cumprido o seu papel", avaliou Zuin.
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