segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Educar os filhos hoje é mais desafiador, dizem especialistas

Psicólogas debatem aumentos de plásticas na adolescência, bullying e acesso à internet


Jornal do BrasilRafael Gonzaga*

este domingo (12) é comemorado o Dia das Crianças e a cada ano os pais precisam se atualizar mais quanto às mudanças da sociedade em relação a essa fase tão importante para a formação de adultos saudáveis. Porém, nem sempre os pais conseguem lidar com fatores como o aumento da influência da internet na vida dos filhos ou mesmo com a questão do bullying nas escolas. Especialistas afirmam que, atualmente valores como a contingência e a tolerância à frustração devem ser desenvolvidos na infância para permitir a adaptação da criança na sociedade e para que ela possa lidar com as dificuldades da vida adulta.
De acordo com a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria, as crianças hoje em dia têm muito mais voz e são consideradas de forma muito mais colaborativa do que em relação a vinte, trinta anos atrás. Com esse aumento das condições de interação e no poder deescolha, a psicóloga sugere que os pais estejam mais atentos e mais voltados a uma educação voltada para o ensino dos limites de uma forma mais respeitosa. “O processo de educação hoje em dia é algo muito mais próximo, mas também mais desafiador. Os métodos antigos às vezes não funcionam muito bem, essas crianças têm mais propriedade na fala do que pensam, até porque são mais ouvidas dentro de casa”, aponta.
A psicóloga Maria Angela Gorayeb explica que nunca se exigiu tanto das crianças em termos de desempenho como é feito hoje em dia, ao mesmo passo que o comportamento delas acaba sendo negligenciado. “As crianças hoje têm liberdade em excesso para tomar decisões e liberdade limitada quanto à vida ao ar livre, por razões das mudanças urbanas e do aumento da criminalidade. Elas também têm muito acesso a comida calórica e sedentarismo, mas são pressionados pelos padrões estéticos de magreza. Estão muito mais expostas ao mundo adulto, sem que seja sendo fornecido algum preparo emocional, na maioria dos casos”, conta.
As influências culturais também vêm alterando a forma como crianças e adolescentes se enxergam na sociedade. Cerca de 13% das cirurgias plásticas realizadas hoje no Brasil são em adolescentes e, entre 2008 e 2012, a procura por cirurgias plásticas entre adolescentes de 13 a 18 anos subiu de 37 mil para 91 mil. A psicóloga Gorayeb explica que o Brasil lidera várias estatísticas ruins, entre elas a de cirurgias desnecessárias. “Os adolescentes estão seguindo o modelo dos adultos, que não têm maturidade emocional para administrarem os próprios problemas e assim não podem ajudar os filhos. A classe médica tem sua parcela de responsabilidade, mas acho que os interesses financeiros falam mais alto”, revela.
No dia das crianças, psicólogas apontam as principais mudanças na relação da sociedade com as crianças
No dia das crianças, psicólogas apontam as principais mudanças na relação da sociedade com as crianças
Internet
O aumento da globalização e do acesso à informação também é um fator que muda a forma como crianças se relacionam com a comunidade. Cerca de 97% das crianças brasileiras usam internet e cerca de 54% de crianças entre 6 e 9 anos têm Facebook no Brasil, mais que o triplo da média mundial. Para Daniella, o desafio atualmente está m permanecer próximo aos filhos, visto que a internet hoje acaba sendo um facilitador de um relacionamento mais superficial. “Os pais devem ter cuidado para que essa ferramenta seja usada de maneira positiva, sem perder o equilíbrio. É preciso respeitar a idade sugerida de filmes, de jogos, de sites”, avalia.
O uso de internet e eletrônicos deve ser restrito a no máximo duas horas por dia e, preferencialmente, deve-se evitar as duas horas que antecedem o momento de dormir. Gorayeb lembra que as crianças estão dormindo muito pouco atualmente, podendo gerar hiperatividade e déficit de aprendizagem.  “O nível de excitação que estas atividades causam nas crianças é aditivo, e os danos são vários: falta de atividade física, ansiedade, lesões por esforço de repetição em dedos e punhos, perturbação do sono”, enumera a especialista
A psicóloga Daniella explica que os adultos precisam lidar com o desafio de educar ao mesmo tempo em que também estão aprendendo. “A criança precisa ter uma noção de que o mundo virtual pode ser tão real quanto o mundo do lado de fora do computador. Uma criança de seis ou sete anos talvez não tenha maturidade para perceber o quão real é o mundo virtual e quanto as conseqüências são reais. O estranho parece menos estranho por estar no computador, mas ele é tão estranho quanto o desconhecido na rua”, aponta.
Bullying
A questão do bullying é outro debate recente no universo da infância e da adolescência. De acordo com Daniella, é preciso avaliar a posição tanto de quem sofre, quanto de quem pratica. Segundo a psicóloga, por conta da internet, o bullying ultrapassou os muros das escolas. “O tamanho que isso toma hoje em dia é muito grande. A criança que sofre bullying pode sim entrar em depressão e se sentir profundamente invadida. Hoje nós temos delegacias de internet e as escolas têm se preparado bastante nisso de oferecer auxílio”, explica.
Para a psicóloga Maria Angela Gorayeb, o bullying está mais agressivo, física e emocionalmente. Segundo a psicóloga, é possível que haja influência dos filmes, da TV e do games, mas também faltam alguns aspectos educacionais na educação das crianças. “Os pais e a escola não devem tolerar o desrespeito pelo outro, a criança precisa saber se colocar no lugar do outro e imaginar o que ele está sentindo. A escola atualmente vive uma situação difícil, os pais estão super protetores e muitas vezes não ensinam os filhos a respeitar a autoridade de professores e funcionários, isto é um grande erro”, indica a especialista.
*Do programa de estágio do JB

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