Escolas se candidatam para ter professores treinados em prevenir conflitos
Jornal A Cidade - Jucimara de Pauda
Sombras do bullying e de conflitos ganham mais atenção (Foto: 01.jul.2009 - Weber Sian / A Cidade)
O aumento de casos de bullying, indisciplinas, brigas e até o uso de drogas fez aumentar a procura por professores mediadores nas escolas estaduais de São Paulo.
Em Ribeirão Preto, o número de educadores especializados em atuar no combate a estes conflitos aumentou 148% entre 2010 e 2013. Há três anos eram 25 profissionais e hoje são 62. Na região, no mesmo período, o aumento foi de 183%. Em 2010, eram 37 e hoje são 105.
Além de atuar na mediação de conflitos, os professores trabalham em parceria com a comunidade para acolher os estudantes que sofrem com drogas ou até gravidez indesejada.
“A demanda crescente pelo profissional é resultado do aumento de crianças no ensino formal e também da diversidade que temos e que resulta em conflitos”, diz Felippe Angelli, coordenador do Sistema de Proteção Escolar da Secretaria de Estado da Educação.
Projetos
A escola interessada no mediador se candidata para receber o profissional. Para isto, faz um projeto onde expõe quais os motivos do interesse no especialista.
“Fazer o projeto é bom porque a escola faz a autoavaliação de suas necessidades", diz Angelli.
O coordenador acredita que o projeto, inédito no país, é um sucesso. Uma pesquisa realizada entre as escolas de todo o Estado de São Paulo mostrou que 90% dos diretores querem continuar com o mediador, 86% acham que melhorou a relação de convivência na escola e 76% dizem que o processo de ensino também melhorou.
Pesquisa feita pela secretaria aponta que o bullying é um dos principais problemas nas escolas estaduais.
O levantamento aponta que 98,2% dos servidores relatam que os mediadores realizam programas sobre o assunto, 97,5% fazem ações contra indisciplina, 92,5% trabalham sobre os perigos do uso de álcool e drogas, 88,1% criaram ações contra brigas e vandalismo e 72,7% contra agressões.
Bullying
O bullying e a violência não atingem apenas alunos das escolas públicas. Muitos casos que ganharam a mídia nacional aconteceram na rede particular.
Em 2009, um caso impressionou: uma adolescente foi apelidada de “bode” pelos colegas que postaram os insultos por rede social. A menina ficou tão magoada que chegou a ter vitiligo. Até hoje, a família não entende por que a garota virou alvo dos colegas. O caso foi levado à justiça e dois meninos foram condenados a fazer trabalho comunitário.
Em 2010, oito meninas com idades entre 12 e 15 anos, se uniram e criaram uma página no Orkut denominada “Bonde do Capeta”.
O grupo ameaçava colegas da Escola Estadual Domingos Spinelli, no Adelino Simioni. Uma foi espancada e teve os cabelos arrancados. O motivo de tanta violência: as meninas ameaçadas tiravam boas notas e andavam bem vestidas.
Aparecida Rita Lopes diz que é preciso atuar antes que o conflito se agrave (Foto: Ronny Santos / Especial)
‘Droga e violência ficam longe agora’
A professora mediadora Aparecida Rita Lopes, que trabalha há um ano na escola vereador Orlando Vitaliano, no Quintino Facci I, zona Norte da cidade, diz que o principal papel do mediador é saber “escutar” o estudante para que o conflito seja solucionado. O colégio reúne 1.100 alunos em três períodos.
“O meu papel é entrar em contato com as crianças no ato do conflito, mas procuro trabalhar com a prevenção da violência. Eles vão decidir a melhor forma de melhorar a convivência”, afirma.
Ela explica que o mediador também orienta os estudantes sobre áreas de saúde, convivência familiar e projetos que integrem a escola com a comunidade.
“Procuramos trazer a família para a escola e buscamos parcerias. O trabalho tem funcionado graças ao empenho de toda a equipe”, diz
Ela avalia que nestes dois meses o trabalho obtece resultados satisfatórios. “Hoje, os conflitos ainda existem, mas são solucionados dentro da escola. Os alunos não praticam atos de violência e raramente a ronda escolar é chamada. Se há drogas, é no entorno da escola”, analisa.
Rede social discute violência na escola
“O professor mediador não tem treinamento adequado para agir em casos de violência nas escolas”. A declaração é do professor José Eduardo Oliveira, doutor e mestre em violência escolar pela USP (Universidade de São Paulo) campus de Ribeirão Preto. Ele também atua na rede pública de ensino.
Ele afirma que a maioria desses professores são readaptados, isto é, eles tiveram problemas de saúde ou emocionais e não podem ficar em sala de aula, e foram colocados em bibliotecas ou para mediar conflitos.
“Eles são bem intencionados, mas não tem perfil ou formação adequada para esta função. O professor mediador seria uma solução, desde que fosse alguém treinado para tal, e não um cargo/função que caiu na cabeça de alguns que sem culpa alguma, não sabem o que fazer. É uma saída política do governo para a questão da violência na escola”, diz.
Para tentar ajudar estes profissionais, José Eduardo criou uma página no Facebook, rede social, onde promove a discussão sobre a violência nas escolas de Ribeirão Preto e região. O ponto de encontro on-line já reúne quase três mil seguidores que opinam sobre o assunto, a maioria professores.
“O objetivo da página é servir como um espaço de discussões e atuar como um grupo de estudos e apoio às escolas acometidas pela violência”, diz o professor.
Ele também salienta que o grupo tem a intenção de trocar conhecimentos e promover palestras para a compreensão da violência para que os profissionais que atuam nesta área possam agir balizados por conhecimentos técnicos e científicos.
Os mediadores também passam por avaliação
O trabalho dos professores também será avaliado pelos diretores de escola e caso o desempenho deles seja aprovado, poderão ser reconduzidos à função por mais um ano.
Os docentes selecionados para a função serão capacitados e observarão, no desenvolvimento dessas atribuições, metodologia de trabalho a ser definida pela Secretaria de Estado da Educação.
Uma resolução determina que a função do mediador também inclui a orientação de pais dos alunos, ou responsáveis, sobre o papel da família no processo educativo e a análise dos fatores de vulnerabilidade e de risco para os estudantes.
Os professores-mediadores deverão trabalhar 30 horas semanais, sendo 25 em atividades com alunos e cinco horas de carga de trabalho pedagógico.
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