Enviado por luisnassif
Autor:
Luiz Claudio Tonchis
Na última década a violência nas escolas tem
preocupado o poder público e toda sociedade, principalmente, pela forma
como esta tem se configurado. O conflito e violência sempre existiram e
sempre existirão, principalmente, na escola, que é um ambiente social em
que os jovens estão experimentando, isto é, estão aprendendo a conviver
com as diferenças, a viver em sociedade.
O grande problema é que a violência tem se tornado
em proporções inaceitáveis. Os menos jovens, como eu, estão assustados.
Os professores estão angustiados, com medo, nunca se sabe o que pode
acontecer no cotidiano escolar; os pais, preocupados. Não é raro os
jornais noticiarem situações de violência nas escolas, as mais
perversas.
Não quero dizer com isso que antes não existia
violência. Existia sim, e muita. “Desde que o mundo é mundo, há
violência entre os jovens”. Todos os diferentes, para o bem ou para o
mal, são vítimas em potencial na escola, há muito tempo. Brigas,
agressões físicas, enfim, sempre existiram.
O que não existia antes e, que hoje tornou comum é
que os jovens depredam a escola, quebram os ventiladores, portas,
vidros, enfim, tudo que é possível destruir, eles destroem. Antes, não
se riscava, não murchava ou cortava o pneu do carro do professor.
Agredir fisicamente ou fazer ameaças ao mestre, nem pensar. Não se
levava revolver e faca e não se consumia drogas e álcool no interior das
escolas. No meu tempo, por exemplo, nunca se ouviu falar que um colega
tinha assassinado um amiguinho na sala de aula ou que alguém tinha
jogado álcool no colega e ateado fogo. Enfim, são muitos os relatos de
violência extrema no interior das escolas.
Muitas de nossas crianças e adolescente passam por
violências, e ficam calados – algumas delas não têm coragem de revelar,
outras, por medo da retaliação do agressor. Essa violência entre colegas
não é a única. A violência entre professores e alunos também tem
crescido. Assustadoramente, a violência de alunos contra professores é a
regra agora, e não mais o oposto. A violência não contra um ou outro,
mas contra a escola mesmo, em todos os sentidos e modos, também tem
aumentado.
O que tem intrigado a todos é que esse aumento da
violência veio junto com a ampliação dos direitos dos cidadãos e com o
Estatuto da Criança e Adolescente. Essa é uma questão que não devemos
desprezar. No meu ponto de vista, o Estatuto prioriza os direitos em
detrimento dos deveres.
Após a promulgação do Estatuto as ações contra a
violência nas escolas tem se realizado a partir da mediação, conselhos,
etc. O que, também, é muito bom. A mediação de conflitos é importante,
necessária, e muitos problemas são resolvidos, mas, muitas vezes, não
basta. Junto com a mediação, infelizmente, tem que haver a punição. Vou
citar um exemplo que não é do ambiente escolar, mas por analogia podemos
refletir sobre essa questão. Por exemplo, o problema de dirigir um
veículo embriagado. A conscientização é importante? Sim. Resolve? Não. É
necessário fiscalização, multa, prisão, etc.
Não estamos conseguindo resolver o problema da
violência nas escolas e, isto é grave. Por quê? Falta, para isso,
entendimento, lucidez. Ou seja, falta pensamento crítico, entender o
“porque” agir e “como” se deve agir. Com tais perguntas é que os
problemas podem ser amenizados. Para resolver, de fato, é preciso sair
da mera indignação moral baseada em emoções passageiras, que tantos
acham magnífico expor. Aqueles que expõem suas emoções se mostram como
pessoas sensíveis, bondosas, creem-se como antecipadamente capacitados
porque emotivos. Porém, não basta. As emoções em relação à violência na
escola passam e tudo continua como antes. Para isso, não podemos ver o
problema da violência sob um só viés. É preciso dialética,
racionalidade, determinação e, sobretudo, a união de todos.
Podemos classificar inúmeras questões que levam a
violência para o ambiente escolar. Por exemplo, os mais gerais:
diferenças sociais, culturais, psicológicas, etc. e tantas outras como:
experiências de frustrações, diferenças de personalidades, competição,
etc. Também, podemos enumerar vários tipos, áreas, níveis de violência.
Cada área do saber tem o seu método próprio de análise, a Filosofia,
Sociologia, Psicologia e o Direito. Hoje, sabemos que a tendência da
desfragmentação do saber é o melhor caminho a trilhar. Amultidisciplinaridade
e a interdisciplinaridade é a proposta em voga de superação da
fragmentação do saber. Somente através do dialogo aliado a práxis
efetiva é que poderemos amenizar o grau de violência no interior das
escolas.
Esse círculo de violência deve ter um olhar mais
universal, principalmente, por aqueles que pensam sobre a educação. É
necessário ver que a violência contra a instituição escolar, contra
colegas e professores e, de certo modo, a violência dos adultos contra
as crianças, também, contém elementos de caracterização bem comuns. A
não aceitação das diferenças em toda a sua amplitude – se é diferente, é
hostilizado, desprezado, humilhado. E quando a vítima reage é
violentada.
A não aceitação das diferenças, também, perpassa
pela escola como instituição, com seus próprios professores,
funcionários e com os próprios alunos. Essa uniformização, isto é,
uniformizar o diferente, é feita com violência – em todos os casos. E
esse comportamento institucional, gera violência.
Não são raros os casos em que o professor que faz a
aula diferente, ainda que seja boa, é admoestado pelo diretor. O
diretor que pensa diferente é castrado pelos supervisores ou pelo
dirigente regional de ensino e, assim, sucessivamente. O aluno que é
diferente, que pergunta demais é admoestado pelo professor e, aquele que
pergunta na hora que a aula está acabando é vaiado pelos colegas. Essas
são pequenas violências que alimentam as grandes violências. Não
reconhecer nesse processo é o nosso grande problema. Atualmente, vivemos
um problema ético de não reconhecimento da nossa incompetência, o
problema sempre são os outros, eu não.
A escola é o primeiro ambiente social que a criança
experimenta, antes disso, ou seja, na socialização primária se
restringe a família, igrejas, vizinhos, enfim, um circuito bastante
restrito. É na escola, aonde ele vai, realmente, experimentar um
ambiente social – lá ele vai aprender a conviver com as diferenças e
constituir um ser para si. Esse ser é para a sociedade.
Por isso, a urgência que se tornou essencial hoje –
e que muitos não percebem, é tratar a violência na escola como um
trabalho de lucidez quanto ao que estamos fazendo com nosso presente,
mas, sobretudo, com o que nele se planta e define o rumo futuro. Para
isso, é preciso renovar nossa capacidade de diálogo e propor um novo
projeto de sociedade no qual o bem de todos esteja realmente em vista.
Fonte: Luiz Nassif OnLine
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