UMC
UNIVERSIDADE MOGI DAS CRUZES
LUIS MARCOS CRUZ SOUSA
VIOLÊNCIA - AMBIENTE ESCOLAR UM CAMPO DE GUERRA
A educação tem por objetivo formar cidadãos e esses
criarem relações pautadas no respeito, valorização e aceitação da pessoa
humana, seu meio, a natureza e todas as espécies que coexistem em
completa interdependência, contudo as civilizações convivem em todos os
tempos com a violência desenfreada e o desrespeito. Passamos por
diversas evoluções, da idade da pedra e seus rudimentares inventos até a
complexidade de toda nossa era de tecnologias fantásticas e avanços
incríveis, todavia convivemos com as mesmas barbáries, em se tratando de
relações humanas, como se ainda vivêssemos sem nenhuma evolução.
Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
O que o macaco fazia
Eu não trabalhava
Eu não sabia
Que o homem criava
E também destruía...
Homem Primata
Capitalismo Selvagem...
A letra acima, uma música da banda Titãs, ilustra muito
bem todo esse contexto, que tentamos entender, que filósofos pensaram,
pesquisadores acumularam e acumulam dados, sociólogos tentam explicar,
mas que resultados ainda não se veem, ao contrário... cada vez mais se
instaura um quadro de violência insustentável e absurdo.
No livro Juventude Criminalizada, Paulo Ornelas Rosa
analisa as formas de sociabilidade refletindo sobre os mecanismos
disciplinares e de controle impostos a uma juventude, pobre,
marginalizada e estigmatizada em função das relações e condições sociais
a que são submetidos, num estado que nutre nos indivíduos uma relação
de poder amputadora. Aborda o nosso sistema penitenciário e suas ações
socioeducativas e os efeitos que as mesmas causam e o que deveriam de
fato produzir, ele, o autor busca justificativas que expliquem toda essa
violência que se instaurou. Weber afirma que nenhum efeito é movido
apenas por uma causa, o que se percebe é que está no nosso sangue, nas
consequências de uma sociedade projetada para o lucro, para a mais valia
em detrimento do Homem.
O ser humano é tratado pela cor de pele, sexo, origem
genealógica, sexualidade, posses, esquece-se que no final prevalece
apenas uma coisa: homem e mulher – pessoas humanas todas iguais,
merecendo o mesmo respeito, tratamento, consideração e valorização.
Nossa escola é uma instituição arcaica, que não trabalha as questões
que movem o mundo e a vida, sexualidade, morte, amor, ódio não são
trabalhados por nossos currículos. Para muitos céticos, violência e
criminalidade é tema e papel único da segurança pública, mas o que se
percebe é que violência e criminalidade têm atingido patamares
alarmantes e assustadores. Faz-se necessário que a escola, em todas as
suas vertentes, não importando se de educação infantil ou pós-graduação,
assuma uma postura de combate, e nas trincheiras da vida utilize todas
as suas armas. A educação pensada, intencional, bem planejada, de fato
conforme nossa realidade, tem poder e capacidade de transformação.
Por décadas, a educação "das escolas dos ricos e dos pobres" contribui para o aumento e manutenção da violência.
Racismo, homossexualismo, religião, partidarismo
político e esportivo, temas que precisam compor a grade curricular.
Chega de matar e morrer por um time, uma religião, pela cor da pele, um
estilo musical, pela opção (aceitação) sexual, etc... A escola tem à sua
disposição mecanismos capazes de reverter esse quadro. A educação
conduz, ou deveria conduzir à aceitação, valorização e consciência da
necessidade das diferenças.
É inadimissível uma escola que separa por classes, que
tem um nível para um grupo e outro nível para outro, escola de cotas, de
bolsas, de ricos, de pobres, de brancos, de negros. A escola é
patrimônio da humanidade e para tanto tem que ser de fato e de direito
para todos, indistintamente para todos e de todos. Precisa-se ir à
escola, fazer escola, ser escola.
"[...] O objetivo da educação é a integração – a preparação da
criança para seu lugar na sociedade, não apenas em termos vocacionais...
então não é de informação que ela precisa, mas de sabedoria,
equilíbrio, auto-realização, entusiasmo...qualidades que só podem vir de
um treinamento unificado dos sentidos para atividade de viver."(READ,
Herbert .2001, p. 256)".
Somos violentados por um sistema de avaliação que não
estimula o pensar, a instituição escola: programa – não constroi seres
pensantes!
Evasão, trauma, pânico, rejeição é o que a avaliação escolar tem gerado nos indivíduos.
O modelo atual de avaliação pouco se mede, temos
questionários mal formulados, indiferentes a uma realidade de uma
educação construtivista, ainda mais, nosso modelo de educação é
construtivista, a avaliação é arcaica, tradicionalista. Na maior parte
das vezes, não leva ao raciocínio, estimula-se apenas a memorização.
"[...] Porém, nada é mais fugaz, superficial, aleatório que um
produto pretensamente acabado em uma avaliação estritamente escolar.
Todos sabem muito bem que esse produto pode ser o resultado de uma
conjuntura particularmente favorável, de uma estratégia de decodificação
da expectativas do ensino – que não é garantia nenhuma da compreensão
da questão ou da aquisição provisória de reflexos mentais fundados eles
próprios sobre uma memória muito volátil. (MEIRIEU, Philipe, 2002, p.
242)
Nossos vestibulares, concursos, exames, etc... São
verdadeiras sessões de torturas que traumatizam, e de fato não medem
conhecimentos construídos, não forma indivíduos pensantes, cria-se
apenas, "robozinhos em série".
Qual seria o modelo ideal de avaliação? Como medir o
resultado, o teor e a qualidade da aprendizagem? Como ter certeza
suficiente da capacidade, mediante uma avaliação de competências?
O que todo esse sistema tem gerado?
Temos um quadro de violência assustador, alunos
fuzilando colegas dentro das salas de aula, trotes que transformam
universidades em campo de concentração, bulling, professores se
degladiando, tudo fruto dum estado militarizado que também convive com
um estado paralelo e altamente militarizado – sem regras – sem pudor –
sem leis. No livro Vigiar e Punir Michel Foucault, atribui tudo isso ao
estado e suas relações de poder gerando todo um contexto social por
trás da delinquência e criminalidade.
"[...] O radical, comprometido com a libertação dos homens, não se
deixa prender em "circulos de segurança...", nos quais aprisione também a
realidade. (Freire, Paulo, Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 2005 )
Em face de tantas transformações que o presente momento
nos propicia, a essa escola, principal meio de difusão do conhecimento,
órgão formador, e espaço para a pesquisa, cabe uma postura firme de não
aceitação do mecanicismo tradicionalista, do fazer por fazer, da falta
de compromisso.
"[...] Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as
possibilidades para sua própria produção ou sua construção [...]"
(FREIRE, 1996, p. 52).
Ergue-te escola altruísta, mostra a tua cara, cumpre o
teu papel, educa, mas com intenção, apresente caminhos, mas deixa esse
indivíduo que a te procura, andar com suas próprias pernas, permita que
ele se transforme, que seja pensante, ativo, dinâmico.
"[...] A situação, na medida em que é concebida em sua globalidade e
escapa ao condicionamento linear, na medida em que é oferecida à
atividade pessoal imprevisível e invisível do aprendiz, representa uma
espécie de "renúncia" do poder do formador que permite ao sujeito que
aprende assumir ele próprio o poder sobre sua aprendizagem. (MEIRIEU,
Philipe. 2002, p. 242)
Procura-se uma escola que mobilize todas as ferramentas
de que dispõe, que grite bem alto, e esse grito incomode e desperte do
sono e do seu berço esplendido, toda uma geração. Só assim teremos uma
sociedade mais humana, nos tornaremos de fato, mais gente!
Escola crítica, com visão ambiental e do trânsito, em
constante vigilância metodológica, pedagógica, epistemológica, na
condução dum projeto pedagógico que envolva valores econômicos,
culturais, sociais e políticos. A bendita escola da vida pela vida, que
problematize e conduza o sujeito aprendente à tão sonhada cartase de
Wachowicz.
Escola, escola, escola... Qual o teu papel? Nas
trincheiras da vida e do viver só te cabe uma coisa rasgar com todo esse
mecanismo de poder, para que o grande outro – a verdade, crieem
paradigmas concretos que rompam definitivamente com toda herança
negativa que fora tatuada em nosso homo sapiens atrelando-nos ao estado
perene de Hominideos.
Daí o empenho em transformar a escola em uma forma, uma forma de vida
social, uma comunidade em miniatura, em harmonia com as experiências
fora do âmbito da escola. (MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa, 1990, p. 54)
Toda essa teia emblemática nos revela uma realidade nua
e crua: constroi-se mais estabelecimentos prisionais que instutuições
escolares, num modelo socio-punitivo que não se sabe ser o mais
coerente, que não reeduca, reintegra, ressorcializa. Por outra visão não
se percebe intenção por parte desse indivíduo encarceirado de qualquer
ressocialização, conforme Foucault, Ornelas e Freire, o sistema
carcerário produz tudo isso, entretanto percebe-se que os
estabelecimentos prisionais têm sido vistos e pensados por parte
daqueles que pra li são conduzidos, como faculdades do crime, aqueles
que por esses estabelecimentos passam, perante o crime passam a ter mais
valor, a serem mais respeitados. Acertadamente os três pensadores
referidos defendem a tese que o estado apenas vigia e pune, mas na
cotramão de todo esse pensar percebo que à medida que ao longo do tempo
as penas foram se abrandando, a impunidade fora se apliando, uma
inversão de valores jamais vista passou a tratar culpados como vítimas e
vítimas como números.
O crime tem faculdades, auxílio reclusão diga se de
passagem maior que o salário mínimo vigente no país, visita intima,
alimentação de boa qualidade, defensores de direitos humanos, que mais
parece direito de bandidos, armamento eficiente, e liberdade plena para
matar, invadir, violentar, saquear – são vítimas, coitadinhos
construidos por um estado militarizado e desumano.
Enquanto não acordamos para essa realidade e culpados
forem tratados como tal; leis que realmente levem em condição a
realidade da violência e da sociedade com todo o seu contexto histórico,
social, politico, cultural e filosófico; esbelecimentos prisionais
conforme tipo de delito e o cidadão de bem seja tratado, reverenciado
como pessoa de fato humana, nada mudará. E a violência transformará
nossas instituições educacionais em verdadeiros campos de guerra,
torturas – campos de concentração.
Luis Marcos Cruz Sousa -
Perfil do Autor:
Pedagogo, especializando em psicopedagogia pela UMC
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