domingo, 6 de janeiro de 2013

Violência - ambiente escolar um campo de guerra

UMC
UNIVERSIDADE MOGI DAS CRUZES
LUIS MARCOS CRUZ SOUSA
VIOLÊNCIA - AMBIENTE ESCOLAR UM CAMPO DE GUERRA
 
                A educação tem por objetivo formar cidadãos e esses criarem relações pautadas no respeito, valorização e aceitação da pessoa humana, seu meio, a natureza e todas as espécies que coexistem em completa interdependência, contudo as civilizações convivem em todos os tempos com a violência desenfreada e o desrespeito. Passamos por diversas evoluções, da idade da pedra e seus rudimentares inventos até a complexidade de toda nossa era de tecnologias fantásticas e avanços incríveis, todavia convivemos com as mesmas barbáries, em se tratando de relações humanas, como se ainda vivêssemos sem nenhuma evolução.

Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
O que o macaco fazia
Eu não trabalhava
Eu não sabia
Que o homem criava
E também destruía...

Homem Primata
Capitalismo Selvagem...


              A letra acima, uma música da banda Titãs, ilustra muito bem todo esse contexto, que tentamos entender, que filósofos pensaram, pesquisadores acumularam e acumulam dados, sociólogos tentam explicar, mas que resultados ainda não se veem, ao contrário... cada vez mais se instaura um quadro de violência insustentável e absurdo.

              No livro Juventude Criminalizada, Paulo Ornelas Rosa analisa as formas de sociabilidade refletindo sobre os mecanismos disciplinares e de controle impostos a uma juventude, pobre, marginalizada e estigmatizada em função das relações e condições sociais a que são submetidos, num estado que nutre nos indivíduos uma relação de poder amputadora. Aborda o nosso sistema penitenciário e suas ações socioeducativas e os efeitos que as mesmas causam e o que deveriam de fato produzir, ele, o autor busca justificativas que expliquem toda essa violência que se instaurou. Weber afirma que nenhum efeito é movido apenas por uma causa, o que se percebe é que está no nosso sangue, nas consequências de uma sociedade projetada para o lucro, para a mais valia em detrimento do Homem.

              O ser humano é tratado pela cor de pele, sexo, origem genealógica, sexualidade, posses, esquece-se que no final prevalece apenas uma coisa: homem e mulher – pessoas humanas todas iguais, merecendo o mesmo respeito, tratamento, consideração e valorização.
Nossa escola é uma instituição arcaica, que não trabalha as questões que movem o mundo e a vida, sexualidade, morte, amor, ódio não são trabalhados por nossos currículos. Para muitos céticos, violência e criminalidade é tema e papel único da segurança pública, mas o que se percebe é que violência e criminalidade têm atingido patamares alarmantes e assustadores. Faz-se necessário que a escola, em todas as suas vertentes, não importando se de educação infantil ou pós-graduação, assuma uma postura de combate, e nas trincheiras da vida utilize todas as suas armas. A educação pensada, intencional, bem planejada, de fato conforme nossa realidade, tem poder e capacidade de transformação.

              Por décadas, a educação "das escolas dos ricos e dos pobres" contribui para o aumento e manutenção da violência.

              Racismo, homossexualismo, religião, partidarismo político e esportivo, temas que precisam compor a grade curricular. Chega de matar e morrer por um time, uma religião, pela cor da pele, um estilo musical, pela opção (aceitação) sexual, etc... A escola tem à sua disposição mecanismos capazes de reverter esse quadro. A educação conduz, ou deveria conduzir à aceitação, valorização e consciência da necessidade das diferenças.

              É inadimissível uma escola que separa por classes, que tem um nível para um grupo e outro nível para outro, escola de cotas, de bolsas, de ricos, de pobres, de brancos, de negros. A escola é patrimônio da humanidade e para tanto tem que ser de fato e de direito para todos, indistintamente para todos e de todos. Precisa-se ir à escola, fazer escola, ser escola.

"[...] O objetivo da educação é a integração – a preparação da criança para seu lugar na sociedade, não apenas em termos vocacionais... então não é de informação que ela precisa, mas de sabedoria, equilíbrio, auto-realização, entusiasmo...qualidades que só podem vir de um treinamento unificado dos sentidos para atividade de viver."(READ, Herbert .2001, p. 256)".

              Somos violentados por um sistema de avaliação que não estimula o pensar, a instituição escola: programa – não constroi seres pensantes!

Evasão, trauma, pânico, rejeição é o que a avaliação escolar tem gerado nos indivíduos.

              O modelo atual de avaliação pouco se mede, temos questionários mal formulados, indiferentes a uma realidade de uma educação construtivista, ainda mais, nosso modelo de educação é construtivista, a avaliação é arcaica, tradicionalista. Na maior parte das vezes, não leva ao raciocínio, estimula-se apenas a memorização.

"[...] Porém, nada é mais fugaz, superficial, aleatório que um produto pretensamente acabado em uma avaliação estritamente escolar. Todos sabem muito bem que esse produto pode ser o resultado de uma conjuntura particularmente favorável, de uma estratégia de decodificação da expectativas do ensino – que não é garantia nenhuma da compreensão da questão ou da aquisição provisória de reflexos mentais fundados eles próprios sobre uma memória muito volátil. (MEIRIEU, Philipe, 2002, p. 242)

              Nossos vestibulares, concursos, exames, etc... São verdadeiras sessões de torturas que traumatizam, e de fato não medem conhecimentos construídos, não forma indivíduos pensantes, cria-se apenas, "robozinhos em série".

              Qual seria o modelo ideal de avaliação? Como medir o resultado, o teor e a qualidade da aprendizagem? Como ter certeza suficiente da capacidade, mediante uma avaliação de competências?

             O que todo esse sistema tem gerado?

              Temos um quadro de violência assustador, alunos fuzilando colegas dentro das salas de aula, trotes que transformam universidades em campo de concentração, bulling, professores se degladiando, tudo fruto dum estado militarizado que também convive com um estado paralelo e altamente militarizado – sem regras – sem pudor – sem leis. No livro Vigiar e Punir Michel Foucault,  atribui tudo isso ao estado e suas relações de poder gerando todo um contexto social por trás da delinquência e criminalidade.

"[...] O radical, comprometido com a libertação dos homens, não se deixa prender em "circulos de segurança...", nos quais aprisione também a realidade. (Freire, Paulo, Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005 )

              Em face de tantas transformações que o presente momento nos propicia, a essa escola, principal meio de difusão do conhecimento, órgão formador, e espaço para a pesquisa, cabe uma postura firme de não aceitação do mecanicismo tradicionalista, do fazer por fazer, da falta de compromisso.

"[...] Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou sua construção [...]" (FREIRE, 1996, p. 52).

              Ergue-te escola altruísta, mostra a tua cara, cumpre o teu papel, educa, mas com intenção, apresente caminhos, mas deixa esse indivíduo que a te procura, andar com suas próprias pernas, permita que ele se transforme, que seja pensante, ativo, dinâmico.

"[...] A situação, na medida em que é concebida em sua globalidade e escapa ao condicionamento linear, na medida em que é oferecida à atividade pessoal imprevisível e invisível do aprendiz, representa uma espécie de "renúncia" do poder do formador que permite ao sujeito que aprende assumir ele próprio o poder sobre sua aprendizagem. (MEIRIEU, Philipe. 2002, p. 242)

              Procura-se uma escola que mobilize todas as ferramentas de que dispõe, que grite bem alto, e esse grito incomode e desperte do sono e do seu berço esplendido, toda uma geração. Só assim teremos uma sociedade mais humana, nos tornaremos de fato, mais gente!

              Escola crítica, com visão ambiental e do trânsito, em constante vigilância metodológica, pedagógica, epistemológica, na condução dum projeto pedagógico que envolva valores econômicos, culturais, sociais e políticos. A bendita escola da vida pela vida, que problematize e conduza o sujeito aprendente à tão sonhada cartase de Wachowicz.

              Escola, escola, escola... Qual o teu papel? Nas trincheiras da vida e do viver só te cabe uma coisa rasgar com todo esse mecanismo de poder, para que o grande outro – a verdade, crieem paradigmas concretos que rompam definitivamente com toda herança negativa que fora tatuada em nosso homo sapiens atrelando-nos ao estado perene de Hominideos.

Daí o empenho em transformar a escola em uma forma, uma forma de vida social, uma comunidade em miniatura, em harmonia com as experiências fora do âmbito da escola. (MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa, 1990, p. 54)

              Toda essa teia emblemática nos revela uma realidade nua e crua: constroi-se mais estabelecimentos prisionais que instutuições escolares, num modelo socio-punitivo que não se sabe ser o mais coerente, que não reeduca, reintegra, ressorcializa. Por outra visão não se percebe intenção por parte desse indivíduo encarceirado de qualquer ressocialização, conforme Foucault, Ornelas e Freire, o sistema carcerário produz tudo isso, entretanto percebe-se que os estabelecimentos prisionais têm sido vistos e pensados por parte daqueles que pra li são conduzidos, como faculdades do crime, aqueles que por esses estabelecimentos passam, perante o crime passam a ter mais valor, a serem mais respeitados. Acertadamente os três pensadores referidos defendem a tese que o estado apenas vigia e pune, mas na cotramão de todo esse pensar percebo que à medida que ao longo do tempo as penas foram se abrandando, a impunidade fora se apliando, uma inversão de valores jamais vista passou a tratar culpados como vítimas e vítimas como números.

              O crime tem faculdades, auxílio reclusão diga se de passagem maior que o salário mínimo vigente no país, visita intima, alimentação de boa qualidade, defensores de direitos humanos, que mais parece direito de bandidos, armamento eficiente, e liberdade plena para matar, invadir, violentar, saquear – são vítimas, coitadinhos construidos por um estado militarizado e desumano.

              Enquanto não acordamos para essa realidade e culpados forem tratados como tal; leis que realmente levem em condição a realidade da violência e da sociedade com todo o seu contexto histórico, social, politico, cultural e filosófico; esbelecimentos prisionais conforme tipo de delito e o cidadão de bem seja tratado, reverenciado como pessoa de fato humana, nada mudará. E a violência transformará nossas instituições educacionais em verdadeiros campos de guerra, torturas – campos de concentração. 

- Perfil do Autor:
Pedagogo, especializando em psicopedagogia pela UMC

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