Por Aline Imercio para o Observatório da Imprensa
A divulgação do “Mapa da Violência – Os jovens do Brasil” trouxe um dado um tanto quanto alarmante: a taxa de suicídio de jovens em São Paulo aumentou 42% entre os anos de 2002 e 2012. Esse dado chocou muitas pessoas, mas para alguns especialistas não deveria chocar. Afinal, o suicídio é um problema sério no Brasil e em outros países pelo mundo onde pouco é discutido e quase nunca pautado pela imprensa.
Nas escolas de Jornalismo e nas cartas de princípios editoriais aprendemos: “Evite falar sobre suicídio em jornais, a não ser que a pessoa tenha muito destaque em nosso meio. O melhor que se tem a fazer é calar sobre essa notícia, pois, ela pode influenciar a mente de quem assiste ou lê.” O assunto suicídio é tabu no jornalismo. Na maioria das vezes não se pode falar e muitos até evitam fazer reportagens que alertem sobre a prevenção dos casos.
Em uma das edições do seu Conexão Repórter, Roberto Cabrini falou sobre suicídio e questionou o silêncio da imprensa sobre o assunto: “Já que não falamos e eles ainda acontecem, não seria porque a sociedade não sabe perceber a tendência à morte provocada de seus familiares?”
Falar de um problema pode não incitar a cometê-lo. Com o incêndio na boate Kiss, ocorrido em 2012, muitas boates pelo Brasil decidiram estar de acordo com a lei de prevenção de acidentes e os adolescentes prestaram mais atenção na segurança dos locais que estavam frequentando. E tudo isso aconteceu porque o acidente foi trabalhado pela imprensa, foi pauta em inúmeros veículos e trouxe a problemática das consequências que um local sem segurança pode trazer aos seus frequentadores.
Quantas pautas estamos perdendo?
As pautas em torno do suicídio devem problematizá-lo e mostrar às famílias o quanto este pode ser um problema, na maioria das vezes evitável. Uma das causas do suicídio entre jovens é obullying sofrido no colégio ou entre amigos, bullying esse muitas vezes desconhecido pelos pais. Não seria então o caso de a imprensa enfatizar mais esse problema? Provocar discussões, textos problematizadores que façam os pais entenderem a relação de seus filhos com os colegas da escola? Talvez com esse estímulo e a orientação correta a pais e a educadores essa situação pudesse ser evitada, ou ao menos amenizada.
Muitos psicólogos e especialistas no assunto orientam também que uma pessoa propensa a praticar o suicídio pode dar sinais de que realmente possa fazê-lo. O afastamento dos mais queridos, a instabilidade emocional, a entrega a vícios, ou mesmo a falta de motivação para tudo que se faz são apenas alguns dos sintomas de quem pode estar pensando em tirar a vida. Será que mostrar esses sintomas, discutir em programas de TV, em jornais, em websites os perigos que eles podem representar não faria com que um ente querido possa ao menos tentar ajudar essa pessoa? Talvez sim.
Pautar esse assunto é também pensar em políticas públicas para o controle do suicídio e fazer a medicina também evoluir nesse sentido. O jornalismo tem o poder de trazer à tona problemas da sociedade, causar a discussão acerca do assunto e até formar a opinião pública sobre determinado tema. Falar do suicídio não deve ser mais um tabu, principalmente em uma era que podemos buscar a informação, em qualquer lugar, de qualquer maneira. Então, por que não trazer o assunto à tona de uma maneira correta, apurada e que possa ajudar muitas famílias a evitarem esse tipo de tristeza? Quantas pautas estamos perdendo sobre este assunto e quantas famílias deixamos de ajudar com esse tipo de orientação? É um debate que vale ser colocado à tona.
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Aline Imercio é jornalista
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