domingo, 20 de outubro de 2013

‘Amigos se afastaram’, diz vítima de bullying por problema na coluna

Tatiane viveu uma infância tranquila até os oito anos, mas um problema na coluna obrigou a jovem a enfrentar uma mudança com sabedoria de adulto.


Fonte: Globo Repórter


Osório, Rio Grande do Sul. Terra onde o vento sopra sem dó. Até os 8 anos, Tati viveu aqui uma infância tranquila. Mas um problema na coluna transformou seu corpo. E a criança teve que enfrentar a mudança com sabedoria de adulto.
"Eu ía continuar sendo a mesma pessoa, com um ossinho a mais nas costas, somente", diz Tatiane.
Jundiaí, interior de São Paulo. É farra na hora do recreio. Paulinho e Carol são novatos nesta escola. Acolhidos pela turma com muito carinho.
Carol: Eu não queria ser outra pessoa, queria ser do jeito que eu sou.
Globo Repórter: Tá bom assim?
Carol: Tá bom assim.
Globo Repórter: Você se acha gordinho?
Paulinho: Não, não acho!
Tati, Carol e Paulinho provaram cedo o gosto amargo do preconceito.
"Muito preconceito! Muitos amigos se afastaram, porque, ‘ah, ela é a corcundinha! Corcundinha de notre-dame!, tartaruga’", diz Tatiane Picinatto, monitora de educação especial.
Paulinho, 8 anos: Na minha escola, me chamavam de gordinho.
Globo Repórter: E você fazia o quê?
Paulinho, 8 anos: Chamava a professora, a diretora, mas elas não faziam nada!
Globo Repórter: Mas eu sei também que você pegava a sua mochila e...
Paulinho, 8 anos: ...atacava na bunda deles!
Globo Repórter: e eles paravam quando você fazia isso? E aí você ficava triste o tempo inteiro na escola?
Paulinho, 8 anos: Ficava, eu era um menino chateado, todos os dias.
"Ninguém gostava de mim, eu chegava perto de alguém, saíam correndo", conta Carol, 10 anos.
Gozações e isolamento são coisas do passado. Nesta escola, bullying é assunto sério, coibido com firmeza.
"A tolerância é imprescindível, é saber exatamente até onde posso ir, até onde também o outro pode, conhecer o que o outro sente, e saber os limites também. Tolerar naquilo que é possível. Eu sou diferente de você, e você é diferente, né? E saber que não existe duas pessoas iguais”, conta Elaine Cardoso, diretora pedagógica.
"Eu nunca fiquei constrangida com nada. Eu sempre falei ‘se eu tenho, eu tenho que mostrar’. Não tenho que esconder. Se alguém perguntar, eu vou explicar; se alguém ficar olhando, eu vou perguntar se ela quer saber, vou procurar explicar", diz Tatiane.

Tati hoje é professora. Auxilia alunos com necessidades especiais a superarem os desafios.
"Como eu venci os meus, eu quero que eles também vençam os deles. Porque eles também são uma crianças normais. Com as limitações deles, mas especiais tanto quanto os outros", conta Tatiane.
Globo Repórter: E no começo, você sabia fazer as atividades da sala?
Hosana Cristina, 9 anos: Não.
Globo Repórter: E agora?
Hosana Cristina: Agora, eu sei.
Globo Repórter: E quem te ensinou?
Hosana Cristina: A professora Tati.
Globo Repórter: Faz tempo que vc conhece a Tati?
Hosana Cristina: Sim.
Globo Repórter: E você gostou dela logo de cara, porquê?
Hosana Cristina: Porque ela é muito bonita."
Outra criança, foi ainda mais inspirada.
"Quando eu fazia magistério, uma menina de apenas 6 anos chegou em mim e relatou o seguinte: ‘Tia! Eu sei que essa coisa que tu tem nas costas não é um problema, é as asas que você esconde pra ninguém saber que você é um anjo”, conta Tatiane.
O professor Jonathan é amigo de Tati desde sempre. Cresceram juntos. Ele lembra bem dos dias difíceis.
Jonathan: Sempre alvo de piadas, de risos, deboche, na escola, o professor tinha que estar intervindo, sempre essa situação de confronto.
Globo Repórter: Mas você defendia ela das...
Jonathan: Claro! Sempre! Sempre! Arrumei até muita briga na escola por causa disso.
Na casa da Tati, ganhamos um churrasco dos bons e entendemos um pouco mais essa história de superação.
Globo Repórter: O que vocês fizeram pra que ela ficasse tão forte? Tão resistente às críticas?
Fátima de Ávila, doméstica: Olha, tanto da parte de mim e do pai dela, tanto dos avós, sempre lutamos junto com ela pra enfrentar, tudo que a gente pode fazer por ela, fez! E a gente nunca disse assim, ‘não’. Quando falassem alguma coisa pra ela que eu não tivesse por perto, era pra dizer isso aí, ‘ó, eu não pedi pra ser assim, e eu tou bem, e eu não posso fazer nada, Deus me fez assim.’"
Globo Repórter: O olhinho do pai parece que até enche de água, né?
Anésio Picinatto, vigilante: É, não é fácil, né? Ver ela desse jeito?! Quem é que não gostaria de ter ela perfeita?
Globo Repórter: Mas o senhor tem uma filha muito forte, muito alegre, muito vibrante, um exemplo.
Anésio Picinatto: Ah não, isso não posso me queixar, é muito especial mesmo! É que nem diz, ‘é um anjo que caiu ali e ficou pra nós’.
Globo Repórter: Se você tivesse que dar um adjetivo pra você, você daria o quê: normal ou anormal?
Tatiane: Normal!
Globo Repórter: Bonita ou feia?
Tatiane: Bonita!
Globo Repórter: Feliz ou triste?
Tatiane: Feliz!
Globo Repórter: A vida é boa ou ruim?
Tatiane: Maravilhosa!"

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