segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Professores de escolas em área de risco no Piauí ganharão gratificação


Professores e alunos da rede pública sofrem com a violência nas escolas.
Seduc já divulgou relatório com mais de 70 escolas nessa situação.


Do G1 PI

A violência dentro e próximo às escolas tem dificultado o aprendizado dos alunos e o trabalho dos professores na rede pública de ensino no Piauí. Muitos colégios têm sido alvo de criminosos que roubam os ventiladores, aparelhos de ar-condicionado, equipamentos eletroeletrônicos e até a merenda escolar. Por conta desse cenário, os profissionais que trabalham nessas áreas com carga horária de 40 horas vão ganhar gratificação no valor de R$ 100.
Escola no bairro São Cristovão, Zona Leste, foi colocada como área de risco (Foto: Gil Oliveira/ G1)Escola no bairro São Cristovão, Zona Leste, foi colocada como área de risco (Foto: Gil Oliveira/ G1)
Esse conjunto de problemas, juntamente com os fatores sociais da região em que a escola está inserida, motivaram a expedição de portaria da Secretaria de Educação e Cultura (Seduc) que qualifica algumas unidades como escolas instaladas em áreas de risco e/ou de difícil acesso.
A qualificação teve como base o parecer de dados do Comando de Policiamento Comunitário da Polícia Militar em Teresina. Nas ultimas avaliações, publicadas no mês de março deste ano, 67 escolas foram colocadas no relatório, já no mês de agosto, mais 19 escolas entraram para a lista. O relatório gerou uma gratificação financeira para os professores que trabalham nestes locais.
A Unidade Escolar Professor José Amável, no bairro São Cristovão, Zona Leste de Teresina, é uma das que entraram recentemente na lista. Para o diretor da instituição, professor Luiz Carlos Vieira, os dados mostram a realidade vivida nas escolas de toda a capital.
Diretor revela a insegurança na região da escola (Foto: Gil Oliveira/ G1)Diretor revela a insegurança na região da escola
(Foto: Gil Oliveira/ G1)
“O risco é eminente, a própria mídia mostra que a violência está em toda a cidade. Aqui mesmo na região, os comerciantes reclamam de assaltos e pequenos furtos que vêm acontecendo. Alunos relatam assaltos nas proximidades da escola”, relata Luiz Carlos.
Unidade Escolar no Bairro Promorar também está na lista da Seduc (Foto: Gil Oliveira/ G1)Unidade Escolar no Bairro Promorar também está
na lista da Seduc (Foto: Gil Oliveira/ G1)
Além da violência na região, o diretor revela os problemas vividos do lado dentro da escola. “Infelizmente temos casos de professores que sofrem com os mais diversos tipos de agressões. Os alunos não os respeitam, afrontam e desacatam o docente, e existem casos até de ameaça por parte de um grupo de alunos. O pior é que quando chamamos alguns pais destes alunos, eles também desrespeitam a escola e a direção”, relatou o diretor.  
Apesar dos registros, a escola tem cerca de 730 alunos e é referência na região. “O colégio tem ótimos professores e alunos, mas infelizmente pequenos grupos tentam distorcer a paz. Nestes casos, convocamos o conselho de classe e o escolar, que juntos decidem se aqueles alunos que atrapalha a harmonia da escola e não querem estudar, continuarão ou não na escola. Já tivemos alguns casos de expulsão”, revela Luiz Carlos.
Já na Unidade Escola Mercedes Costa, no bairro Promorar, Zona Sul de Teresina, os professores declaram que o principal problema está fora da escola e dentro das famílias. “Os valores familiares estão sendo perdidos e essa ausência da família é sentida na escola”, disse o professor Fabricio Aurélio Pimentel.
Para o docente, o problema vivido nas escolas é reflexo do que as crianças vivenciam no dia a dia. “Se no colégio a criança tem todo um aprendizado, ao chegar em casa ela sofre as mais diversas violências, seja ela física, moral, intelectual, virtual, porque elas estão em uma comunidade violenta e ao vivenciarem isso, acabam incorporando e trazendo para dentro da escola. Por isso, a escola está em uma luta desleal, não somos a família, mas temos que fazer este papel e lutar contra o que esses meninos aprendem nas ruas”, destacou Fabrício.
Com medo da violência, portões da escola ficam sempre fechados (Foto: Gil Oliveira/ G1)Com medo da violência, portões da escola ficam sempre fechados (Foto: Gil Oliveira/ G1)
Gratificação
Segundo o docente, o valor do bônus de R$ 100 para professores com carga horária de 40 horas é irrisório. “Vivemos em risco, porque apesar de conseguirmos controlar a violência na escola, para chegar ao trabalho temos que passar por locais onde a criminalidade reina. Enquanto isso, os deputados e vereadores ganham muito mais que o salário total de um professor para ir trabalhar”, desabafou.
De acordo com o diretor Luiz Carlos, o programa de incentivo aos professores em área de risco é uma ajuda, mas não resolve o problema. “O educador é uma pessoa humilde, que tem um salário baixo, mas que cumpre sua função social. O que precisamos mesmo é ter o apoio para saber utilizar mais nossos parques e espaços, e assim integrar a comunidade, sociedade e a escola”, sugeriu.
Para ele, outra coisa a ser feita é inserir a cultura e o trabalho para os jovens. “Quando realizamos atividades que envolvem os alunos, é possível ver a satisfação de cada um. Outro ponto positivo é observado nos jovens que já têm o primeiro emprego, apesar de terem menos tempo, eles tem as melhores notas, isso porque o trabalho os dignifica”, concluiu Luiz Carlos.
O secretário estadual de educação, Átila Lira, disse que além da gratificação, estão sendo instaladas câmeras de monitoramento próximos as unidades de ensino, que são gerenciadas pelo Ronda Cidadão.
"Até o momento contamos com 42 câmeras de vigilância e contamos também com o Pelotão Escolar para que os atos de vandalismo sejam resolvidos, tanto dentro como nas proximidades das escolas. Temos registrados muitos casos de violência e isto não pode acontecer, já que estes locais são destinados para a educação", destacou.
A lista de escolas consideradas em área de risco e/ou de difícil acesso está disponível nas publicações virtuais do diário oficial do Governo do Estado nos meses de abril agosto de 2013.
Nota
A Secretaria Municipal de Educação (Semec) enviou uma nota sobre  a segurança nas escolas. Confira o comunicado na íntegra:
Um levantamento realizando pela Secretaria Municipal de Educação (Semec) aponta que 32 escolas municipais já sofreram com assaltos, arrombamentos, depredações e outros casos de violência. A Prefeitura de Teresina já tomou medidas para minimizar o problema, dobrando o número de vigilantes, instalando cercas elétricas, sensores e dialogando com as rondas de policiamento para reforçar o combate às depredações.
De forma mais ampla, a Prefeitura estuda o projeto de monitoramento online através de câmeras de segurança. Em paralelo, a Semec estimula nos gestores a promoção de espaços de sensibilização com a comunidade, para que esta auxilie no combate à violência como um todo.
Atualmente, 97 escolas possuem sensores de movimento, que detectam a aproximação de pessoas e, automaticamente, acionam um alarme na empresa responsável pela instalação e monitoramento. O secretário municipal de Educação, Kléber Montezuma, fez um apelo ao governador do Piauí para que coloque policiais militares nas escolas públicas de Teresina.

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