quarta-feira, 27 de maio de 2015

Adolescência




Os últimos – terríveis – casos de bullying na escola voltaram a chamar a atenção para o mais selvagem dos períodos de crescimento humano: a adolescência. A adolescência é um filme de terror, um pesadelo darwinista, o sonho molhado de Nietzsche. A adolescência despreza a singularidade e a diferença. A inacabada versão de nós próprios chamada juventude é competitiva, mesquinha, cruel, inclemente. 

Lembro-me do que sofri por ser tímido, do gozo que levei pela tremenda falha de usar uma camisola fora do prazo em que a peça estava na moda, do delírio hormonal, dos pormenores irrelevantes transformados em fim do mundo, da perpétua pressão para "pertencer". 

O Porto de 1984 era uma pequena tempestade perfeita de intolerância e, antes de a palavra ser criada, o bullying era sublimado por um preconceito superior ao contemporâneo – ao contrário do que se pensa, todas as gerações são rascas, mas cada geração que surge é um pouco menos rasca do que a anterior. Há uma diferença: o poder da imagem. O recreio de uma escola torna-se palco global, e os putos humilhados nesse recreio terminam vítimas sem fronteiras, assim se redobrando a violência do embate. 

De acordo com o mais recente estudo da Unicef sobre violência contra crianças, um em cada três adolescentes de todo o mundo é vítima regular de bullying na escola. Talvez a melhor mensagem a passar aos miúdos seja esta: já repararam que a malta mais popular no liceu é, quase sempre, a que menos cresce na vida adulta? Descontraiam-se, que tudo melhorará. Quem sobrevive à adolescência, sobrevive a tudo.

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