terça-feira, 19 de maio de 2015

Centésima Crônica - BULLYING



1. Se alguém me tivesse perguntado, há uns dias atrás, qual seria o tema que eu abordaria na próxima crónica para o ‘Correio do Minho’, eu não hesitaria em responder: 
- O desafio que se coloca à Europa na resolução do problema das mortes no Mediterrâneo; o dever de solidariedade para com as vidas humanas dos migrantes versus os riscos que envolvem as decisões a tomar. 
Contudo, eis que um outro acontecimento passou a dominar o meu centro de reflexões, alterando o rumo do presente escrito: um vídeo divulgado na terça-feira passada, na rede social Facebook, mostrara ao longo de 13 minutos, um jovem a ser agredido por colegas - dois rapazes e quatro raparigas -, todos alunos de vários estabelecimentos de ensino da Figueira da Foz. Duas delas agridem-no ao murro e à bofetada enquanto o insultam. A vítima não reage. Há, ainda, quem filma e ri.
Algo no vídeo parecera-me, inicialmente, artificial, mas, admito ora, seria apenas a minha cabeça a não querer aceitar que estas situações fazem parte do nosso mundo. Afinal, sempre acreditei, o futuro desse mundo está nas mãos dos mais jovens. E são jovens os retratados no vídeo, para os quais as agressões físicas e psicológicas infligidas a um ser humano parecem algo perfeitamente normal.
“Os jovens de hoje são mais agressivos do que os das gerações anteriores”, afirma o psicólogo e pedagogo italiano, Alessandro Costantini, que estudou as causas do crescimento dos casos de crianças que são vítimas da perseguição, coacção e violência de outras (‘bullying’). 
Mas, qual será a razão pela qual a geração atual é mais agressiva do que as anteriores? E o que fazer para minimizar tão chocantes eventos? A família estrutura-se de forma diferente; os pais têm pouco tempo para os filhos. Não tendo um adulto do seu lado, que que interaja, entenda ou interprete, a criança re-cebe as informações da televisão. Há ainda as famílias disfuncionais, destituídas de afecto, onde existe violência e a disciplina é inconsistente. Precisamos de uma escola mais atenta, bem como da criação de estruturas capazes de apresentar respostas às vítimas. Por outro lado, os autores dos maus-tratos, sejam físicos, psicológicos ou emocionais, têm que se chamados à responsabilidade.

A escola reproduz as relações de um sistema social. O “bullying” está dentro da nossa sociedade, na própria família. As consequências de práticas de “bullying” podem ser nefastas. Uns porque são agredidos e ficam traumatizados, talvez para toda a vida. Outros porque serão, toda a vida, rotulados como agressores e violentos. Este é pois um problema que deve preocupar (e mobilizar!) a sociedade e as famílias.

2. Dou-me conta que hoje escrevo a centésima crónica para o Jornal “Correio do Minho”. Acho graça a números redondos - 100! Procurei nos meus registos a data em que foi publicada a minha primeira crónica: 2 de Novembro de 2008! Olho para este tempo com surpresa, mas também com a certeza de quão enriquecedora tem sido esta experiência.


Inicio o ritual de agradecimentos pela minha amiga, a Professora Felisbela Lopes, pelo convite que na altura me endereçou, para dividir com ela, de forma alternada, o espaço de opinião neste Jornal -“Olhares”. Agradeço-lhe todos os conhecimentos que me transmitiu e o seu, sempre generoso e incondicional, apoio. Uma palavra de apreço ao Diretor do Jornal e aos demais elementos da redação, que continuam a tornar possível a minha colaboração nesta coluna, mas também, e sobretudo, aos leitores, que vão tendo a paciência necessária para me lerem.  Um grande ‘bem-haja’ a todos. Até à próxima.

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