segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Violência física e psicológica atinge crianças e adolescentes nas escolas de Uberlândia


Jadir Cirqueira, promotor da Vara da Infância e Juventude, diz que casos de indisciplina devem ser resolvidos pelas escolas

O termo bullying, de origem inglesa, já faz parte do cotidiano dos brasileiros, principalmente, de crianças e adolescentes e no ambiente escolar. O resultado de uma pesquisa divulgada em 2010 revelou que as humilhações típicas do bullying são mais comuns entre alunos do 6º e 7º anos. Nessa faixa etária, 59% disseram ter sido vítimas de bullying.

A pesquisa foi feita pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor, em parceria com a ONG Plan, que atua com direitos da criança e do adolescente, e teve a participação de mais de 5 mil alunos de 25 escolas públicas e particulares do todo o país.

Em Uberlândia, o número de ocorrências levou o promotor da Vara da Infância e Juventude, Jadir Cirqueira de Souza, a lançar, em outubro deste ano, o livro “Violência Escolar”, que esclarece como profissionais da educação devem proceder diante de situações caracterizadas como bullying.

“Os educadores não estão preparados para enfrentar, por exemplo, alunos que usam droga dentro da escola. Esse é o principal caso de bullying registrado nas instituições da cidade, sendo mais recorrente entre jovens de 14 a 17 anos”, afirmou o promotor.

Para apresentar a diversidade de casos, o livro é dividido em três capítulos. O primeiro aborda como a escola deve cuidar da criança em situação de risco. Na segunda parte, a abordagem é relacionada aos alunos indisciplinados, em que a própria escola deve resolver o problema. O último capítulo apresenta o que deve ser feito quando o adolescente pratica um crime. “Somente esse último caso deve ser encaminhado para a promotoria. No entanto, por falta de conhecimento, as escolas encaminham todos os casos”, disse Jadir Cirqueira.

Situações que envolvem atos infracionais nas escolas, como uso de drogas e pedofilia, são encaminhados pela promotoria da Infância e Juventude para as secretarias de Educação e de Desenvolvimento Social, além das polícias Civil e Militar.

Escola convive com problemas
A violência no ambiente escolar vem se tornando corriqueira em várias cidades brasileiras. Em Uberlândia, na Escola Estadual Teotônio Vilela, no bairro Planalto, zona oeste, os registros são frequentes.

Segundo a diretora da instituição, Anair Aparecida Moretti, as punições previstas no regimento interno da escola não são suficientes para intimidar os alunos usuários de drogas. “Se eles não respeitam os pais e não têm medo da polícia, imagine como fica o relacionamento com os profissionais da escola”, disse a diretora.

Entre os casos de bullying registrados na escola, predomina a agressão verbal praticada pelos usuários de drogas. “São estudantes que vêm à escola todos os dias, mas nem abrem a mochila. A eles é dada suspensão de três dias, mas a reincidência preocupa”, disse Anair Moretti. Diante das dificuldades, a diretora encaminhou um documento com o registro de todas as ocorrências ao promotor da Vara da Infância e Juventude.

O aumento dos casos de bullying também atinge os funcionários da escola. Segundo a auxiliar de serviços gerais Rosa Silveira, de 65 anos, o desrespeito é crescente. “Quando fui contratada, há 28 anos, isso praticamente não existia. Hoje, os alunos respondem, gritam e danificam a estrutura e materiais da escola. Acredito que eles fazem isso porque sabem que não há punição efetiva”, afirmou.

Carência de valores propicia violência

Para Geovana Ferreira Melo, ausência de respeito, ética e solidariedade reflete na escola

Fatores socioculturais estão diretamente relacionados aos casos de bullying. Para a doutora em Educação, Geovana Ferreira Melo, hoje, a família não tem conseguido preservar alguns valores como respeito, ética e solidariedade, o que é refletido na escola. “Há um jogo de culpabilização. A família transfere a responsabilidade para a escola e vice-versa”, afirmou a especialista.

A necessidade de preparar os profissionais da educação para trabalhar com casos de bullying também é defendida por ela. “Os pedagogos precisam trabalhar além dos conteúdos conceituais e chegar à questão formativa do aluno.” Ainda de acordo com Geovana Melo, caso a escola deixe de registrar ocorrência diante de casos de bullying, a instituição pode ser indiciada por omissão.

Oito viaturas atendem 277 escolas

Capitão Davi de Brito: “uso de drogas está entre as ocorrências”

Uma ferramenta que ajuda na tentativa de diminuir os casos de bullying é a Patrulha Escolar da Polícia Militar. Oito viaturas se dividem por todas as regiões de Uberlândia para atender a 277 escolas. “Os casos mais registrados pela patrulha são de agressão, ameaça e uso de drogas nas imediações da escola”, afirmou o capitão da PM Davi de Brito.

Em cada viatura da Patrulha Escolar, dois militares fazem a ronda e observam também a permanência de crianças no horário de aula em estabelecimentos comerciais como bares e lan houses. “O trabalho é feito nos periodos manhã, tarde e noite. A Patrulha ainda faz ações preventivas dentro da escola, como a realização de campanhas de combate ao uso de drogas”, disse o capitão.

Fonte: Correio de Uberlândia

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