sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Pesquisa “Bullying no Ambiente Escolar” apresenta raio-x das agressões entre estudantes brasileiros

 
Dados do estudo foram coletados em 2009 pela Plan Brasil, e contou com a participação de 5.168 alunos das cinco regiões do país, além de pais/responsáveis, professores e gestores de escolas
 

 
O bullying é uma prática cada vez mais comum entre crianças, jovens e adolescentes em ambiente escolar. O termo surge a partir da palavra "bully", de origem inglesa, que significa "valentão", e se caracteriza por atos repetitivos - superior a três vezes durante o ano letivo - de agressão contra alguém, seja ela de natureza física, verbal, social ou financeira.
Com o objetivo de conhecer as situações de bullying em escolas brasileiras, a Plan Brasil, organização não-governamental voltada para a defesa dos direitos da infância, iniciou, em 2009, a pesquisa Bullying no Ambiente Escolar, um levantamento de dados inédito que permitiu conhecer as situações de maus tratos nas relações entre estudantes dentro da escola, nas cinco regiões do país. Participaram da pesquisa 5.168 alunos, além de pais/responsáveis, professores e gestores de escolas. O estudo foi concluído em 2010.

Os resultados do estudo servirão de insumos para ações da campanha “Aprender sem Medo”, com objetivo de estimular a promoção de políticas mais eficientes na prevenção de crimes e na justiça criminal no mundo inteiro.

O que retratam os números da pesquisa
Atos violentos entre estudantes é mais comum do que se imagina. A cada dez estudantes que preencheram um questionário elaborado pela Plan, sete responderam já ter presenciado cenas de agressões entre colegas. O bullying - agressão a uma mesma pessoa superior a três vezes durante o ano letivo - foi praticado e sofrido por 10% do total de alunos pesquisados. O estudo mostra ainda que a prática é mais comum nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país e que a incidência maior está entre os adolescentes na faixa de 11 a 15 anos de idade, alocados na 6ª série do Ensino Fundamental.

Em relação a gênero, a pesquisa mostra que é maior o número de vitimas do sexo masculino: mais de 34,5% dos meninos pesquisados sofreram maus tratos ao menos uma vez no ano letivo de 2009, sendo 12,5% vitimas de bullying. Apesar das altas frequências de práticas violentas, os alunos do sexo masculino pesquisados tendem a minimizar a gravidade dessas ocorrências, alegando que foram brincadeiras de mau gosto ou que não dão importância aos fatos porque os colegas não merecem essa consideração.

Já as meninas que sofreram maus tratos ao menos uma vez durante o ano de 2009 (23,9% da amostra de meninas pesquisada) ou tornaram-se vítimas de bullying (7,6% dessa mesma amostra) apresentam outro padrão de resposta às agressões sofridas, manifestando sentimentos de tristeza, mágoa e aborrecimento.




Agressões também acontecem além dos muros da escola: Ciberbullying
Quanto ao bullying no ambiente virtual – conhecido como Ciberbullying - os dados revelam que 16,8% dos pesquisados são vítimas, 17,7% são praticantes e apenas 3,5% são vítimas e praticantes ao mesmo tempo. Independentemente da idade das vítimas, o envio de e-mails maldosos é o tipo de agressão mais frequente, sendo praticado com maior frequência pelos alunos pesquisados do sexo masculino. Entre as meninas pesquisadas, o uso de ferramentas e de sites de relacionamento são as formas mais utilizadas. Tanto no ambiente virtual como no ambiente escolar, as vítimas tendem a não reagir aos atos sofridos e apresentam sentimentos de desconforto, apatia, irritabilidade e tristeza.

Quais fatores motivam a prática do Bullying?

Os estudantes tiveram dificuldades para indicar os motivos das agressões. No entanto, tendem a considerar que os agressores buscam obter popularidade junto aos colegas, que necessitam ser aceitos pelo grupo e se sentirem poderosos em relação aos demais, tendo esse “status” reconhecido na medida em que seus atos são observados e, de certa forma, consentidos pela omissão e falta de reação dos atores envolvidos. Nos discursos dos alunos também se observa a ênfase em outra característica do perfil dos agressores, que é a ausência de medo da punição.
Já as vítimas são sempre descritas como pessoas que apresentam alguma diferença em relação aos demais colegas, como um traço físico marcante, algum tipo de necessidade especial, o uso de vestimentas consideradas diferentes, a posse de objetos ou o consumo de bens indicativos de status sócioeconômico superior ao dos demais alunos. Elas são vistas como pessoas tímidas, inseguras e passivas, o que faz com que os agressores as considerem merecedoras das agressões, dado seu comportamento frágil e inibido.

As consequências do Bullying
O que pode acontecer com as vítimas das agressões? Segundo a pesquisa, a perda do entusiasmo, seguida pela perda da concentração e, por fim, o medo de frequentar a escola. Os dados mostram um maior impacto desse tipo de violência justamente no processo de aprendizagem e no desenvolvimento escolar das vítimas. Tal conclusão vai ao encontro dos discursos dos professores e equipe técnica das escolas, captados na etapa qualitativa do estudo.

E em relação aos agressores, quais são as consequências do Bullying? Um dos dados mais relevantes da pesquisa é que o agressor também tem seu desenvolvimento escolar e aprendizagem afetados negativamente pela prática da violência. Perda de concentração é um dos fatores que apareceram nas respostas. A prática dos maus tratos é, portanto, negativa para a vida escolar das vítimas e dos agressores, atingindo os dois grupos da mesma forma.


As escolas estão preparadas para lidar com situações violentas?
O estudo demonstra que há despreparo da maioria das escolas pesquisadas para reduzir ou eliminar a ocorrência de situações de violência escolar, de acordo com os professores pesquisados. Isso se deve à escassez de recursos materiais e humanos, bem como à falta de capacitação dos professores e equipes técnicas das escolas.
Como professores e equipes técnicas tendem a achar que as causas da violência entre alunos são exteriores à escola - localizadas na família ou na sociedade em geral - são poucas as ações institucionais com foco no combate à violência entre os alunos relatadas pelos docentes. De acordo com os discursos dos professores, as ações mais comuns tomadas pelas escolas são pontuais e direcionadas especificamente aos agressores.

Em regra, o que as escolas fazem é punir os agressores com suspensões e advertências e/ou chamar os pais dos agressores para conversas com os educadores e equipe técnica escolar.

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