sábado, 28 de maio de 2011

Agressão física e psicológica caracteriza bullying no relacionamento

Muito se tem discutido sobre como a prática do bullying está afetando a sociedade de modo geral. Geralmente, associamos a prática a situações escolares e a grupos de jovens, mas, ao analisar o significado da palavra, podemos compreender como a prática pode ser mais abrangente e afetar outros grupos de pessoas.

A palavra bullying deriva do inglês "bully", que significa ameaçar, maltratar, oprimir e assustar. O termo tem sido utilizado em diversos países para classificar atitudes e comportamentos agressivos, ameaçadores, amedrontadores e cruéis em todos os tipos de relações interpessoais.

Portanto, como a própria definição da palavra esclarece, o bullying é algo que pode estar presente e afetar de forma negativa qualquer tipo de relação, inclusive o relacionamento do casal.

Muitas relações são marcadas por violência física e psicológica. O bullying tende a agredir principalmente o aspecto psicológico da pessoa, através de ameaças constantes, comentários excessivamente negativos, atitudes de rebaixamento e humilhação.

As vitimas de bullying no relacionamento, assim como as crianças e jovens vitimas de bullying na escola, apresentam sinais de timidez, baixa autoestima, sensação de incapacidade e impotência, fobia social, dificuldade de relacionamento interpessoal, insegurança e até pensamentos suicidas.

Para muitas pessoas, a violência psicológica pode causar mais danos e deixar mais sequelas que a violência física, pois, infelizmente, é mais difícil de ser comprovada, denunciada, punida e superada.

As vítimas têm dificuldades para se defender e colocar um fim às ameaças porque, geralmente, são pessoas estruturalmente mais delicadas, que ficam ainda mais fragilizadas diante das ameaças e que se sentem pequenas, inferiores e incapazes diante do agressor, que costuma se mostrar forte, inabalável e indestrutível.

Outros fatores que dificultam a procura de ajuda pela vítima são:

- Sensação de merecimento: A pessoa acredita que as suas atitudes são erradas e inadequadas e por isso ela merece ser punida e castigada. Nesse caso a pessoa não procura ajuda porque acredita que as reações negativas são naturais diante de seus constantes erros. No geral, a pessoa tem a sensação de fracasso e inadequação social.

- Sensação de pouca importância: Nesse caso, a autoestima da pessoa é baixa a ponto dela acreditar que, ao buscar ajuda, fará com que as pessoas procuradas percam tempo com algo sem importância. É a sensação de que as pessoas têm coisas mais importantes com que se preocupar e ocupar, uma vez que ela não é importante para ninguém.

- Desconfiança: O excesso de ameaça faz com que a vitima passe a ver todos a sua volta como ameaça e não procura ajudar por não acreditar que existam pessoas que irão se preocupar com ela, não irão feri-la de nenhuma forma e, principalmente, que não utilizarão suas palavras e sentimentos contra ela mesma.

- Sentimento de impotência: A pessoa se sente sem forças para tomar alguma medida capaz de acabar com a situação. O sentimento de impotência e desvalorização geralmente está acompanhando da supervalorização do agressor.

- Negação: Essa atitude age como um forte e importante mecanismo de defesa para que a pessoa não entre em contato com o seu sofrimento já que, através da negação, os aspectos negativos do parceiro são ignorados e as qualidades são exaltadas. Ex.: Quando a mulher sofre algum tipo de violência em casa, ela define e vê a figura do marido como "um homem exemplar, porque é trabalhador, honesto e não bebe."

- Sensação de Ridicularização: Acomete as pessoas que têm todas as suas atitudes ridicularizadas e são alvo constante de piada e deboche por parte do parceiro. Como essas pessoas passam a acreditar que não são dignas de serem levadas a sério, não procuram ajuda por achar que, ao contar as suas aflições e medos, serão alvo de piada.

- Vergonha de seus sentimentos: Quando a pessoa está muito fragilizada tende a sentir vergonha de seus sentimentos e, por isso, sente dificuldade para compartilhar com outras pessoas suas angustias.

- Associação de violência e afeto: Um fator importante que dificulta a constatação da violência psicológica é o fato da vitima ter crescido em um ambiente familiar agressivo, ter se casado com uma pessoa também agressiva e associar ameaça e violência a afeto, não percebendo que está sendo vítima de atitudes violentas.

Nesse caso, a pessoa percebe como algo positivo as ações do companheiro (ou companheira) porque as associa a provas de amor. Tomo como exemplo as mulheres que permitem que o marido ciumento a acompanhe a todos os lugares e as impeça de ter contato com outras pessoas além dele, por interpretarem que essas atitudes são uma forma de proteção e afeto.

Para auxiliar as pessoas que são vitimas de bullying no relacionamento é preciso trabalhar a dissociação de atitudes negativas e destrutivas de afeto, resgate da autoestima, devolver o sentimento de autonomia sobre a própria vida e fortalecimento da personalidade entre outros aspectos, para que a pessoa sinta segurança e confiança em si própria e tenha condições de dar fim às agressões.

Um trabalho com o agressor também é importante para que ele perceba os motivos que o levam a se relacionar e agir dessa forma e desenvolva diferentes formas de lidar com as pessoas a sua volta, colocar a sua opinião e ser respeitado.

É importante esclarecer que tanto mulheres quanto homens podem ser vítimas de bullying no relacionamento e que ambos precisam ser auxiliados e acolhidos da mesma forma

Fonte: Correio do Estado

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