domingo, 2 de julho de 2017

Piangers: “Bullying não pode ser bom; é vil, destruidor e traumatizante”

DONNA

Foto: Pexels
Foto: Pexels
Vivemos em uma época em que todo mundo acredita no que quer. Não existe aquecimento global, não existe machismo, a Terra é plana, não existe bullying. Tudo é conspiração da mídia. “Bullying é só um nome bonito pra brincadeiras que as crianças fazem”, me disseram uma vez. “É até saudável”, garantem.
O Cristiano era um gordinho mulato que usava óculos e passava uma quantidade excessiva de gel no cabelo. Ele usava uma pochete preta e vivia penteando o cabelo. Tinha um ar desconfiado com todos, provavelmente por já ter passado maus bocados em outros colégios. Na nossa turma, era motivo de piada constante. Uma vez, na aula de Educação Física, um aluno mais velho chamado Maurício o encheu de socos e chutes. Foi uma cena feia de ver. Ninguém protegeu o Cristiano, e me arrependo de não ter feito nada, com medo de apanhar junto.
Não lembro o nome da primeira menina vinda do Nordeste que estudou conosco. A turma, por alguma razão, a apelidou de “dromedário”. Colocavam tachinhas na cadeira dela e faziam piadas constantes. Certamente devo ter feito piadas também. A menina era valente e não aceitava ser diminuída, mas os gritos eram meio inúteis e só faziam com que todo mundo a achasse ainda mais esquisita.
O Jaime era um dos mais simpáticos colegas, um mulato alto de sorriso largo. Era grande e forte e até hoje não sei como não se revoltou com as músicas que a turma cantava pra ele. Eram músicas racistas. Um apelido que colocaram no Jaime foi “nego albino”, porque ele parecia ser negro, mas tinha a pele mais clara. O Jaime era amigo de todos nós e nunca reclamou desse nosso comportamento estúpido. Mas duvido que tenha sido agradável pra ele passar por tudo isso.
No Ensino Médio, foi a minha vez. Mudei de escola, e um garoto mais velho, que tinha repetido de ano algumas vezes, me pegava pelo pescoço até eu implorar que ele largasse. Nessa época, tive algo que acho que pode ser chamado de depressão. Eu chorava sem parar, uma angústia me tomava conta sempre quando estava anoitecendo. Amigos me ajudaram a passar por essa.
Quando alguém me diz que bullying é só um nome bonito pra uma prática antiga, acho que é verdade. Mas bullying não pode ser bom. É vil, e destruidor e traumatizante. Quando me dizem que sempre existiu e que todos nós sobrevivemos a ele, respondo que não sei. Sinceramente, não sei se sobrevivemos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário