terça-feira, 25 de julho de 2017

Alma cheia de dores

DIÁRIO DO GRANDE ABC

Luís Felipe Soares
Cuidar da saúde mental é coisa séria. As tristezas e decepções que podem aparecer no caminho das pessoas podem gerar complicações e a depressão simboliza esse momento ruim. Conhecida como ‘doença da vida moderna’, ela tem crescido nos últimos anos e parece que o mundo aumenta sua tristeza profunda.
Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde no início do ano revelam que 4,4% da população do planeta lida com esse tipo de transtorno. No período entre 2005 e 2015, foi percebido crescimento dessa taxa em 18,4%. Os brasileiros também aparecem na pesquisa, uma vez que 5,8% da nossa população (cerca de 11,5 milhões de pessoas) sofre com a doença.
Entre percepção de sintomas e busca por acompanhamento médico, é preciso que o paciente saiba que falar sobre o assunto não deve ser tabu. Uma das vozes mais conhecidas em relação ao tema é a do canadense Kevin Breel, de 23 anos. O escritor, comediante e ativista ficou conhecido por discutir de maneira direta e inteligente a complicação que o acompanha até hoje. Seus relatos famosos em vídeos – facilmente encontrados na internet – agora ganham forma de letras e palavras em Confissões de Um Adolescente Depressivo (Editora Seoman, 232 páginas, R$ 36, em média), com primeira edição em português.
“Escrever este livro foi como iluminar todos os caminhos da minha vida que me levaram à dor e então correr através deles, de um lado para o outro e depois em círculos, até cair exausto”, escreve na introdução da obra. “Talvez a verdade seja uma só: não existe escapatória, só resta a aceitação.”
A publicação viaja pela trajetória do rapaz, desde a infância até o início da vida adulta. Ele conduz a narrativa em primeira pessoa, mas aproveita o seu papel de autor ao rever fatos do passado e identificar passagens ligadas ao desenvolvimento da depressão. Há a estrutura familiar frágil, a perseguição com bullying no colégio, a inesperada morte do melhor amigo e o quase suicídio, entre outros momentos. 
Ao fim dos dez capítulos, coloca sentenças no espaço ‘Um Toque Para Mim Mesmo’, tentando dar apoio a si mesmo quanto ao tema discutido. “Seja boa ou ruim, todos nós estamos vivendo uma história. O problema das histórias é que as boas nunca acabam do mesmo jeito que começaram”, aparece no último bilhete.
Talvez a maior mensagem de Breel seja a de aceitar suas partes mais sombrias e seguir em frente de cabeça erguida. Ele abre a vida para debater com o público e a obra literária pode fazer com que outros também passem a falar sobre seu profundo mundo depressivo. 

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