domingo, 2 de julho de 2017

Para ser feliz: projeto quer acabar com medo na infância

METRÓPOLIS

As instituições Vida Positiva e Chamaeleon criaram a ação para ajudar a prevenir bullying, preconceito e assédios que ameaçam os pequenos

Juliana Contaifer
Criança pode ter medo de cobra, de fogo, de fantasma, de monstro debaixo da cama. Medo de coisas que um abraço conforte, que os pais podem resolver, que a cama de casal refugie. Mas os jovens de hoje têm medo (com razão) de coisas que fogem do controle. Sofrem com abusos,bullying, preconceito. Têm receio de brincar na rua, de jogar on-line, de serem julgados por suas ações, como se fossem adultos. São sentimentos que as previnem de curtir os anos antes de uma exaustiva vida adulta.
“Eu tenho medo de perder a minha infância. Ser criança é uma escolha muito boa. Muitas pessoas não tiveram a chance que eu estou tendo agora, quero aproveitar bastante”, conta a estudante Carina Pinheiro, 11 anos. “Muitos jovens têm que trabalhar, alguns são abusados. A pessoa fica totalmente marcada com isso, depressiva, e não consegue aproveitar esses anos inocentes”, completa.
Já Shayra Gomes de Souza, 13, conta que tem medo de ser julgada, apesar de já ouvir comentários sobre sua aparência e os cabelos roxos. A dica dela é se achar bonita e não ligar para o que os outros dizem. “Pela minha cor, por eu gostar de pintar meus cabelos… muitas pessoas falam besteira, mas eu não ligo”, afirma.

O medo do preconceito e do bullying é recorrente entre as meninas entrevistadas. Elas participaram de uma peça de teatro no lançamento da campanha “Infância Sem Medo” (mais abaixo), inspirada nas experiências de um grupo de crianças. “Conversamos com eles e, a partir do que escreveram, fizemos o texto”, conta a professora de teatro Renata Bittencourt, que trabalhou em conjunto com Daniel Obregon.
O resultado foi uma representação sobre o bullying na escola e a falta de apoio em casa. Felizmente, na apresentação, quem faz as provocações acaba se arrependendo no final e todos terminam amigos. “Temos os dois lados da história, e eles entenderam o que estavam representando”, afirma Renata.
Ao final da peça, os atores mirins explicam o que é, para eles, uma infância sem medo. “É não ter vergonha do que se é, se divertir, aproveitar bastante o tempo”, diz Luana Pereira, 11. Para Shayra, ser uma criança saudável passa por brincar e se divertir, não ligando para o que as pessoas falam.
Combate ao medoDe olho no que pensam os pequenos, as instituições Vida Positiva e Chamaeleon uniram forças para criar um projeto que ajude a protegê-los. O “Infância Sem Medo”, lançado no dia 19/6 em um evento na Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, pretende colocar foco nos fatores que dão medo nas crianças. Durante um ano, o projeto passará por 14 áreas do DF oferecendo oficinas gratuitas sobre o que assusta as crianças atualmente. Os encontros são direcionados a pais; cuidadores; profissionais das áreas de educação e saúde; e servidores públicos. Várias pessoas estarão envolvidas no projeto, incluindo psicólogos, assistentes sociais e coaches.
“Estamos correndo atrás de patrocinadores e apoiadores para dar continuidade ao projeto, mas já devemos entrar em ação. As demandas são grandes e queremos discutir o assunto. Só conversando conseguiremos tornar as nossas crianças mais fortes”, explica Vicky Tavares, diretora do Vida Positiva. Ela conta que um dos objetivos do projeto é não deixar os fatores que assustam as crianças, como bullying e preconceito, se tornem comuns. “A sociedade precisa entender que ou começamos a falar agora, ou nossas crianças crescerão homens quebrados.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário