MIGUEL SILVA GOUVEIA VEREADOR DA CMF /
Terra queimada é uma conhecida prática militar, que consiste na destruição de activos do inimigo, com o objectivo de lhe retirar recursos. Os chineses queimaram colheitas para privar o inimigo de alimento, os russos recuaram às investidas napoleónicas, devastando tudo o que não conseguiam transportar e, mais recentemente, Saddam Hussein incendiou os poços de petróleo na retirada iraquiana do Kuwait. As consequências sociais, económicas e humanitárias são tão perniciosas e duradouras que a sua prática é frontalmente proibida pela Convenção de Genebra.
Quando, em 2013, Miguel Albuquerque abandonou a presidência da Câmara Municipal do Funchal, promovia-se a inebriante ideia de que a cidade respirava saúde financeira e constituía uma referência na gestão autárquica nacional, sendo expectável que quem tomasse o leme à capital da Madeira encontrasse um Eldorado no Atlântico.
A realidade teimou, porém, em desmentir a conjuração efabulada pelo ex-presidente, que, na verdade, fez do Funchal uma caserna de campanha partidária, onde acantonou o seu exército privado para as batalhas travadas no projecto de tomada do poder regional, enquanto negligenciava a resolução dos problemas estruturais da cidade. Aqueles que lhe sucederam, encontraram, por isso, uma Câmara amarrada e armadilhada com uma série de “dossiers-bomba” por detonar, que tornaram a gestão dos anos seguintes num exercício de imprevisibilidade, compromisso e extrema resiliência.
Para cúmulo, os mesmos actores que anunciam lealdade ao Funchal, agora no Governo Regional, não se escusaram de relegar os funchalenses para segundo plano ao longo dos últimos anos, quais danos colaterais aceitáveis, com o único propósito de recuperar o comando da capital da Madeira. Numa evidente estratégia de ‘bullying institucional’, usaram de todos os expedientes para inviabilizar o investimento público no concelho, quer pela via do contencioso, para pagar o que é devido ao Funchal em IRS e expropriações, quer com alterações legislativas que visaram subtrair milhões em receitas municipais, com aumentos tarifários sobre bens e serviços essenciais que sobrecarregariam o bolso dos munícipes, com o abandono de obras estruturantes como a ‘Cota 500’ e com a recusa de todos os contratos programa propostos pela CMF desde 2014.
Um comportamento de uma incoerência gritante, ou não fossem as necessidades da autarquia funchalense sobejamente conhecidas pelo actual líder do Governo Regional, e não tivessem, inclusive, feito parte do seu caderno de reivindicações, na altura em que interessou enfrentar o seu antecessor. Infelizmente, 23 anos volvidos, confirmamos com ironia a memória de um episódio que valeu uma carreira política, sintetizado na histórica réplica, «governar com dinheiro é fácil, sem dinheiro é que é difícil».
Hoje, na recta final do mandato, depois de quase quatro anos a desatar nós górdios e a extinguir uns quantos fogos postos, este Executivo pode orgulhar-se de liderar uma Câmara Municipal que, apesar dos referidos boicotes, cresceu na sua organização e disciplina, recuperou a confiança dos seus parceiros comerciais, regressou ao investimento criterioso de forma sustentada e, mais importante, recentrou a sua acção nas pessoas. O Funchal não será “terra queimada”.
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