domingo, 25 de setembro de 2011

Escolas alagoanas viram território de guerra

Láyra Santa Rosa

Os últimos meses não foram fáceis para educação pública em Alagoas. Se não bastassem os problemas estruturais, a violência invadiu o universo escolar, tirando a vida de profissionais da educação, ferindo alunos e maculando um local que para muitos parecia seguro. E por mais que seja reforçada a segurança nas escolas, o problema não para de crescer.

Porteira Terezinha Soares, da escola Rui Palmeira (Foto: Yvette Moura)
Porteira Terezinha Soares, da escola Rui Palmeira (Foto: Yvette Moura)

Depois de ser alvo de tráfico de drogas e precisar fechar às portas com receio da violência, a escola municipal Rui Palmeira, no Vergel do Lago, agora parece um reality show com câmeras espalhadas por toda parte. A medida de segurança foi tomada em março, após a direção detectar que traficantes da Vila Brejal tinham invadido a escola para fazer de lá, ponto de drogas no horário noturno.

“Foi um momento crítico. Algumas pessoas que tinham envolvimento com drogas vinham dizendo que queriam estudar, mas estavam presentes para comercializar entorpecentes para outros alunos. A direção ficou desesperada e decidimos fechar às portas até que algo fosse feito. Hoje, temos câmeras de segurança por toda parte e também recebemos duplas de policiais para fazer a segurança. Depois disso, tivemos uma evasão no horário da noite de quase 70%”, disse uma diretora da Rui Palmeira, que preferiu não se identificar.

Ainda segundo a educadora, a situação na escola hoje é mais calma, apesar de ainda existirem muitas brigas entre alunos e algumas agressões verbais a professores. “Existem alunos que não respeitam professores e a qualquer atitude mais brusca, eles ficam agressivos, respondem e até fazem ameaças. Nesse caso, chamamos os pais, para que eles tomem a providência. Só que a violência vem de casa. Eles aprendem a serem agressivos na rua e isso reflete dentro da escola”, falou.

A porteira Teresinha Soares trabalha na escola há mais de 15 anos e revela que é preciso ser linha dura, para manter a ordem. “Estou aqui pela manhã e esses meninos não respeitam ninguém. Fazem bagunça, brigam o tempo todo e são violentos. Mas, comigo isso não acontece, porque sou linha dura. Tenho que manter a ordem e muitas vezes “engrosso” a voz, para conseguir controlá-los. Falta a cultura de paz nessa escola e na vida desses meninos”, afirmou.

Violência vem dominando o espaço que deveria ser de aprendizado
A situação de violência nas escolas tem se agravado. Em agosto, a invasão de um homem armado à escola Estadual Rosalvo Lobo, na Jatiúca, chamou a atenção para o perigo que os alunos da rede pública têm corrido. No horário da tarde, um jovem identificado como Rafael da Mancha, entrou no prédio, atirou em duas pessoas e fugiu correndo. As duas vítimas, uma aluna de 17 anos e o porteiro Janilson Alves Pinto, 44, não eram os alvos do bandido, mas acabaram sofrendo as consequências. A menina teve ferimentos leves, já o porteiro acabou morrendo, após ficar internado por alguns dias.

Depois do crime, professores e alunos não quiseram mais voltar ao trabalho, só depois que a segurança fosse reforçada. “O que nós queremos é apenas segurança. Não temos como educá-los nos sentindo inseguros”, disse o professor de educação física da escola, Alexsandro Santos Vieira na época do ataque.

As aulas na escola voltaram na última quarta-feira, com homenagens às vítimas do atentando. No evento a diretora da unidade, Lucy Jane Lins prestou esclarecimentos aos alunos e pais sobre como deve acontecer o funcionamento da escola, que logo após o atentado ainda sofreu com a queda do teto de uma das salas. “Todo o trabalho necessário está sendo feito pela escola e pela Secretária de Educação para que nossos alunos não sejam prejudicados. Também vamos nos reunir para definir como será feita a reposição dos dias de aula paralisados para que não haja atraso do ano letivo e as aulas terminem na data prevista”, afirmou.

Cultura de paz começa de casa
Educação emocional. Essa pode ser a chave para uma cultura de paz, dentro das escolas públicas alagoanas. Diante de tanta violência 16 cidades do Estado, já iniciaram o projeto Paz nas Escolas com suporte da Secretaria da Paz, que visa ensinar às crianças das séries iniciais a cultivar o amor ao próximo, controlar seus extintos e expressar seus sentimentos, longe da agressividade.

O projeto ainda está em fase inicial, mas já tem tido alguns resultados, de acordo com os próprios diretores de escolas, que tiveram reunidos para trocar experiências na última quinta-feira. “É tudo muito novo mais já podemos perceber a mudança no comportamento de cada um deles. Antes, eles eram agressivos, brigavam o tempo todo e não respeitavam a figura do professor. Agora estão mais calmos e entendendo a importância de manter a paz”, disse Lucidalva Gomes dos Santos, professora da Escola Pedro Carvalho Pedrosa, que fica na cidade de Coqueiro Seco.

De acordo com a professora a escola fica localizada num bairro violento da cidade, onde existe tráfico de drogas, prostituição infantil, alcoolismo e até mesmo agressões dentro das próprias casas. “As crianças vivem uma cultura de violência. Aprendem a ser agressivos dentro de casa e nas ruas. Vivem com medo e receio de falar o que sentem. A violência acontece na maior parte fora da escola, mas se reflete dentro, o tempo todo. Tanto que o comportamento da maioria é agressivo”, relatou.

A paz deve se tornar uma rotina
O projeto Paz na Escola surgiu há cinco anos e foi aplicado em São Paulo e Minas Gerais. Ele foi criado diante da necessidade de trabalhar situações reais como violência urbana e principalmente dentro das famílias. O idealizador do projeto Paz na Escola, o professor paulista João Roberto Araujo, também esteve em Alagoas na última semana e explicou um pouco sobre a importância de cultivar a paz, através da educação emocional.

“As pessoas acham que violência se resolve com políticas de repressão, através da polícia e da Justiça. Isso também tem que ser trabalhado, mais não é a única alternativa. Costuma dar um exemplo que é o caso da Meningite, se os médicos tratam apenas a febre, a bactéria continua. Bem assim é a violência, se tratamos apenas a repressão o problema não passa. É preciso políticas sociais mais firmes e que ensinem uma nova forma de pensar nessas crianças, onde a paz se torne uma rotina”, explicou o professor João Roberto.

Segundo o idealizador do projeto, um dos maiores problemas da violência é o analfabetismo emocional.  “As crianças são reeducadas. Elas passam a ter aulas semanais, onde recebem acompanhamento dos professores para aprender a lhe dar com raiva e suas emoções. A paz se aprende e é isso que queremos ensiná-los”, falou. “Com essa educação pela paz, as crianças acabam se tornando multiplicadores e eles exercem uma influência grande nas suas famílias. E isso se torna um movimento grande, onde uma sociedade se modifica”.

Leia a matéria completa na edição deste domingo de O JORNAL

Fonte: O Jornal de Alagoas

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