quinta-feira, 22 de setembro de 2011

“É preciso dar mais atenção às pessoas”



   
O psiquiatra Daniel Sampaio considera que numa situação de “viragem social” é preciso reforçar “a educação pelos valores”. A família é o sítio onde devemos começar, já que não podemos mudar as grandes organizações, acredita. Lançamento do novo livro em Faro, sexta-feira.
 
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Antecipando o lançamento da sua mais recente obra “Da família, da Escola, e umas quantas coisas mais”, que vai decorrer em Faro, na livraria Leya no Pátio na sexta-feira, 23 de setembro, às 18h30, Daniel Sampaio reiterou ao Observatório do Algarve, a necessidade de “uma maior proteção e mais investimento na família”. 

“Numa situação de viragem, a família é o sítio onde devemos começar, já que não podemos mudar as grandes organizações”, alerta.

Instado a comentar o impacto que a austeridade pode vir a representar para as famílias e em especial para as crianças e adolescentes, o psiquiatra defende a necessidade de uma “educação do caráter”.

“A sociedade organizou-se para a posse e para o imediato, na ilusão do capital e do virtual (internet) ”, critica. Agora que “já não há dinheiro para as prendas” importa investir nos valores: dar mais atenção aos pais, aos irmãos, aos avós. E quanto mais cedo melhor.

Para ele, a primeira infância, até aos três anos, é um período crucial do desenvolvimento infantil considerando que “investir nesta idade previne problemas futuros” e dá como exemplo o fato de muitos pais não criarem, por exemplo, o hábito de boas maneiras à mesa. “Parece pouco, mas indica atenção aos outros, algo que se tem vindo a perder”.

E reforça o conselho sobre o exercício da autoridade dos pais, como um fator essencial para a educação e o equilíbrio familiar.

Há mal-estar entre os adolescentes
Mas a crise já está a provocar baixas entre os mais novos. “A consulta dirigida aos adolescentes, no Hospital de Santa Maria, já tem lista de espera, embora estejamos a admitir cerca de 20 novas consultas mensais”, exemplifica.

A chave continua portanto a ser a educação, mas também “empenhamento e responsabilidade” em que se torna necessário “dar mais atenção às pessoas” como um dos valores que a sociedade precisa de recuperar. “Se não chegarmos lá nesta geração, será na próxima, mas defendo a necessidade de nos preocuparmos com o que nos rodeia”.

O novo título de Daniel Sampaio aborda questões relacionadas com as famílias o seu inter-relacionamento, tão variadas quanto a ocupação dos tempos livres ou o direito a ser criança, mas também os conflitos, prémios e castigos, as novas drogas ou a dependência da internet.

Nas escolas, desde as novas propostas educativas à questão do bullying, passando pelo papel de pais, professores e psicólogos, os temas são igualmente abrangentes.

A intervenção do Estado (e os seus limites) e ainda a questão do compromisso, enquanto forma de estar e a busca da felicidade ou escolhos com que se deparam pais, filhos e famílias, são igualmente objeto de reflexão.

O novo título do conceituado psiquiatra e terapeuta familiar é editado pela Caminho/Leya e servirá de mote à próxima sessão da iniciativa “Conversas de fim de tarde” no Pátio, a qual oferece uma oportunidade de debater com um especialista os problemas das famílias e dos jovens, alguém que acredita “na possibilidade de melhorarmos as famílias e as escolas se nos dedicarmos de facto à sua transformação quotidiana”.

Com uma vasta obra já publicada, Daniel Sampaio nasceu em 1946, em Lisboa e formou-se em Medicina em 1970, tendo concluído a especialidade em Psiquiatria em 1976 e o doutoramento na mesma área dez anos depois.

É professor catedrático de Psiquiatria na Faculdade de Medicina de Lisboa e Chefe de Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde coordena o Núcleo de Estudos do Suicídio. Coordena, igualmente, neste hospital, o atendimento de jovens com anorexia e bulimia nervosa.

Foi um dos introdutores, em Portugal, da Terapia Familiar, a partir da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, fundada em 1979.

Fonte: Observatório do Algave

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