segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Quase 70% dos alunos da última série do Ensino Fundamental em SC dizem ter sofrido bullying

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Quase 70% dos alunos da última série do Ensino Fundamental em SC dizem ter sofrido bullying Jean Pimentel/Agencia RBS
Para especialista, causas do constrangimento social vão além do que pode ser enxergado
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS

Sem especificar motivos ou causas, 68,1% dos alunos catarinenses do 9º ano do Ensino Fundamental afirmaram já terem se sentido humilhados por provocações de colegas. O dado que coloca o Estado na primeira colocação dessa estatística específica está disponível na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi divulgada nesta sexta-feira. Em Santa Catarina, foram ouvidos 3.615 estudantes de 145 escolas públicas e privadas.

Nesse recorte, Santa Catarina ficou acima da média da região Sul, de 63,4%, e também da proporção nacional, cravada em 61,1%. Nas outras especificações referentes ao bullying sofrido — cor ou raça, religião, aparência do rosto, aparência do corpo, orientação sexual e região de origem —, o Estado não figura entre os primeiros da lista, exceto quando a motivação é a localidade de onde o estudante veio: 1,5% frente à média nacional de 1,3%.

A pesquisadora integrante do Núcleo Vida e Cuidado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ana Maria Borges de Sousa, diz que o constrangimento social vai além do que pode ser enxergado e aponta possíveis motivações para o bullying que os alunos catarinenses dizem ser vítimas. 
— A pobreza tem uma implicação muito forte na questão da singularização sujeito. Pelo aluno estar mal vestido, mal cheiroso, cafona, ou fora do padrão. Ou porque família tem aspecto diferenciado. Ou o aluno tem deformação físico-mental. São aspectos simples, como a casa que o adolescente mora e alguém conhece, que pode desencadear. Essas pistas os pesquisadores tendem a não incorporar, mas elas devem ser trabalhadas, porque a violência que resulta pode impactar em agressividade, quietude e dificuldade de aprendizagem. 
Para a coordenadora do Programa Saúde na Escola em Florianópolis, Giorgia Wiggers, mais importante que a percepção de bullying por parte do aluno é aquela apontada pelo diretor da escola. 
— Precisamos saber como esses profissionais enxergam esse problema e, principalmente, como lidam e como tentam combatê-lo. 
Essa é a primeira edição da PeNSE em que a amostragem foi estendida ao interior. Conforme o coordenador estadual da pesquisa, Dárcio Borges, a intenção é que nos próximos a expansão seja ainda maior. 
— Daí, sim, poderemos fazer as comparações, como a Organização Mundial da Saúde recomenda. Atualmente só podemos comparar evoluções ou retrocessos no recorte de capital.
Em 2015, foi instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying) em todo o território nacional — considerado um marco jurídico de combate ao bullying e a primeira lei nacional que tem como objetivo prevenir e combater a prática. Segundo o governo federal, a intimidação sistemática é caracterizada quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda, a intimidação sistemática na rede mundial de computadores (ciberbullying), para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.
Percepção da imagem corporal
O IBGE também questionou os estudantes a respeito da imagem corporal. No ranking, os estudantes catarinenses aparecem em terceiro lugar entre aqueles que mais se achavam gordos ou muito gordos. O recorte por gênero permite avaliar que as estudantes meninas (25,3%) enxergam-se de maneira pior do que os estudantes meninos (15,9%). Rio Grande do Sul e Paraná estão no topo da lista e Maranhão no final. 

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