segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Estudante transgênero denuncia página de rede social por difamação

Renata Marconi*Do G1 Bauru e Marília

'Ódio gratuito', diz adolescente que se identifica como transgênero não binário.
Mãe incentivou registro na polícia de Bauru : 'Não pode abaixar a cabeça


Publicação e comentários ofensivos foram denunciados (Foto: Reprodução/Twitter)Publicação e comentários ofensivos foram
denunciados (Foto: Reprodução/Twitter)
Com o apoio da mãe, uma adolescente de 17 anos criou coragem para denunciar uma página no Twitter que usou suas fotos para difamar sua identidade de gênero. A estudante de Bauru(SP), que se declara transexual não binário, que é quando a pessoa não se identifica com os gêneros masculino e feminino, foi alvo de comentários transfóbicos e registrou um boletim de ocorrência. Segundo a polícia, que investiga o caso, a ocorrência foi registrada como delito de informática por difamação.
“Muitos casos as pessoas passam por isso e ninguém denuncia. Essas piadinhas não podem continuar. Minha mãe falou que eu não tenho que parar de me expor, que ficar com medo, que tinha que registrar um boletim de ocorrência”, conta a adolescente, que não será identificada para preservar sua integridade.
Duas fotos da estudante foram usadas na rede social “Antes e Depois da Federal” para mostrar a mudança. A publicação foi retirada nesta quinta-feira (18), mesmo assim a mãe da adolescente, Carla Patrícia Juraci de Melos, acredita que não pode haver impunidade nesses casos.
“A gente acredita que pode ajudar outras pessoas, isso não pode acontecer novamente. Muita gente comete suicídio por causa de bullying e está na moda bullying virtual. Não foi só por ele, mas por muitos. O dever da mãe é proteger. Nós somos iguais perante a lei e a gente não pode abaixar a cabeça. Tudo na vida é a base de luta”, acredita a mãe.
'Eu chorei por um tempo', conta adolescente ofendida na web (Foto: Renata Marconi/G1)'Eu chorei por um tempo', conta adolescente ofendida na web (Foto: Renata Marconi/G1)
Estudante registrou boletim de ocorrência após ofensas (Foto: Renata Marconi/G1)Estudante registrou boletim de ocorrência após
ofensas (Foto: Renata Marconi/G1)
A adolescente foi mais uma vítima dos crimes pela internet. Ela contou ao G1 que está acostumada a ser ofendida na rua simplesmente por passar, mas que a primeira reação às ofensas na internet foi de espanto e vulnerabilidade.
“Muitos comentários diziam que eu tinha que morrer de Aids, outras ofendiam minha mãe e meu pai e pessoas que são como eu. Vi como estava exposta para as outras pessoas, minha vida estava exposta. Eu chorei por um tempo até parar e perceber que tinha que fazer alguma coisa. Muitas pessoas ali têm ódio de quem eu sou e é um ódio gratuito, porque eu não tenho uma diferença grande. Tenho as mesmas necessidades de aceitação. Sentir que elas estavam ali só para me odiar não foi fácil, foi uma carga bem pesada”, desabafa.
A publicação foi compartilhada por diversos usuários, que também podem responder na Justiça, segundo o presidente da comissão de direito digital da Ordem dos Advogados (OAB), Maurício Ruiz, já que é possível rastrear todas as pessoas que fizeram comentários discriminatórios e identificar todas que "curtiram" o assunto.
“O crime eletrônico é o mesmo crime do crime real, ele apenas recebe este nome por ter sido praticado no meio digital. O ato de curtir ou compartilhar significa que concorda com a ideia e está reproduzindo para o mundo”, explica o advogado Maurício Ruiz.
Já a adolescente quer apenas que a justiça seja feita e ela possa continuar a vida. “Quero que elas entendam que o que elas fazem de errado tem uma consequência, que elas estavam tirando sarro da minha transição. Elas precisam entender que o que elas me fizeram passar não é uma brincadeira, é uma violência.”
*Com informações de Giuliano Tamura/TV TEM.
Advogado diz que quem curtiu também poderá responder pelo crime (Foto: Renata Marconi/G1)

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